Não é de hoje que Iago Frederici aka Fred Lenix vem deixando sua marca na cena eletrônica global. O artista brasileiro, hoje residente da Turquia, tem mostrado um trabalho consistente desde 2020 quando lançou seu primeiro EP na Elevate, label de Pig & Dan. De lá pra cá, ele não parou de empilhar novos releases em algumas das principais labels do globo, incluindo Ellum de Maceo Plex, Truesoul de Adam Beyer, Atlant de BOg e a grandiosa UPPERGROUND, de ARTBAT, com quem colaborou em “Dreamcatcher“.
Porém, o que impressiona não é apenas a lista de grandes labels que ele já lançou, mas também a identidade sonora encontrada em cada um de seus trabalhos. Fred demonstra um domínio total da fusão entre as linhas do Techno e do Electro, adicionando camadas experimentais e fora do padrão que se combinam de forma estranhamente única. Esse caráter criativo segue fazendo com que ele chegue mais longe e desbrave novos territórios, como agora, em sua estreia pela UNSEEN Records, do francês Citizen Kain.
Lançado no último dia 29 de maio, o EP traz duas faixas originais de Citizen Kain com participação da vocalista Eleonora, que já colaborou com praticamente todos os gigantes da cena do Techno Melódico e, independente disso, entrega seus vocais melancólicos de maneira sublime a cada aparição. Fred Lenix foi convidado para remixar a faixa-título “One Day” e o resultado você já sabe… um cenário sonoro distópico e emocionante se desenha na sua releitura, ao mesmo tempo em que seu remix adiciona mais peso e drama à produção.
Tivemos a oportunidade de falar com ele não apenas sobre este trabalho, mas também sobre sua sólida identidade, suas conquistas mais recentes, como tocar no Santiago Bernabéu e no Amnesia Ibiza, além das perspectivas futuras do artista. Acompanhe:
Olá, Fred! Obrigado por nos receber. Sabemos da interessante história de que seu primeiro contato com a música eletrônica foi ainda quando criança, em um réveillon do ano de 1999, graças ao seu tio, que era DJ na época. Então o foco da pergunta será um pouco diferente… quando você decidiu que levaria a música como carreira para o resto da sua vida? Foi algum momento específico ou situação que te fez enxergar o potencial da música eletrônica?
Olá! Agradeço muito por me receber. Sim, eu estive em contato com a música eletrônica através do meu tio Maicon a.k.a Charcott. Na verdade, eu nunca pensei que teria uma carreira nessa área. Quando eu era mais jovem, eu era jogador de basquete profissional. Infelizmente, fui obrigado a encerrar minha carreira após uma lesão na coluna. Desde aquela época eu já tocava e produzia, porque a música sempre fez parte da minha vida, mas para falar a verdade, naquele tempo eu não tinha pretensão de tocar profissionalmente. Meu tio sempre me falava para enviar as músicas que eu produzia para as labels; e mais, ele insistia para que eu enviasse para a Ellum, porque meu estilo de produção era muito a cara deles. Foi por isso que comecei a enviar minhas músicas. Logo após, assinei meu primeiro EP com a Ellum do Maceo Plex. Na época recebi uma mensagem de Eric no meio da noite, na qual ele dizia que queria assinar comigo, e foi assim que minha carreira começou.
Não há como negar que a música que você produz hoje possui uma identidade bem forte. Sabemos que muitos artistas não gostam de se rotular, mas essa mistura do Techno com o Electro, resultando em uma abordagem até meio sci-fi, é algo muito inerente ao seu projeto. O que te levou até essas sonoridades? Como você interligou suas referências para chegar nesse estilo de som específico?
Podemos falar sci-fi sim, sou um fã da ideia de como nosso futuro vai ser. E ainda mais, sou fã de sound design de cinema. Adoro filmes como Blade Runner, Dune, Donnie Darko, etc. Uma coisa que tenho na cabeça sempre quando estou produzindo é desenhar um ambiente que combina com um futuro sci-fi, com características sonoras que trazem emoções como o medo, a ansiedade, a excitação e o poder. Acho que um dos maiores fatores que me levou ao meu estilo de música foram as referências de música que eu ouvi quando criança. Artistas como Maetrik, Enigma, Lauren Garnier, Anthony Rother, Prodigy, Aril Brikha e muito mais nomes que me influenciaram bastante.
