Ao longo de 25 anos de atividade, a SmartBiz consolidou-se como um dos vetores mais atuantes na difusão da cultura eletrônica no Brasil. Mais do que somar eventos, a trajetória da SmartBiz desenha uma série de iniciativas complementares — espaços físicos, programas de rádio, selo, festas e parcerias — que, reunidas, explicam parte da renovação e profissionalização da cena eletrônica paulista e brasileira das últimas décadas. A seguir, um mapeamento editorial dos projetos que marcaram essa história, com relatos e memórias compartilhadas por Fernando Moreno, idealizador da agência.
SmartBiz Café (2000–2003)
Entre 2000 e 2003, a SmartBiz operou um dos projetos mais emblemáticos de sua fase inicial: o SmartBiz Café. Nas palavras de Moreno, a iniciativa nasceu da constatação de que, naquele momento, apesar da existência de fóruns e comunidades online incipientes, era no encontro presencial que a cena realmente se formava — trocando discos, descobrindo lançamentos, estabelecendo contatos entre DJs, promoters e donos de clubes.
Foram duas unidades sólidas em São Paulo — uma no Shopping Villa-Lobos, inserida no chamado “corredor fashion” do empreendimento, e outra na tradicional Galeria Ouro Fino, ponto de referência da cultura clubber na cidade — além de breves tentativas no Rio de Janeiro e em Porto Alegre. O público era formado majoritariamente por pessoas entre 23 e 40 anos interessadas em música, moda e cultura clubber; as noites viravam happy hours e encontros informais, com DJs convidados e curadoria de Renato Lopes.
Nomes nacionais e internacionais passaram pelas pick-ups do café — de Joel Mull, Oxia e Ellen Allien a Ricardo Villalobos — e a casa funcionou como posto de descoberta: DJs emergentes dividiam espaço com nomes já consolidados, fortalecendo redes que depois viriam a tomar as pistas da cidade.

SmartBiz Radio (2000 – 2009)
A presença da SmartBiz nas ondas do rádio ficou marcada por um programa na 97FM, conduzido por Renato Lopes, cofundador e curador da agência. O formato caminhou entre entrevistas e DJ sets ao vivo, com o tempo se direcionando mais ao dance como ponte para as noites.
Naquele cenário, o programa representava um dos poucos espaços de rádio aberta em que a música eletrônica não comercial encontrava sem a pressão por grandes índices de audiência — fator decisivo para a circulação de sonoridades alternativas e para a divulgação de artistas representados pela agência. Muitos nomes passaram pelo estúdio, e o programa funcionou como elo entre cena de estúdio e circuito noturno.

SmartBiz Party (2000-2010)
A SmartBiz Party foi o braço prático de excelência: festas pensadas para apresentar artistas representados pela agência ao lado de convidados internacionais, em formatos e escalas variadas e em diferentes cidades do país. A agenda incluiu desde clubes e espaços íntimos até casas de show e hotéis icônicos.
Entre os episódios mais memoráveis está a festa no Hotel Unique com Laurent Garnier, considerada pela imprensa especializada e pelo público um marco — título que rendeu à produção o prêmio de “Melhor Festa do Ano” pela Noite Ilustrada (Folha de S.Paulo).
Outra edição histórica ocorreu no Credicard Hall, apontada como uma das primeiras grandes festas de música eletrônica realizadas em uma casa de shows de grande porte no Brasil. A circulação do projeto por cidades como Rio de Janeiro, Cuiabá, Porto Alegre, Campo Grande, Curitiba e Belém reforçou o papel da SmartBiz como exportadora de programação e curadoria.

Laurent Garnier
SmartBiz Traxx (2000-2009)
Com a SmartBiz Traxx, a agência mapeou outra frente: um selo voltado tanto à divulgação de produtores brasileiros quanto à criação de coletâneas físicas, reflexo de um período em que o mercado ainda se apoiava fortemente no formato CD e vinil. A proposta era abrir espaço para cenas e produtores locais num contexto com escassa infraestrutura de selos nacionais.
As primeiras edições foram coletâneas que, segundo Moreno, acabaram virando itens de colecionador — e abriram portas para parcerias com marcas e projetos editoriais, como Colcci, Red Bull e Chilli Beans, além de trabalhos com publicações e compilações para DJ Mag.

A curadoria ficava a cargo de Renato Lopes e, entre os artistas que passaram pelo selo ou por parcerias figuram Renato Cohen, Pink Freud, Andrea Gram, DJ Mau Mau, Waterfront House e DJ Mimi; em edições com selo internacional, nomes como DJ Hell, Laurent Garnier, Miss Kittin e The Hacker também estiveram presentes.
Marca de roupas
A interseção entre moda, pista e identidade foi explorada por meio de uma parceria com a marca Slam — já conhecida no circuito clubber — e de ações como a camiseta “SmartBiz for DJs”, hoje considerada item de colecionador. A proposta estética privilegiava peças pensadas para sair e dançar — materiais sintéticos, estampas inspiradas no universo noturno — e teve como um dos nomes por trás do design o estilista Giuliano Menegazzo. As peças circularam nas lojas da própria Slam, reforçando o vínculo entre o vestuário e a cultura das festas que a agência produzia.


Curadoria de festivais e grandes parcerias corporativas
Ao longo de sua trajetória, a SmartBiz também atuou como curadora e produtora em eventos corporativos e festivais com grande visibilidade. Exemplos notáveis incluem:
Motomix (2008) — projeto da Motorola no Parque Ibirapuera que reuniu bandas e artistas como The Go! Team, Fujiya & Miyagi, Metric e Apparat.
Smirnoff Night Exchange — edições que trouxeram artistas como Holy Ghost!, Superpitcher, Bag Raiders e Cut Copy, além de programações ligadas ao circuito europeu e alemão, reunindo nomes da cena eletrônica como DJ Hell, Reinhard Voigt e Steff & Virigina (com performances especiais).
Nokia Trends / Nokia Trends Mob Jam — séries de eventos de grande porte com foco em produção e inovação; nessas frentes a SmartBiz atuou na seleção de artistas e na construção de experiências, incluindo a estreia de Steve Aoki no Brasil e recitais de Digitalism e Dominik Eulberg.
Outros projetos: tours, exposições e ações culturais
A amplitude da SmartBiz ultrapassou a música de pista: a agência organizou turnês de bandas e projetos diversos, trazendo ao Brasil nomes como WhoMadeWho, The Whitest Boy Alive, The Sisters of Mercy, Front 242 e FKA Twigs; também promoveu exposições e iniciativas com fotógrafos (por exemplo, Cobra Snake) e performances como as de Amanda Lepore.
Todas essas ações demonstram o caráter híbrido da agência idealizada por Fernando Moreno, conectando público e música de diferentes formas, muito além do trabalho padrão de uma agência de bookings. Assim, fica claro que a SmartBiz foi, e segue sendo, um nó de articulação entre artistas, público, marcas e profissionais.
A agência segue atuante até os dias de hoje e você pode acompanhar todas as novidades dos artistas do casting através do Instagram.
It’s all about groove