Fernando Lagreca em bate papo sobre carreira e seu novo EP pela Sincopat

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Por em 21 de junho, 2021 - 21/06/2021

Um dos grandes nomes do cenário latino e espanhol, Fernando Lagreca bateu um papo conosco sobre seu novo EP pela Sincopat, referências e novidades da carreira

O produtor uruguaio Fernando Lagreca, hoje radicado em Barcelona, traz uma coleção de composições sonoras ilustres em sua bagagem de mais de três décadas na música eletrônica. Sua genialidade transcende as fronteiras de gênero, construindo um caminho entre o Techno com melodias mais sombrias e linhas que tendem ao Indie Dance,  protagonizando a participação de sintetizadores que ocupam um lugar especial em seu estúdio. 

Lagreca além de artista, também está antenado ao mundo do Music Business através do seu label Beautiful Accident e da agência de desenvolvimento artístico Miracle MGMT. Após realizar passagens por selos como Awen, Natura Viva, Chrom, além de releases na própria gravadora, Beautiful Accident, ele retorna ao catálogo da Sincopat com o poderoso EP Been Touched que conta com três faixas que combinam melodias analógicas que vão do House ao Electro. 

Batemos um papo com ele para conhecermos mais sobre seu mar de referências, novidades da carreira e  mais detalhes sobre seu novo EP pela Sincopat. 

Você é natural do Uruguai e agora está radicado em Barcelona, como muitos artistas da américa latina que tem feito esta mesma transição. Como essa mudança afetou sua carreira musical?

Fernando Lagreca: Bom, morar na Europa facilita algumas coisas no que diz respeito a conexões, estar em diferentes cenas e ter a chance de conhecer novas pessoas da indústria da música. É claro que hoje com a internet não há atraso e você fica sabendo do que está acontecendo em todos os lugares, mas há 18 anos, quando me mudei para Barcelona, as coisas eram um pouco mais lentas. Portanto, a principal influência foi a oportunidade de conhecer pessoas, fazer contatos, viver a cena musical daqui, etc.

Você é apaixonado por synths analógicos. Quais são seus favoritos, que estão sempre presentes em suas produções?

Sou super fã dos equipamentos da Elektron, tenho vários e posso dizer que estão sempre presentes nas minhas faixas. Outra marca que gosto muito é a Novation, que é uma marca muito legal em termos de som e a relação custo-benefício é incrível. Claro que também gosto da Moog, Roland, Nord, etc, os clássicos nunca morrem! Com relação a modelos específicos, meus preferidos são: Moog Sub 37, Elektron Analog Four, Novation Bass Station II. E dois samplers que eu amo: Elektron Octatrack e Akai MPC One.

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Grande parte dos seus lançamentos, nesses quase trinta anos de estrada, estão em formato vinil. Você tem preferência por lançar e garimpar nesse formato físico?

Claro que adoro o formato físico, mas não tenho uma grande coleção de discos em casa. Apenas alguns que eu gosto, acho que não tenho mais do que 400-500 no total, então é uma coleção pequena. Não tenho preferência em lançar apenas em vinil, mas depende do tipo de lançamento. Se falamos de um álbum ou de um EP muito especial, prefiro vinil, dá um pouco mais de presença no geral, e claro que há fãs que sempre preferem comprar no formato físico.

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Você começou sua carreira como produtor ainda no começo da década de noventa, passando por diversas tonalidades abstratas e experimentais, até chegar nessa identidade única que você apresenta hoje. O que mudou desse início até aqui, em seu modo de compreender a música, e como isso influenciou na evolução da sua sonoridade?

Acho que foi tudo para trilhar um caminho, meu próprio caminho sonoro, gosto de experimentar sons, desenvolver melodias, melhorar técnicas e formas de gerar novos sons. Nada muda drasticamente, tudo parte da mesma jornada, que ainda está em andamento. Isso significa que preciso investigar mais, aprender mais e descobrir novos caminhos, novos instrumentos, novos sons.

