A cultura da música eletrônica, historicamente baseada em valores como aceitação, inclusão e liberdade, passou por um crescimento massivo e constante nas últimas décadas. Esse aumento de popularidade e demanda impulsionou o surgimento de novos artistas, clubes e festivais. Hoje, um dos principais fatores por trás dessa expansão é o uso cada vez mais intenso das redes sociais — especialmente o Instagram — como ferramenta de visibilidade e acesso. Como ocorre com qualquer fenômeno que ganha força no mainstream, o Instagram se tornou o principal palco de expressão da cultura eletrônica contemporânea.
O ambiente digital transformou a forma como os artistas se posicionam. DJs, produtores e casas noturnas sentem a necessidade de compartilhar conteúdo com frequência para alcançar, engajar e manter seu público. Enquanto uns publicam anúncios de shows ou registros de gigs passadas, outros divulgam lançamentos ou projetos em andamento. Embora não seja obrigatório estar nas redes para alcançar sucesso — e, para alguns, a ausência pode até reforçar certo mistério —, a verdade é que, especialmente para os artistas em começo de carreira, estar presente online virou quase uma condição de sobrevivência.
Esse novo cenário se consolidou durante a pandemia de Covid-19, quando a cena foi forçada a se apoiar mais em eventos digitais do que presenciais. Desde então, a correlação entre performance online e estabilidade profissional só aumentou. Em um mercado cada vez mais competitivo — e com o crescimento de plataformas de streaming e conteúdo —, a presença digital se tornou praticamente obrigatória. Isso impactou diretamente a dinâmica da cena: o que antes era medido pela pista, agora também depende da timeline.
Essa transformação causou incômodo em muitos músicos, que veem com preocupação a influência crescente das redes sociais e os interesses comerciais por trás delas. Ainda assim, o Instagram também se tornou uma ferramenta importante de auto expressão. Mais do que apenas divulgar faixas ou gigs, os artistas usam a plataforma para construir uma narrativa visual que reflita o estilo de vida associado à cultura eletrônica. Um DJ londrino chegou a dizer que há uma “grande expectativa de estar presente online — e de uma forma muito específica”.
Essa forma específica remete justamente aos valores centrais da cena. A mídia social, nesse contexto, permite que os artistas contextualizem seu trabalho e construam uma identidade pública alinhada com seus princípios. Como house e techno são parte de uma cultura marcada por ideais fortes, quem se expressa ativamente no Instagram tende a incorporar elementos dessa estética e dessa filosofia — seja por convicção, seja por coerência de imagem. A adesão a uma estética subcultural comum e a uma linguagem musical coerente com a cena é vista como essencial para manter essa conexão.
Em resumo, o Instagram se consolidou como o principal meio de comunicação e projeção para os artistas de música eletrônica. Mas, ao ocupar esse espaço, eles enfrentam o desafio de equilibrar visibilidade comercial e fidelidade à cultura que os formou. A presença online, nesse caso, precisa ser mais do que estratégia: deve refletir — ou pelo menos aparentar refletir — os valores de liberdade, coletividade e resistência que definem o espírito da eletrônica.
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