Terceira edição do DGTL não consegue entregar experiência de um festival, mas entrega line-up impecável com artistas renomados

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Por em 14 de maio, 2019 - 14/05/2019
Escrito por: Tàtilla Blanco e Renan Bastazini

 

O line-up do festival ainda é o fator decisivo na hora da compra do ingresso, mas não é só isso que atrai o público para um festival. Uma pesquisa do projeto Pulso realizada com 3 mil pessoas, mostra que 64% dos entrevistados se interessam mais pela experiência positiva que o festival pode proporcionar do que outra coisa. Isso significa investimento em estruturas que ofereçam elementos para isso, tais como: decoração, painéis que sirvam de cenário para selfies, área de descanso, praças de alimentação, lojas com itens de recordação do evento ou até instalações e perfomances artísticas. No quesito experiência, o DGTL falhou feio e não conseguiu realizar o que fez em edições passadas.

 

Porém na música, qualidade de som e curadoria o festival se superou como em todos os anos e podemos dizer que nossa experiência foi sensacional por esse quesito,  pois sentimos as batidas excelentes do sistema de som da marca francesa L-Acoustics, viajamos nas luzes das placas de LEDS montadas nos palcos e curtimos a atmosfera dos galpões industriais.

 

Foto: Thiago Xavier

 

O evento aconteceu no Mart Center, em São Paulo. Essa é a terceira vez que o festival é realizado em local inédito, essa mudança de local é sempre positiva, fazendo com que a curiosidade e expectativa com o festival aumente. O line-up anunciado deu o que falar desde o início, pois trazia grandes nomes mundiais que o público ja estava pedindo a muito tempo em um mesmo festival como: Amelie Lens, Paula Temple, Jeff Mills, Bonobo e Richie Hawtin, contrastando com destaques nacionais como: Amanda Mussi, Eli Iwasa e outros.  O evento era dividido entre galpões e espaços ao ar livre, inclusive esses espaços abertos eram maiores que os das edições anteriores. O festival contou com mais de 20 artistas divididos em seus três palcos: Modular, Generator e Frequency, e cada palco tinha sua característica bem pontuada e uma uniformidade no line-up difícil de ver em outros festivais do gênero.

 

Estrutura/Organização

Um dos grandes erros do festival foi não saber aproveitar o espaço que tinha, pela falta de sinalização e iluminação o público ficou bem perdido no local, tendo até dificuldades para achar o palco Generator que ficava mais afastado.

 

Outra dificuldade sentida, na nossa opinião a mais difícil na hora de curtir realmente a música foi o calor dentro dos galpões que abrigavam as pistas Modular e Generator, que fazia com que pingasse água do teto e muitas pessoas não conseguiam ficar dentro das pistas para curtir seu artista favorito por muito tempo.

 

Outro ponto negativo do festival, foram os caixas e os banheiros. Todas as transições realizadas dentro do DGTL foram feitas pelo sistema Cashless, o cartão pré-pago custava R$ 5,00. Além dos caixas fixos, era possível encontrar caixas móveis espalhadas pelo evento, porém, durante todo o evento tinha uma grande fila nos caixas, o público perdeu bastante tempo e paciência para poder comprar o que queria consumir.

 

Após comprar os créditos, o público ainda tinha que enfrentar mais filas para comprar os itens nos bares que eram espalhados tanto nas áreas externas, como dentro das pistas, até que o número de bares disponíveis pareciam suficientes, mas talvez por causa do sistema de Cashless acabava gerando filas demoradas.

 

Quanto aos banheiros químicos, a questão foi com a sujeira e o mau cheiro, que era bem forte. Mais para o final do evento, você ainda tinha que ficar desviando das poças de “água” para conseguir entrar nas cabine do banheiro. Hoje vemos eventos oferecendo banheiros em contêineres para o público, o que gera um conforto maior e fica mais fácil de ser limpo, não custa o evento começar a investir nisso, esse é um exemplo do que melhora a experiência do público, ainda mais que a marca DGTL tem toda uma preocupação com o meio ambiente, isso com certeza faria a diferença.

 

Foto: Julio Campos

 

O festival também errou ao não ofertar conforto adequado para as pessoas. O festival contou com 22h de evento, entre o festival e after party, e ofereceu pouco espaço para o público descansar, muitos tinham que sentar no chão do evento para poder descansar.

 

Os pontos fortes do festival em edições anteriores foram a decoração e intervenções artísticas e neste ano o evento deixou a desejar. Nos anos anteriores tiveram diversas exposições e nesse não vimos tantas artes, tinha apenas um espaço com projeção e a entrada com o letreiro.

 

Inclusive, a intervenção artística foi algo que gerou polêmica para o festival. O performance Loïc Koutana divulgou em seu perfil no Instagram, as condições precárias que o festival ofereceu para os artistas apresentarem seus trabalhos. Recentemente, o festival publicou no Facebook uma nota para esclarecer o caso e pedir desculpa para os artistas.

