A emergência de novos epicentros na cartografia da cena no Brasil desafia a predominância histórica das grandes capitais do sudeste, evidenciando um processo de descentralização que, aos poucos, vai se desenhando. Neste contexto, a Oke Records, diretamente de Santos/SP, vem, desde 2012, emergindo como uma força catalisadora, redirecionando os holofotes para a Baixada Santista. Esse movimento não só questiona as dinâmicas convencionais de distribuição cultural e influência artística, mas também reivindica espaço para vozes e sonoridades que também merecem estar no radar dominante. O lançamento do V.A. DELAS Vol. 01 pela gravadora marca um episódio significativo dentro dessa trajetória de reconfiguração espacial.
Optando por uma composição exclusivamente feminina, o compilado traz uma curadoria precisa em termos de pluralidade sonora. Cada uma com a sua individualidade e canais de referência. Entre as artistas, Judith inicia com “Call me Baby“, trazendo à compilação uma mescla de versatilidade. Luzes ondulantes criam uma sequência acalorada de elementos borbulhantes. As batidas trazem, em conjunto, um vocal ghetto, com pinceladas de Electro. Dançante, inquieta e amplamente contemplativa. Na sequência, Leesa com “Digital Era” e sua metamorfose do underground em uma faixa rica em texturas ritmadas e explosivas. Sons alarmantes são contrastados por batidas de puro groove. Pesando o V.A., no bom sentido, Luíza Lauzi quebra tudo com “Drowns” e sua complexidade que transita entre universos de introspecção e profundidade, acompanhadas de subs pesados, aumentando o BPM ao qual estávamos acostumados. Rhafaela Akl aflora a sequência com “Danse” e sua delicadeza. Vocais franceses rodopiam em uma energia solar e diurna, fazendo o corpo e o espírito sentirem as frequências. Por fim, Rose Aloy chega com sua experiência em “Resiliência”. É como se a contemplação de tudo que foi trazido se enraizasse em pés pesados a caminho de uma celebração poderosa e digna de transformações.
Ouça agora:
It’s all about groove