Acreditamos que foi justamente esse forte DNA sonoro que te ajudou a conquistar grandes labels, como Truesoul, When Stars Align, Atlant, Insomniac, UPPERGROUND e agora a UNSEEN. Mas além disso, na sua visão, o que mais foi fundamental para você conseguir chamar a atenção de grandes selos?
Consistência na própria arte. Essa é uma pergunta que na verdade não tem uma resposta que eu diria que seria correta. Acredito que o fato de persistir no meu próprio estilo, sem ser influenciado pelo o que a indústria de música tem a oferecer ou então, não fazer o mesmo que os outros estão fazendo , para mim é muito mais importante. Por isso, eu persisto no meu estilo e batalho para lançar em selos que almejo, ao contrário, prefiro não lançar minhas músicas.
Talvez uma das coisas mais inusitadas que você já tenha vivido foi tocar no Santiago Bernabéu, o estádio do Real Madrid, no evento da UPPERGROUND, do ARTBAT. O lineup ainda teve a presença de Miss Monique, CamelPhat e até do Vintage Culture… como foi essa experiência para você? Existe alguma outra que supere ou chegue perto dessa?
Esse evento foi surreal em qualquer aspecto . Depois de anos tocando em festivais e lugares de todo o mundo, posso dizer que esse foi o que mais me senti eufórico. Só de olhar pra cima enquanto eu tocava me fazia perguntar se tudo aquilo era real. O line up também contava de amigos como Camelphat, Vintage e Miss Monique. Eu já estava em contato com o Lukas (Vintage Culture) há algum tempo, e esse foi o evento que conseguimos nos encontrar pessoalmente e é claro, ver todos por lá e tocar num lugar como o Estádio do Real Madrid foi uma experiência única!
Falando de conquistas, você também acabou de estrear no Amnesia Ibiza, palco que é sonho de muitos artistas. Você também sonhava com esse lugar?
Claro que sim! Fiz até uma track dedicada esse dia chamado “Amnesia” e também toquei a track pela primeira vez lá. Mas detalhes sobre isso não posso falar, mas vocês irão saber em breve…
Agora falando do presente, você acabou de lançar um remix para o Citizen Kain que marca sua estreia na UNSEEN Records. Nos conte um pouco sobre o processo criativo por trás deste trabalho… inclusive, se não estamos enganados, este é apenas o seu segundo remix oficial lançado, não é? Até então você só tinha remixado Dino Lenny em ‘Between My Eyes and Your Lips’… é uma posição que você se sente confortável ou você realmente prefere criar uma track original, do zero?
Bom, eu não curto receber ofertas para fazer remix. Eu acredito que remixar uma track tem que ser o favor do artista quem vai remixar não uma pergunta simples de “Quer remixar minha track?” Na época que ouvi a original do Dino eu mesmo perguntei pra ele pra fazer o remix e foi assim que aconteceu com o Citizen também . Antes de começar o remix eu já tenho uma ideia do que fazer. E é a original que me dá inspiração . Agora mesmo tenho um outro remix lançando no dia 13 de junho que eu fiz para o Waltervelt, outro brasileiro que gosto muito de sua produção.
Você mora na Turquia há quanto tempo exatamente? Por acaso a cultura do país tem influenciado de alguma forma seu trabalho? Se sim, pode nos dar um exemplo de como essa influência se manifestou em alguma faixa ou algo do tipo?
Moro na Turquia há 21 anos, e com certeza, morar aqui e conviver com a cultura exótica que a Turquia possui, influenciou, e muito a minha mente musical. A cultura musical na Turquia é muito diversificada, tem influência do oriente, como também do ocidente. İsso me acarretou um olhar diferente entre os gêneros. Acredito que é por isso que consigo tocar multi gêneros. Eu ganhei um acervo de estilo musical vivendo aqui e isso me fez ganhar muito, para desenvolver ainda mais meu próprio estilo.
Para finalizarmos, gostaríamos de algum spoiler exclusivo do que vem por aí na sua carreira nestes próximos meses. Obrigado e sucesso!
Tenho um EP que vai ser lançado em breve na Mahool Records que é o selo do Middlebeast. É um EP com duas tracks. Estou tocando elas há pouco tempo e gostando muito da reação nas pistas quando toco. E também, tenho um EP para lançar novamente na UPPERGROUND mas não posso falar muito sobre isso (rs) 😉 Agradeço novamente por me receber, e é sempre um prazer e me sinto muito feliz de poder ter contato com o meu país que amo tanto! Até a próxima!
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