O templo está de volta – Main Room do lendário clube de Itajaí teve seu retorno após mais um ano do incidente

Tags: , , , , , , ,
Por em 9 de abril, 2024 - 09/04/2024

Fotos por: Maira Dill

Parecia algo inalcançável, porém, pouco mais de um ano após aquele trágico acidente que assolou o mundo da música eletrônica com repercussões a nível internacional, o templo reinaugurou sua lendária pista principal. Foram meses de espera até alguma notícia, até um anúncio oficial apresentando o novo projeto. Depois, mais alguns meses sem sabermos quando de fato estaria tudo pronto. Passou o intenso verão catarinense e a pista Garden segurou as pontas da melhor forma que poderia. 

Após o carnaval, finalmente a data de 29/03 foi apresentada e uma corrida contra o tempo se estabeleceu por parte do enorme time por trás deste projeto. Na semana, a expectativa tomou conta e a vontade de pisar no meu lugar favorito só aumentou. A curadoria apostou em trazer como headliner máximo o lendário Paul Kalkbrenner com seu live cheio de faixas que marcaram uma geração. Era um daqueles poucos nomes que ainda faltava riscar da lista nesses 22 anos de história como um dos principais clubes do circuito internacional. Se formos pensar nos maiores nomes da história da música eletrônica conceitual, quase todos tiveram pelo menos uma passagem no templo. Paul circundava a mente dos clubbers aficionados pelo filme Berlin Calling, onde ele é o protagonista de uma história que poderia ser real. 

Desde a apresentação do projeto, com o slogan O retorno às origens’, vários detalhes da reformulação chamavam atenção, principalmente em relação à circulação e ocupação dos espaços. Abaixo destaco alguns pontos do novo Warung Beach Club:

  • Ao entrar efetivamente no clube, impressiona a ampliação da área embaixo da pista, sendo mais larga e com acesso a uma lateral que antes era reservada aos funcionários. 
  • Um enorme bar de drinks no meio, outro enorme bar da cerveja patrocinadora master, além de muita rapidez na compra de tickets. 

  • A pista veio um pouco mais para trás em relação a rua e a famosa escada que ligava ao front da pista não existe mais. Ainda em baixo, me chamou muito atenção a qualidade dos revestimentos para ocultar as vigas de concreto da estrutura. 
  • Subindo as escadas e chegando na pista, o primeiro impacto é na altura do teto, que ganhou espaço ajudando na circulação de ar. Eu particularmente acho que o DJbooth deveria ser um pouco mais alto, facilitando a visualização de quem está mais ao fundo para o artista. Mesmo assim, a vista do DJ para o mar ficou incrível, com a pista um pouco mais alta. 
  • Ao fundo, tudo de vidro, para garantir que o som não vaze, tendo acessos laterais para ir a sacada pegar um ar.

  • Outro grande destaque, talvez um dos mais importantes, é o acesso aos camarotes, que agora são feitos pelos fundos através de um corredor extra. Um antigo gargalo do projeto original que atrapalhava muito quem estava na pista com o entra e saí de pessoas. Agora, os camarotes tem uma abertura maior, com possibilidade de ver o DJ tocando e de fato, não vi mais aquele ‘’empurra empurra’ de pessoas andando para todos os lados. 

  • O que falar da decoração? O lendário globo verde no meio da pista estava lá, com uma cópia no Garden também. Eu senti falta dos icónicos lustres balançando em cima do DJ, algo que pode ser feito ainda.
  • Dezenas de monumentos vieram especialmente da ilha de Bali na Indonésia, com processamento artesanal, algo realmente único, que faz tudo ser mais especial. O famoso dragão atrás do DJ, a bandeira do Brasil ao fundo, o vidro do palco… detalhes que fazem parte da memória coletiva de todos. 
  • A fachada do clube também é um destaque, olhando da rua, ficou bem mais imponente, sem perder a beleza do triângulo para frente. 