 

 

Line up e Pistas

 

 

Algo que o festival sempre mostrou saber fazer muito bem é a curadoria do line up e esse ano não foi diferente. A programação do line up era equilibrada, combinando nomes conhecidos com talentos emergentes, além dos artistas nacionais, que mostram cada vez mais a força dos DJs brasileiros. Como já falamos, o evento contou com mais de 20 artistas divididos entre 3 palcos e o after party. As 3 pistas contaram com excelentes sistemas de som e alinhados com boas apresentações dos DJs acabaram salvando o festival, fazendo com que a experiência do público não fosse toda negativa.

 

Acabamos optando ficar a maior parte do tempo no palco Genarator, e abaixo você confere o nosso olhar sobre os artistas que acompanhamos.

 

Amelie Lens

 

A belga Amelia Lens é uma das grandes revelações dos últimos anos, tanta repercussão de suas apresentações gerou uma grande ansiedade para vê la no DGTL, ainda mais sendo o estilo de techno que mais gostamos. Seu BPM se manteve mais alto que o normal durante os 120 min de seu set, como em toda apresentação ela manteve muita energia e dança, o que animava mais o público e não decepcionava em nada o que todo mundo via, ela mostrou porque é uma das DJs mais requisitadas nos principais eventos e festivais pelo mundo.

 

Paula Temple

 

Paula Temp veio com bastante novidade para o DGTL, já que dias antes lançou seu álbum com 12 faixas. O álbum “Edge Of Everything foi lançado no dia 3 de maio, pela Noise Manifesto, tanto na versão digital como em vinil. A experiente DJ britânica apresentou um set com uma vibe mais obscura, bastante timbres de sintetizadores e batidas que impôs uma pressão implacável.

 

Jeff Mills

 

Não tem como descrever o que Jeff Mills consegue fazer com a pista. Um dos fundadores do coletivo Underground Resistance trouxe uma seleção de faixas que misturava techno de Detroit e techno industrial, sua mixagem era ágil na sua TR-909, foi um show para encantar e dançar.

 

Nas duas outras pistas acabamos indo poucas vezes, mas podemos deixar nossa breve impressão:

 

A Modular entramos assim que chegamos, reparam0s que estava com uma grande estrutura e com placas de LED e refletores espalhados na parte da frente do palco, acompanhamos uma parte do set do alemão Recondite que estremecia o chão com seu techno obscuro e graves firmes que envolvia o público que dançava freneticamente.

 

Na pista Frequency passamos para dar um ar, era realmente um palco incrível bem aberto e ao ar livre, dava sensação de liberdade e saía do calor dos outros palcos, notei que palco estava bem maior que em outras edições. A proposta de som era bem diferente dos outros palcos, era um som mais voltado a house music mas acabava passando pelo techno em alguns momentos.

 

After ou Cansaço

 

O after tinha tudo para ser o um rolê super legal que iria fechar o festival com chave de ouro, com atrações de peso como: Mind Against , KiNK, Henrik Schwarz (LIVE), Etapp Kyle.

 

Porém, desde o início o público não sabia onde seria o local do after, apenas sabia que seria dentro do complexo do festival, a partir das 04h o público foi retirado das pistas em direção a saída e divido em quem iria embora e quem tinha a pulseira para o afterparty e de forma brusca, foi direcionado como gado para um fila desordenada com as mãos para cima (para identificação da pulseira), com funcionários totalmente despreparados e mal educados com todos.

 

Além do público, toda a  imprensa que estava fazendo a cobertura do evento enfrentou problemas na entrada do afterparty, e toda essa dor de cabeça para dar a volta no complexo e voltar para pista Generator, local onde foi o after, ou seja, foi vendido o valor de dois ingressos por uma mesma festa.

 

Conclusão

 

Após mais de 20 horas de evento a terceira edição do DGTL chegou ao fim. Como falamos no início, o que marca o público é a experiência do evento e muitos tiveram essa experiência negativa em vários aspectos mesmo que o Line-up tenha sido o melhor que tenhamos tido nesse ano no Brasil (em nossa opinião). Fica o ponto de atenção para o festival, que quando veio com sua primeira edição, chegou a surpreender outros festivais brasileiros com sua organização e diferencial e agora peca e sofre com pontos que o publico já não aceita mais quando paga para ter uma boa experiência. – RENAN BASTAZINI 

 

O DGTL era para ser o festival do ano, mas no quesito organização se afundou demais.

Eu não posso dizer que foi minha pior experiência, porque realmente não foi! Eu me diverti muito, com pessoas muito especiais, ouvi DJs que queria ouvir a muito tempo, dancei como queria dançar e fui muito bem recepcionada pela assessoria como jornalista (menos no after), mas claro que fico triste demais que um festival tão querido e já renomado tenha errado tanto em coisas tão essenciais como filas para bebidas, banheiros precários e desrespeito com artistas nacionais.

 

Enfim, gostaria muito que o festival tivesse outras edições em terras brasileiras, mas se for para continuar dessa forma, com a mesma falta de respeito que festivais nacionais já tem com o público brasileiro, prefiro que repensem, se reestruturem novamente e voltem em alguns anos com mais profissionalismo como vieram na sua primeira edição! – TATILLA BLANCO

 

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