No ano passado, você trouxe um conjunto eclético de faixas através do seu último álbum Infamous, que transitam entre o Hip Hop e o Techno. Qual essência que conecta esse álbum como um todo, mesmo com toda sua versatilidade estética?

Esse álbum é como um caldeirão cultural, eu quis imaginá-lo como uma espécie de tela em que comecei a pintar todos os dias com uma cor diferente, mas no fim, todas pertencem a mesma imagem. É por isso que você encontra Techno com Neo-Soul e alguns Breaks ou Drum and Bass, e até mesmo algumas faixas de Hip-Hop. Eu quis fazer um álbum “produtor”, sem limites, deixando todo o apego de lado, e essa é a conexão, pelo menos ao meu ver, talvez um trabalho um pouco “conceitual”, mas claro que nada pretensioso. Minha intenção era mostrar versatilidade como o sinal dos tempos.

Been Touched marca seu retorno ao label da Sincopat, e traz três faixas que vem com atmosferas bem viajantes e hipnóticas. Qual a inspiração que você trouxe para esse EP?

Não tive nenhuma referência concreta como inspiração para o EP, apenas segui o fluxo. Lembro que tive um período muito criativo e produtivo no meio dessa pandemia, acho que foi durante o segundo lockdown quando comecei a escrever essas faixas, e com todos os dias sendo tão idênticos, o único aspecto que traria algo diferente era a chance de passar algumas horas no estúdio, e tentar imaginar diferentes aventuras sonoras, nada mais.

Como rolou o processo de produção dessas faixas? O que você traz de novidade nessas novas produções?

Sobre sintetizadores e instrumentos, usei todas as minhas armas. Como foi um período em que eu tive um pouco mais de tempo livre – devido ao lockdown e tal – decidi usar todos os sintetizadores que tenho nessa nova leva de produções, então tudo girou em torno de sintetizadores analógicos e digitais trabalhando juntos. 

O processo de produção também foi melhorado, pois naquela época eu fiz algumas mudanças no estúdio, melhorei a placa de som, escolhi um novo mix bus, consegui novos cabos e adaptei algumas configurações no estúdio para conseguir um som melhor.

Sinto que dei a essas novas produções um espaço diferente em termos de sons. Depois tive uma grande ajuda do AFFKT (dono da Sincopat) e sua equipe do Pobla Studios, que ajudaram muito na mixagem final e nas etapas de masterização.

Além de produtor musical e DJ, você também está à frente da Miracle MGMT, agência de artistas e desenvolvimento de carreira em Barcelona. A agência tem encarado desafios durante esse período pandêmico? O mercado eletrônico de Barcelona está aquecido neste ensaio para o retorno das atividades?

Sim, tivemos muitos desafios diários, muitos desafios em pouco tempo! Entretanto, agora as coisas parecem um pouco melhores e pelo menos há algumas pequenas luzes no horizonte, com o ritmo de vacinação acelerando e algumas pequenas medidas aqui e ali para permitir o retorno dos clubs e da vida noturna de alguma forma. Nós esperamos de verdade que Barcelona possa ter uma nova visão a partir desses novos tempos e que isso ajude a cena local a crescer um pouco mais.

Você também comanda a gravadora Beautiful Accident. Como andam a perspectiva dos trabalhos do label?

A gravadora lançou dois discos durante a pandemia, meu último álbum ‘Infamous’ e um EP de um duo chamado BeatLove, Avian Heart, depois disso decidi parar um pouco. Agora estamos planejando o que vamos lançar, e estamos levando as coisas com calma, sem pressa para recomeçar já que está difícil manter uma gravadora pequena no momento. 

Por enquanto, começamos nossa própria marca de publicação dentro da gravadora, tentando posicionar nosso catálogo como supervisores musicais e lançando alguns de nossos artistas, então pensamos em fazer uma entrada mais adequada com novos lançamentos em 2022.

E o que mais está por vir nesses próximos meses?

Musicalmente falando, tenho dois EPs a caminho (para a segunda parte do ano), além de algumas faixas em compilações. Agora estou mais focado em preparar um novo live para voltar a tocar o quanto antes. 

Obrigado pela entrevista e um abraço de Barcelona!

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