Sob o alias de LUMERTZ, o DJ e produtor brasileiro decidiu amplificar sua carreira artística e partiu para um continente bem distante do nosso: Oceania. A força propulsora que o moveu para tão longe? O Techno, um dos gêneros que mais arrebatou aficionados e artistas nos últimos tempos.
Atuando na cena local desde 2019, o artista já conquistou alguns feitos consistentes em sua carreira, onde marcou presença em locais renomados como o Club 77, apresentações na WeLove e suas residências na Lucky Presents e na Sentando A Lenha, festa de Porto Alegre que realiza algumas edições na Austrália.
Com apresentações intensas através do gênero e das linhas ácidas, o artista diz ter encontrado a frequência ideal para se expressar, movido principalmente por influências de Detroit e Berlim, dois solos prolíficos para a música eletrônica, especialmente o Techno. Batemos um papo com ele para conhecê-lo melhor e entender suas motivações para cruzar o globo.
GRVE – Olá LUMERTZ, tudo bom? Obrigada por essa entrevista. Vamos do começo, pois é importante saber mais da sua trajetória. Conta um pouco sobre quem é você e qual sua relação com a música… Como chegou na música eletrônica? E por que o Techno?
LUMERTZ – Oi, obrigado vocês pelo espaço para me apresentar e mostrar meu trabalho 🙂
Bom, eu não lembro exatamente como vim parar aqui (risos). Minhas primeiras memórias com música eletrônica são de estar escutando DJ Patife, ainda criança/ pré adolecente. Adorava o estilo de música, porém não tinha nem ideia que se tratava de música eletrônica. Fui realmente entender o que era música eletrônica e começar a frequentar festas e ouvi-la, a partir de 2014/2015.
Meu primeiro contato com Techno veio através do meu irmão que mora em Berlin. Durante uma visita ao Brasil ele me mostrou o estilo, lembro que na época eu achei horrível, não conseguia entender como alguém gostava desse estilo. Após a minha ida a Berlim, ele me forçou a ir numa festa de Techno, foi aí que tudo mudou. Voltei para o Brasil, onde morava na época, com a sementinha do Techno plantada, e quando decidi começar a discotecar, essa mesma começou a se desenvolver, me fazendo ficar cada vez mais fascinado.
Você tem referências em Detroit e Berlim, duas escolas gigantes para todo o artista que decide ingressar na Dance Music. Quem são seus mentores dessas terras?
Dentro dessas vertentes mais clássicas, minhas maiores referências de artistas, dos pioneiros aos contemporâneas são: Robert Hood, Carl Craig, Jeff Mills, DJ3000, Richie Hawtin, Nuno Deconto, DEAS, FJAAK, ANNA, Alex Stein, Nineteen Sines. Todos esses artistas trazem em seus trabalhos coisas que me inspiram em seus diferentes modos e/ou de alguma forma impactaram minha vida para chegar onde estou agora.
Morando sua vida toda no Brasil, é possível notar, agora que você está aí, que a cultura brasileira e nossos costumes influenciam na forma de desenvolver seu som? Ou você sente que está mais conectado a outros pólos como os da pergunta anterior?
Então, acredito que até o momento eu seja mais ligado a Detroit e Berlim que a cultura brasileira, mas sempre me pergunto sobre como eu poderia inserir um pouco da nossa cultura no meu estilo. Atualmente, a resposta que tenho é através de linhas percussivas, sempre presentes nas músicas brasileiras e que trazem um groove muito interessante.
E o que te moveu até a Austrália? Foi uma forma de poder expandir sua carreira também ou foram motivos paralelos?
Quando comecei a solidificar minha identidade sonora, percebi que, dentro do Brasil, eu não teria tanto espaço para crescer, não teria tantas festas para tocar o estilo que gosto e que permite com que eu me expresse livremente, não no início de uma carreira pelo menos e muito menos na cidade onde morava. Sentindo essa pressão de ter que me curvar a algo que eu não queria, resolvi olhar pra fora. Primeiramente olhei pra Europa, assim como a maioria, mas aí me veio o seguinte pensamento em mente: “por mais que Europa seja extremamente melhor para o meu estilo, a competição também é muito maior”.
