Como o vinil sobreviveu a pandemia e aumentou seu valor dentro do mundo digital

Tags: , , , ,
Por em 6 de junho, 2021 - 06/06/2021

A crise da Covid-19 gerou muitos problemas para a fabricação e distribuição de vinil, porém a união de lojas, gravadoras e distribuidores fez com que o valor do vinil continuasse seu percurso de valorização e aumento de vendas.

Apesar do consumo de música através das plataformas digitais ser incontestavelmente a forma mais popular de se ouvir música (e também a mais rentável), nos últimos anos o disco de vinil tem ganhado força como o principal formato físico para o consumo de música. Segundo dados publicados pela revista Billboard, os vinis responderam por 26% das vendas de todos os álbuns em formatos físicos nos Estados Unidos em 2019. Na Inglaterra os números também foram animadores, com 4,3 milhões de LPs vendidos, o que representou uma alta de 4,1% em relação ao ano anterior.

No Brasil não existe uma estimativa oficial sobre as vendas de LPs, mas sabemos que houve um ligeiro aquecimento nos últimos anos. O Produtor Pena Schmidt, que também faz parte do Conselho Consultivo da SIM São Paulo, acredita que a alta nas vendas de vinil é algo natural: “Essa tendência já existe há muito tempo. A retomada do vinil como mídia para música já acontece há pelo menos duas décadas, é um crescimento constante. Logo veremos muitas lojas novas de vinil por aí, isso já está acontecendo”.

Mas pensando em consumidores do produto, a maioria provavelmente nunca imaginou o caminho árduo que seu disco favorito percorre para chegar até a hora da compra. Eles apenas olham as paredes cheias de vinis ou o virtual de uma loja online e escolhem seu produto, não imaginam o caminho e as consequências que uma pandemia pode trazer para a fabricação e distribuição de um produto tão raro que vem batalhando seu espaço no mercado a décadas.

Mas calma! Vamos mostrar como é esse itinerário. O jornal O globo, no aniversário de 70 anos do lançamento do primeiro LP, fez uma matéria contando esse caminho para os amantes do bolachão, que você pode assistir a seguir:

Em 2019 e começo de 2020 os LPs estavam em alta, muitos lançamentos nesse formato estavam para entrar no mercado. Quando a pandemia assolou o mundo, tudo ficou prestes a ruir, produtores, gravadores e todo mercado que estava trabalhando e investindo novamente no vinil, ficou suspenso por um período, gerando um pensamento apocalíptico em toda infraestrutura do LP.

“Tudo parou”, as fábricas que usamos foram fechadas; os armazéns e escritórios de distribuição foram fechados. Não havia ninguém e não havia nada. Nosso fluxo de receita para lançamentos físicos naquele trimestre caiu 85%. Foi uma perda muito, muito grande. ” diz Alex Knight, do selo Fat Cat de Bristol.

“Quando todos nós começamos a entrar em bloqueio no final de março de 2020, eu realmente pensei que poderia ser o fim do vinil”, disse Lawrie Dunster, fundador da Curve Pusher, uma respeitada instalação de corte e masterização com sede em Hastings, Inglaterra.

Nos Estados Unidos, os maiores fabricantes de LPs estavam fechados. Havia um problema muito grande para o processo de fabricação, que não obteve muito avanço no processo desde 1960, não era um trabalho que poderia ser feito em home office. Outro problema que surgiu foi com a importação, que disparou em atraso e espaços em voos com custos altíssimos.

Mas todo esse pânico não passou de alarme falso, que surpreendeu todo mercado que a essa altura estava de mãos dadas para superar a fase e o investimento no vinil. O ano de 2020, apesar da pandemia, foi o melhor ano do vinil em décadas; nos Estados Unidos, as vendas de vinis cresceram 46% em relação a 2019 e superaram as receitas pela primeira vez em 34 anos.

As lojas físicas já não tiveram a mesma sorte, por conta das restrições, os varejistas que não estavam elencados como serviços essenciais tiveram suas portas fechadas diversas vezes, algumas lojas menores não conseguiram voltar à ativa depois das restrições, outras ainda tentam com dificuldades.

Ainda assim, graças aos mercados online, as vendas de vinil disparam e continuam em alta levando fábricas a estarem lotadas de trabalho. Desde a introdução comercial de CDs no início dos anos 80 e o surgimento do digital (para não mencionar a pirataria) no final dos anos 90 em diante, o negócio do vinil se acostumou a lidar com turbulências. 

Em 2011, um incêndio atingiu um armazém em Londres cheio de discos esperando para serem distribuídos, já no início de 2020, um incêndio na fábrica Apollo Masters da Califórnia, devastou as cadeias de suprimentos. Obviamente, a pandemia foi um evento terrível que mudou o mundo, mas também é outro em uma série de problemas que a indústria do vinil enfrenta, outro obstáculo que foi superado dentro da história do vinil, que não parece querer morrer tão cedo.

Tags: , , , ,