  • Um ponto que merece atenção são os banheiros femininos, que foram insuficientes neste dia de casa lotada. Claro que estamos falando da primeira noite, onde foi um grande teste e com certeza muitas coisas ainda serão melhoradas. 
  • Sistema de som: a qualidade das caixas L-Acoustic é realmente impressionante, com linhas médias cristalinas, porém, eu senti falta de punch grave no som, aquele bass que faz o público vibrar por si só, uma marca registrada ao longo da história do club. Acredito que esse ajuste deve ocorrer nos próximos eventos, afinal o primeiro teste com público foi feito na hora lá. 

Sobre a noite

Quando cheguei, ouvi um pouco da residente Eli Iwasa no Main Room. Ela estava tocando seu som característico com variações de techno e house até o Indie Dance. 

Sempre muito dançante e convidativo. Antes dela havia tocado o Maz, um dos destaques nacionais que foi influenciado pelo clube e respeita demais a oportunidade de estar ali. 

No Garden, o expoente Leozinho fez as honras, com certeza o DJ residente mais importante da história do club, estando presente desde sua concepção. 

Depois desci ao Garden, que estava cheio também e pude conferir o b2b do lendário Timo Maas com Vintage Culture.

Penso que esse b2b poderia ter sido no Main Room, por Timo ser o primeiro headliner do clube lá em 2002. Trazê-lo da Alemanha para data única e não ter a chance de tocar no Main, foi um tanto estranho. 

Vintage logo tratou de acelerar a pista e Timo acompanhou com extrema elegância. Eles não se comunicaram muito, porém conseguiram tocar em uma linha aproximada. 

Na hora que Timo iria tocar sozinho, podendo fazer um set ao seu modo, Vintage continuou no b2b, o que eu achei um tanto deselegante. Destaque para um edit de ‘’Enjoy The Silence’’ do Depeche Mode no final do set. 

Subi nesse meio tempo para ouvir por 45 minutos Paul fazendo seu live com o público bem calmo. Todos estavam felizes, mais uma lenda trazendo seu som até Itajaí. Só fiquei imaginando o quão grande é nossa cena ao longo de tantos anos com nomes da elite global vindo até um lado desconhecido do sul do Brasil. 

Paul conseguiu tirar aplausos e alguns momentos de vibração, especialmente nas faixas ‘’No goodbay’’, ‘’Te Quiero’’ e ‘’Sky And Sand’’ mais ao final, seu maior sucesso, penso eu. Não cheguei a ouvir, mas adoraria que tivesse rolado ‘’Gebrunn Gebrunn’’, uma das faixas que eu mais gosto dele. 

Ouvi comentários de que foi um live de pura classe, outros de que suas transições demoradas atrapalharam a conexão com o público. 

Eu prefiro dizer que não fui focado em vê-lo e perdi uma chance meio única, porém, meus anos ouvindo as produções do Timo, que é de uma vertente mais progressiva, me fizeram passar mais tempo no Garden.

O residente Zac assumiu o Garden às 04h e muitas pessoas subiram para ver Vintage fechar o Main. Eu resisti, queria prestigiar um dos melhores DJs do país na atualidade, além de um grande amigo. Seu set variando entre melodic e progressive house mais obscuro foi muito bom, conseguindo até aumentar o público novamente ao criar um clima místico de ‘’som de Warung’’. Destaque para a faixa ‘’Can’t Stay’’ de Enamour & Paraleven, que momento! 

Foram de fato as 2 horas que mais consegui me concentrar em um DJ. Ponto para ele, que é Catarinense e estava ali, fechando a pista nesta data tão emblemática. Uma vitória para todos os DJs do estado, que por muitos anos não conseguiam espaço na própria cena clubber. 

Às 06h subi para o Main novamente e aquela vibe da manhã que não há rival no mundo estava presente. O sol estava tentando vencer algumas nuvens distantes no mar, e uma multidão na sacada esperava por ele aparecer e começar a invadir o triângulo de madeira. 

Não demorou muito e isso aconteceu, criando os primeiros clicks de um dia histórico para a cena clubber mundial, que resiste e continua se reinventando em um novo mundo pós pandemia. O Templo mostrou sua força, como deveria ser agora que está no máximo e pronto para receber novas noites que serão as nossas próximas memórias da vida. 

It’s all about groove

Tags: , , , , , , ,