Nessa mesma época me veio o convite de um amigo de vir morar na Austrália. Logo pensei que não sabia nada sobre o local, pesquisei e vi nessa oportunidade um enorme potencial de formar uma base num lugar não tão explorado, afinal, eu quase nunca ouvia falar sobre o que rolava por aqui. Assim decidi vir para cá e, até agora, tem se mostrado uma decisão muito boa.
Como é a cena por aí? O povo é technero como aqui no Brasil?
A cena por aqui é bem nova, assim como no Brasil, mas ao mesmo tempo diferente. Acredito que a cena do Brasil ainda tem mais força que por aqui, principalmente pela maior quantidade de clubs e festivais, fora a atenção do mundo estar muito mais voltada para o Brasil. Aqui a cena clubber pro Techno é mais concentrada em Melbourne. Já no resto do país, até onde eu conheço, vejo mais concentrada em bush parties e festivais.
Quanto ao povo ser mais techneiro ou não, acredito que sim, pois na Austrália temos (ou tínhamos antes da pandemia) uma diversidade enorme de povos e culturas. Pessoas de diversas regiões do mundo vivem por aqui, diferentemente do Brasil, onde a maior parte da população são Brasileiros.
Na esfera da produção musical, como tem sido pra você? Alguma novidade vindo por aí?
Eu venho produzindo praticamente desde que comecei a discotecar, no fim de 2017, mas só recentemente eu me senti pronto para começar a soltar minhas criações para o mundo ouvir. No início do ano eu fiz meu primeiro lançamento, uma collab com meu amigo Abel Mezzomo, pela gravadora Australiana WeLove Recordings. Também lancei, free download, um remix que fiz de uma música da DJ Rebekah, realizado em um challenge de produtores.
Agora, ainda antes do final do ano, tenho mais um lançamento confirmado, um single que virá pela gravadora Australiana AllFriends Records. Fora esta, tenho algumas outras músicas aguardando confirmação de datas, mas essas ainda são segredo 😉
Não podemos deixar de perguntar como foi viver a pandemia por aí… a Austrália foi um dos países que deu o melhor exemplo no controle da disseminação do vírus, certo? Você já está no modo vida normal?
Inicialmente foi igual a qualquer lugar em questão de lockdown, muito controle, restrições e incertezas. A Austrália se fechou completamente para o resto do mundo. Ao longo do tempo o resultado disso foi uma melhora enorme e um retorno à normalidade, festas e festivais voltando com capacidade total, mas ainda assim o país se manteve fechado. Após alguns meses, quando decidiram abrir levemente para o mundo, chegou a variante Delta, que nos pôs em lockdown novamente.
Vale lembrar que nem todas as regiões da Austrália foram atingidas da mesma forma, algumas tiveram impactos bem menores se comparados a New South Wales, estado onde resido, e Victoria. Agora que passamos uma alta taxa de vacinados, o país começa a mostrar novamente sinais de retorno. Em NSW estamos entrando em fase de restrições e a expectativa é de que até 1º de dezembro estejamos com vida normal.
E quais são os planos futuros? Vai ter visita no Brasil?
Bom, planejo ficar por aqui por mais um bom tempo, mas não sei dizer o quanto ainda. Estou de mudança para Melbourne no início do ano que vem, lá vejo uma cena mais ativa e maior potencial de crescimento dentro do estilo que desenvolvo.
E sim, vai ter visita no Brasil, mas só para o final de 2022, quero primeiramente me consolidar mais dentro da cena Australiana tanto como DJ como produtor, espalhar mais meu nome. Quem sabe quantas portas a mais isso não vai me abrir durante uma visita ao Brasil?
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