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A origem improvisada da House Music e os discos da Trax Records feitos com lixo reciclado

A história da House Music está entrelaçada ao improviso e à escassez. Desde o início, o coração do gênero foi a tecnologia, não por luxo, mas por óbvia necessidade. Sem recursos para comprar novos equipamentos, os pioneiros da cena recorriam a lojas de segunda mão em busca de sintetizadores, baterias eletrônicas e gravadores acessíveis. O que muitos viam como minimalismo sonoro era, para os artistas de Chicago, simplesmente o máximo que conseguiam pagar.

Nesse ambiente de produção de baixo custo, nasceu a Trax Records. O selo surgiu quando Larry Sherman, então dono de uma fábrica de prensagem, percebeu a crescente demanda pelos discos de House. Sherman rapidamente assumiu o protagonismo da cena local, e a Trax se tornou a principal referência para lançar as faixas da época. A lógica era direta: produzir rápido, prensar barato e vender o quanto antes.

Larry Sherman

Apesar da influência histórica, a Trax Records sempre foi cercada por controvérsias. Os discos do selo eram notoriamente mal prensados, com ruídos constantes — os famosos “snap, crackle and pop”. Isso se devia à escolha de Sherman por utilizar vinil reciclado: ele comprava pilhas de LPs antigos por poucos centavos, destruía os centros com marretas e reaproveitava o material derretido nas novas prensagens. O resultado eram cópias de qualidade física questionável, mas acessíveis.

Screamin’ Rachael que toca a label, vale mencionar que ela é pioneira na cena e uma das primeiras mulheres a liderar um selo independente de música eletronica

Entre os artistas da época, no entanto, isso nunca foi um problema. A urgência era maior que o acabamento. Como se dizia: o som era tão bom que ninguém se importava com os detalhes de como e onde ele estava prensado. Muito além disso: a House Music servia como válvula de escape, como um gesto de liberdade coletiva. Sua importância residia no que oferecia — expressão, pertencimento e a prova de que até os “não-músicos” podiam criar algo poderoso.

It’s all about groove