No cenário efervescente da música eletrônica contemporânea, Marlon Hoffstadt emerge como uma figura transita pelas estruturas da indústria, enquanto as questiona e redefine com lucidez. Também conhecido pelo alter ego DJ Daddy Trance, ele não se encaixa facilmente em estereótipos ou zonas de conforto. Sua trajetória é marcada por uma busca constante por autenticidade, liberdade e conexão, fugindo das dicotomias rígidas que ainda dominam parte do debate musical.
Um dos temas centrais de sua trajetória é a tensão entre o “underground” e o “mainstream”. Hoffstadt reconhece que nunca foi “cool o suficiente para o underground” nem “comercial o bastante” para os grandes palcos — e isso o libertou. Em vez de tentar se encaixar, passou a atuar a partir desse espaço intermediário, com maior autonomia e honestidade.
Ele tem questionado o uso superficial do termo “underground”, apontando que muitos DJs de turnês globais que se rotulam assim, na prática, não estão conectados às comunidades locais. Para Marlon, o verdadeiro underground envolve trabalho comunitário, organização de festas queer e apoio a minorias. Ele mesmo admite que, como “homem branco hétero tocando para pessoas brancas”, não preenche esse papel. E essa consciência molda sua ética: “Não dou a mínima para esses rótulos, para ser honesto”.
Pode ser chocante para alguns artistas, mas Hoffstadt não rejeita o mainstream. Já tocou com nomes como Dimitri Vegas & Like Mike e vê nesses momentos a chance de “ver uma vibe” — desde que sem comprometer seus princípios. Ele relata com humor que os grandes artistas de EDM foram “muito amigáveis”, ao contrário de alguns DJs do circuito “cool” que nem o cumprimentam. Ainda assim, sua relação com o lado comercial da cena vem com ressalvas.
Ibiza é um exemplo. Ele critica os baixos cachês, o alto custo da ilha e a cultura elitista: “Estou muito cansado da política de Ibiza”. Deixa claro que não tocará em grandes clubs se tiver que “jogar esse jogo”, mas se dispõe a tocar de graça por boas causas ou festas verdadeiramente autênticas. Para ele, a diferença não está no palco, mas nos valores que sustentam a experiência.
Com a popularidade crescente, Marlon reconhece uma nova tensão: quanto maiores os palcos, maior a distância emocional do público. “Quanto maior eu fico, para mais pessoas eu toco — e mais longe eu estou delas também”. Essa desconexão o incomoda profundamente.
Seu desejo de solução para este caso é claro: criar seus próprios eventos, com total controle criativo — dos visuais à iluminação, do lineup ao design do palco. Em vez de depender de promotores e line-ups genéricos, ele quer construir experiências completas, com amigos e artistas que admira. Hoffstad reconhece que esse modelo exigirá investimento e muito trabalho, mas acredita que “valerá a pena e será divertido”. A ideia é começar por Berlim e transformar o conceito em algo recorrente.
Sua versatilidade também aparece em remixes como o de Disparate Youth da Santigold, revelando sensibilidade para diferentes nuances da música. Suas afinidades com artistas como MALUGI, I Hate Models e Patrick Mason evidenciam uma cena que valoriza energia, inovação e presença de pista.
Marlon Hoffstadt não é apenas um DJ com boa seleção e energia de palco: é um pensador da música eletrônica, alguém que reflete sobre o que faz e por que faz. Em vez de seguir tendências, ele quer construir um caminho próprio — negociando com o mainstream sem perder o controle, e valorizando o que há de mais profundo na cultura clubbing: a conexão genuína com as pessoas.

Sua jornada é marcada por dúvidas produtivas, escolhas conscientes e uma constante disposição de se reinventar. Ao rejeitar rótulos fáceis e abraçar a complexidade, Marlon Hoffstadt se estabelece como um dos artistas mais coerentes e relevantes de sua geração. Seu compromisso não é com o hype, mas com a possibilidade de fazer da pista um espaço mais sincero, livre e humano.
It’s all about groove