O Afro House é realmente um ‘som pra dormir’? Ou então ‘devagar demais’ para tocar em uma festa? É comum ler comentários desse tipo circulando por aí, geralmente feitos por quem não conhece a fundo o gênero ou simplesmente por quem quer ‘causar’ por não se identificar com o estilo. De fato, o Afro House vive um momento de alta popularidade impulsionado por grandes nomes como Keinemusik e Black Coffee que, com um som mais “acessível” e até radiofônico, têm ajudado a levar o estilo a um público mais amplo, o que gera tanto comentários positivos quanto negativos a respeito.
Em uma matéria publicada em junho pelo Beatportal, dados mostraram que o Afro House está atualmente competindo por uma posição entre os cinco gêneros mais populares do Beatport — tornando-o o gênero que cresceu mais rápido na plataforma. Mas a verdade é que a história do Afro House vai muito além do mainstream de hoje e são suas características lá de trás, conectadas às suas verdadeiras raízes, que em parte fizeram esse gênero ter o alcance global atual.
Os pilares do Afro House
Entre as principais características do Afro House, a principal talvez seja o aspecto espiritual. É um estilo de música que consegue tocar o fundo da alma e despertar aquele sentimento de liberdade e euforia nas pessoas como nenhum outro. É como se fosse um ritual que une as pessoas em uma sensação de pertencimento e espiritualidade
Outra característica que certamente contribuiu para a popularidade do Afro House é a forma inteligente no uso de vocais, seja como cantos étnicos ou apenas através de vozes inseridas suavemente. Geralmente esses vocais são utilizados para intensificar o apelo emocional da música, criando uma conexão mais próxima com o ouvinte. Querendo ou não, isso gera um vínculo afetivo bem forte com o público em geral, o que ajuda na popularidade.
Não tem como falar no Afro House sem destacar também a complexidade rítmica e percussiva que caracteriza o gênero. As faixas geralmente são construídas com o uso de instrumentos (ou sons) percussivos que, além de trazerem um toque da ancestralidade e da cultura africana, criam uma camada autêntica nas produções. É uma forma de fazer o ouvinte sentir a música de forma mais “visceral” e emocional.
E se estamos falando de características que potencializam a popularidade do Afro House, o senso de comunidade e união precisa ser mencionado. A própria música eletrônica em si já carrega isso, mas no Afro House essa questão é ainda mais forte, afinal, se voltarmos às raízes do gênero, os sons afros remetem à celebrações e rituais onde todos dançam e compartilham de uma mesma energia. Quem está na pista sente essa energia e, mesmo sem uma ligação direta com essa cultura, acaba se conectando de forma muito fácil com a música.
Principais artistas (fugindo dos mais óbvios)
Para além de nomes mais conhecidos como Black Coffee e Keinemusik citados no início do texto, é válido destacar outros artistas que foram fundamentais na consolidação do gênero e que seguem contribuindo de maneira direta no seu crescimento.
Boddhi Satva
Este é um nome que você sempre verá quando o assunto é Afro House, até porque ele é conhecido também como o criador do “Ancestral Soul”. Para ele, a música é sobre criar uma sensação de “alma” e conexão. Seus trabalhos, como o álbum Manifestation, apresentam tanto faixas dançantes quanto produções com mensagens sociais. Boddhi é um cara que sabe muito bem como manter um pé no mainstream e outro na pista de dança.
Osunlade
Um artista que leva muito a sério suas raízes culturais e espirituais, algo que fica evidente também nos lançamentos de sua gravadora, a Yoruba Records. Ele foi um dos primeiros a inserir elementos da cultura africana de forma autêntica no House, o que ajudou a elevar o Afro House a um novo patamar anos atrás.
Da Capo
Com faixas que também estouraram a bolha, como “Secret ID” e “Mama”, essa última pela sua gravadora Genesis Entity, Da Capo é um artista que segue expandindo sua influência global — inclusive já se apresentou até no Hi Ibiza e na festa da Defected.
THEMBA
Outro grande nome sul-africano. Thembra cria suas músicas misturando suas raízes africanas com cantores, compositores e percussionistas locais para algo único. Isso o fez lançar em grandes selos e tocar nos principais palcos do globo, incluindo uma residência na festa do Black Coffee no Hi Ibiza.
Pablo Fierro
Fierro nasceu e cresceu nas Ilhas Canárias, local que influenciou sua música ter mais características jazzísticas, tribais e tropicais. Ele tem sido uma peça-chave na expansão do Afro House, especialmente na Europa e América Latina.
Msaki
Para fechar a lista, escolhemos uma artista sul-africana que não é DJ e produtora, mas sim cantora e compositora. Ela já colaborou tanto com Black Coffee como também com Da Capo — e agora está para lançar uma collab com Diplo. Espere sempre um toque poético e sentimental com suas letras emotivas.
It’s all about groove