Por que Nina Kraviz está perdendo datas em festivais pelo mundo?

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Por em 27 de maio, 2022 - 27/05/2022

Uma das artistas mais influentes e com mais personalidade na cena techno, a inconfundível Nina Kraviz, nasceu em Irkutsk, Sibéria, Rússia, em meados dos anos oitenta (ela nunca revelou sua idade em entrevistas). Nina teve um contato precoce com a música, seu pai era um verdadeiro amante de sons, tinha uma extensa coleção de rock, pop e jazz, então a música estava sempre em sua casa.

Suas primeiras influências foram bandas de rock com componentes eletrônicos, conhecidas como rock psicodélico, como Pink Floyd ou Led Zeppelin. No entanto, seu primeiro contato com a música eletrônica foi anos mais tarde, através do programa de rádio local o qual apresentava.

Ao entrar na adolescência, começou a descobrir o Acid House, que mais tarde se tornaria à sua maneira particular de entender a música eletrônica. Da mesma forma, ela também começou a absorver Techno Detroit, Chicago House, IDM, ambiente, EBM, funk e Classic Disco.

Atualmente, poucas figuras públicas da música eletrônica mostram sua essência de forma tão pura e real com a música como Kraviz, mas  isso não acontece com outros campos importantes de sua vida, como seu posicionamento perante os acontecimentos globais, sendo um dos nomes mais influentes para seus fãs.

A mais de 90 dias a guerra da Ucrânia começava e o mundo ficou perplexo com a crueldade com que a Rússia instaurou medo e depravação em seu país vizinho. Prontamente artistas e personalidades mundiais se posicionam, unindo-se perante a barbárie e o caos. A comunidade eletrônica trabalhou em prol de instituições e debateram o futuro da nossa cena na Ucrânia, já que nosso papel como movimentadores da música eletrônica é fazer com que a música fique viva em qualquer lugar.

Em março, mais de 100 entidades da cena, incluindo gravadoras, festivais e artistas, assinaram uma carta aberta pedindo aos organizadores da música que cortassem laços com artistas russos que não resistiram ativamente ao governo de Putin.

“Se você cria um espaço para artistas russos, você apoia um país agressor, que está fazendo tantas coisas horríveis”, disse Maya Baklanova, jornalista musical ucraniana que ajudou a escrever a carta, à TIME. “Os artistas russos mostraram sua ignorância e seu silêncio. Mas se você tem o apoio das pessoas, então você deve ser responsável por suas mensagens”, completa a jornalista.

Durante toda a repercussão da guerra, uma artista importante do local ficava calada, Nina Kraviz, que não emitiu uma nota sobre o assunto, ignorou os acontecimentos no seio de sua comunidade.

Não estamos aqui para julgar seus motivos, afinal seu país proíbe protestos anti-guerra, slogans e jornalismo independente, bem como as ameaças potenciais que vêm com ser um dissidente russo, o fato é, ela não se manifestou em nenhum momento para ajudar em causas humanitárias, que seria o mínimo em seu papel como influente personalidade artística.

O silêncio de Kraviz sobre a guerra, dividiu a cena eletrônica, em um artigo recente, a revista Time coletou respostas de vários membros proeminentes da cena da música eletrônica na Ucrânia e na Rússia, incluindo a DJ ucraniana Nastia e o DJ russo Buttechno, que criticaram o “silêncio” de Kraviz e pediram que ela esclarecesse seus pontos de vista. sobre o presidente russo Vladimir Putin e a guerra.

A história piorou ainda mais quando foi trazido à tona histórias passadas, onde ela parecia se posicionar pró-putin. Uma delas é uma foto, tirada no Coachella em 2014, de Kraviz posando com um recorte de papelão de Vladimir Putin, segurando uma arma com uma flor no cano. De acordo com a assessoria de imprensa de Kraviz, a flor na arma é símbolo da paz desde 1967 e o recorte foi “um dos muitos” do festival.

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Outro incidente controverso envolveu um meme, twittado por Kraviz em 2016, de Vladimir Putin em uma rave. O texto que acompanhava dizia: “Não subestime um russki :)”. De acordo com a assessoria de imprensa de Kraviz, ela enviou o tweet “após um assunto pessoal” e o meme e o texto “não têm nada a ver com posicionamento”.

Com tudo isso na última semana, três festivais importantes cancelaram a apresentação da russa em seu line-up. Nina Kraviz estava escalada nas próximas semanas para o The Crave (Holanda), Detroit’s Movement (Estados Unidos) e PollerWiesen Dortmund’s (Alemanha), os três festivais emitiram declarações separadas nos últimos dias, confirmando a notícia e nenhum festival apontou uma razão exata para o cancelamento.

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A notícia vem dias depois que Kraviz finalmente emitiu um comunicado sobre a guerra da Ucrânia, a qual atraiu grande críticas da cena como um todo. “Sou musicista e nunca estive envolvida em apoiar políticos ou partidos políticos, não pretendo fazer isso no futuro”. 

A declaração de Kraviz também fez referência à recente separação entre sua gravadora трип e a Clone Distribution. Na declaração da distribuidora, o fundador, Serge Verschuur, explicou sua decisão, escrevendo: “Os assassinatos, saques, estupros e destruição em nome da Rússia continuam enquanto Nina tenta continuar sua vida como se nada tivesse acontecido e sem mostrar nenhum remorso por sua posição pró-Putin e sua bajulação CCCP/URSS… O desinteresse e a positividade tóxica na cena techno não é o que nós, Clone Records, representamos. A cena house e techno defendia as minorias, os menos privilegiados, os oprimidos. É construído por minorias e pessoas oprimidas.

A gravadora трип informou a Clone sobre a mudança para a nova empresa de distribuição com efeito imediato no sábado, 14 de maio. Vamos observar os próximos capítulos desta história e como a cena se movimentará perante essas situações.

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