Qual a importância das residências na carreira de um DJ? Rodrigo Ferrari comenta

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Por em 2 de setembro, 2021 - 02/09/2021

Durante a trajetória profissional de um DJ, muitos degraus são levados em consideração sobre o que significa ser realmente bem sucedido. Fatores pessoais e que oscilam de acordo com o perfil, mas em suma podemos rapidamente listar alguns balizadores: viver só disso, um bom cachê, gigs internacionais, experiências culturais, grandes clubes, abrir para um ídolo, um b2b com um big name, uma agenda lotada, premiações e uma residência de respeito. O último nem sempre beira o topo da lista de metas, mas é um dos que mais pode propiciar uma profissão estável, entre outros fatores. 

Para exemplificar muito bem essa análise temos Rodrigo Ferrari, um veterano da música eletrônica brasileira com reconhecimento internacional e respaldo o suficiente para comentar sobre: “Falo com gosto sobre este assunto, afinal, minhas residências, desde a primeira em 1994 nas festas que rolavam no clube Ipê, em São Paulo, me deram uma base sólida que me sustenta nesses 29 anos de carreira. Aprendi a ter uma postura profissional antes de virar um artista ou até mesmo de ter o meu nome estampado em um flyer. O restante foi apenas consequência do esforço”, explica Ferrari.

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Além disso, ter uma residência em uma festa ou clube é um fator simbiótico: este ou estes profissionais possuem aspectos consonantes com o local, com o público, com a história e desdobramentos muito bacanas podem acontecer, se o profissional estiver ligado. Não, você não será só o cara ou a mina que abre, que fecha ou que cumpre tabela, ao contrário, você é peça-chave e, por muitas vezes, a persona daquele lugar ou evento. 

Isso sem levar em consideração a rede de networking construída, algo imprescindível para sua carreira profissional, tanto que Rodrigo Ferrari também bate nessa tecla. “Antes das redes sociais, quando o networking era bem mais difícil, tive algumas residências importantes como a do club Anzu, entre 1997-2001, e mesmo sem um instagram para marcar as pessoas, acabei me tornando um cara conhecido e recebi a primeira proposta de trabalho de uma agência de DJs”, lembra o DJ.

Rodrigo conta que também teve a oportunidade de fazer alguns dos seus primeiros warm ups para artistas internacionais. “Graças a minha posição como residente, fiz o warm up para a dupla icônica Deep Dish. Já em outro momento mais digital, tive a maior residência da minha carreira com o label espanhol e mundialmente conhecido, Pacha. A brincadeira começou com São Paulo, recebendo praticamente todos os big names internacionais da época, se estendeu pelo Brasil, América Latina, e Europa com quase dez anos consecutivos passando por Ibiza. Aí sim podemos dizer que me tornei a tal ‘persona’ e o networking foi algo significativo e que me trouxe tantos privilégios”, adiciona. 

Outro ponto crucial é a experiência. Dependendo do estágio de sua carreira, a primeira residência pode significar uma verdadeira aula sobre os fatores mais lineares de uma profissão, como comprometimento, pontualidade, proatividade, visão 360º e a famosa escola que ensina você a não ser como determinadas pessoas ou agir de determinadas formas. Quantos artistas comentam que mudariam alguns fatores em seus comportamentos por falta de maturidade no começo da carreira? 

“Falando da minha primeira residência, estamos em uma outra época. Residências mensais não existiam e estávamos lá batendo ponto todos os finais de semana, muitas vezes mais de uma noite. Mal recebíamos DJs convidados na cabine, muito menos internacionais. Mas isso me ensinou a fazer o ‘baile’ de cabo a rabo. Numa residência assim, acaba-se aprendendo a observar o clube como um todo, toda sua engrenagem de funcionamento e como sua música pode ajudar essa máquina girar da melhor maneira”, pontua Rodrigo Ferrari. 

Segundo ele, ser o primeiro a chegar e o último a sair era normal, além de sets que facilmente duravam mais de seis horas e passavam por diversos estilos, não só de música eletrônica. “Tudo isso trazia muito aprendizado e junto uma carga de responsabilidade profissional muito grande. Infelizmente os moldes de uma residência mudaram muito nos últimos anos e tem sido difícil encontrar DJs que praticamente ‘morem’ no clube. Ruim para a cena, que acaba ficando meio carente de bons hábitos nas cabines, uma vez que artistas ou pessoas cheias de ego passem na frente dos profissionais e ditem as regras. Perdi a conta dos arrependimentos e muitos deles perderam a oportunidade de continuar…”.

Por fim, ele reforça que se você está começando agora e se sente seguro, deve mesmo ir atrás e trabalhar para conquistar sua residência. “Com certeza uma residência será seu grande aprendizado em todos os sentidos: seja tirando um copo de bebida de perto do mixer, recebendo e ajudando um convidado ou tendo oportunidades incríveis de testar e transformar músicas desconhecidas em novos hits”, conclui.

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