O techno é um estilo que tem ganhado visibilidade e novos fãs no Brasil. A popularização do gênero por aqui já é algo mais notável, basta prestar atenção nas festas e grandes festivais que vem acontecendo em território nacional, sem contar a expressividade atual de DJs como ANNA, Alex Stein, Renato Ratier e Victor Ruiz. Já em outras partes do globo, como Berlim, por exemplo, o gênero possui uma fatia bem maior do mercado musical já há algum tempo e conta com importantes personagens que fazem esse cenário se tornar cada vez mais global.
Ruede Hagelstein é um DJ e produtor alemão que acumula mais de 20 anos de carreira e desde 2006 se mantém como um dos residentes do Watergate, em Berlim, um dos principais clubs de toda a Europa. Ao longo de sua jornada, Ruede produziu diversas músicas que foram assinadas por gravadoras como Watergate Records, Upon You, Bedrock e Souvenir. Hoje, em paralelo ao seu perfil de discotecagem e produção, Hagelstein coordena seu próprio selo ao lado do amigo e também produtor Amin Fallaha. A DUAT Records já possui alguns lançamentos em seu catálogo, com destaque para o primeiro VA lançado no mês passado, o DUATX001, que conta com uma colaboração do próprio Ruede com o paulista Diogo Accioly.
A parceria entre esses dois players do techno resultou em Ra, uma das sete faixas presentes na compilação e apenas a primeira de outras colaborações entre a dupla que sairão futuramente. Aproveitamos o momento e entrevistamos o berlinense Ruede Hagelstein em busca de saber mais sobre sua carreira e relacionamento com nosso país. Confira abaixo:
Olá, Ruede! Muito obrigado por falar com a gente. Você já disse anteriormente que seu primeiro DJ set aconteceu no Tresor Club, um dos vários locais históricos da música eletrônica de Berlim. O que você se lembra dessa noite que poderia compartilhar com a gente?
Toquei lá algumas vezes no meu começo e realmente não consigo me lembrar da primeira. O que eu lembro é da primeira noite que eu estive lá, como convidado. Eu tinha 15 anos (estava tentando entrar desde os 14 [risos]). Lembro daquela bola elétrica e a névoa, havia névoa por todo lado. Acho que esse foi um dos momentos mais intensos para mim, entrar neste club pela primeira vez.
Outro forte relacionamento que você mantém é com o Watergate, onde desde 2006 atua junto ao time de residentes – já são quase 15 anos de casa! Existe algo em especial neste club que motiva você a continuar tocando para o público ano após ano?
Antes de tudo, gostaria de mencionar os proprietários aqui, que sempre me apoiaram. Claro que a vista é uma das melhores de Berlim. Watergate é um club especial e não é tipicamente Berlim, se tornou internacional e ainda se destaca como uma instituição. Principalmente as manhãs na waterfloor quando o sol está nascendo.
Você já esteve no Brasil em julho de 2018, se apresentando no Warung, um dos mais importantes clubs nacionais que temos aqui. O que você conhece da cena brasileira?
Os clubes são incríveis aí. Você consegue sentir a paixão, a diversão e o cuidado que as pessoas desenvolvem a cena. O público é sempre agradável e fica empolgado com a noite. Alguns lugares do mundo já perderam essa felicidade e paixão, ou nunca tiveram.
Você e Amin Fallaha estão a frente da Duat Records, uma gravadora bem recente no mercado eletrônica. Existiu algum motivo especial que te levou a fundar seu próprio selo?
Temos nossa própria visão de som. Não é para ser apenas mais uma marca de techno ou tech house. Queremos desenvolver nosso próprio som, inspirado em muitos gêneros. Adoramos ter nossa própria arte em torno da música, já que design e som andam de mãos dadas. Tudo começou quando conheci meu querido amigo Amin e conversamos sobre visões musicais muito tempo ao telefone, após isso ele me contratou para tocar em Frankfurt. Sentimos uma frequência entre nós e seguimos os sinais.
No mês de março, saiu o primeiro VA do ano da gravadora, o DUATX001, que conta com a participação de Diogo Accioly. Como iniciou sua relação profissional com ele?
Chamar eu e Diogo de profissionais soa muito engraçado [risos]. Sério, nos encontramos no meu estúdio e começamos a fazer música. Só isso. Música é o meu hobby, meu trabalho, minha paixão e às vezes uma maldição. Conheço Diogo de tours pelo Brasil, nos tornamos amigos e temos muitos gostos musicais em comum. Então, adoramos fazer música ou jogar poker juntos.
As diferentes origens musicais de vocês ajudaram na produção de Ra? O que você pensa sobre esse intercâmbio cultural entre artistas de diferentes nacionalidades?
As origens musicais estão sempre desempenhando um papel importante no que faço, mas isso acontece subconscientemente. Ra é uma mistura entre techno bruto e atmosferas ambientadas, ambos os gêneros apareceram em minha vida muitas vezes. Acho que é o mesmo com Diogo. Sobre nacionalidades, não me importo muito. As nações são mais políticas, cultura é uma coisa mais da sociedade. A política está nos separando, as culturas devem nos unir. Quando estou trabalhando com amigos ou colegas, esqueço de onde eles vêm.
E como tem sido esse início de 2019 para você? Qual o foco até o final do ano? Obrigado pelo seu tempo!
2019 começou com grandes expectativas para todo o ano que vem pela frente. Estou muito feliz por ter minha própria gravadora, seguir minha própria visão com meu querido parceiro Amin Fallaha e com a ajuda de Ones, um de nossos artistas. Além de tudo isso, tenho muita música para lançar. Em abril, um remix para Yotto. Fiz uma colaboração com WhoMadeWho recentemente e tenho um material exclusivo sobre o próximo Watergate Mix. DJ Hell recentemente pediu um remix também e quero começar a trabalhar no meu próximo álbum. Tenho mais algumas coisas com Diogo, fiquem atentos! Então, os dias precisam ter 25 horas a partir de agora.
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