Youniverse Surreal: Rodriguez Jr e Dixon hipnotizam pista Bells

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Por em 28 de abril, 2023 - 28/04/2023

O terceiro final de semana do festival conceito Youniverse no Surreal Park em Camboriú apresentou nomes de peso do cenário internacional. A ideia do festival era trazer algo totalmente novo para Santa Catarina, com experiências de aprendizado e cultura desde o período da tarde. 

No facebook do club pós evento foi postado um resumo;

‘’3 dias intensos e imersivos na arte, cultura, universo, música e autoconhecimento. Assim foi o Surreal Festival: Youniverse. Agradecemos a todos que participaram dessa jornada incrível conosco.

Nosso objetivo foi ir além da música e entretenimento, realizando workshops e palestras de arte, criatividade, yoga e muito mais. Acreditamos que é possível despertar o coletivo para a conexão e empatia com o universo, o nosso interior e com todos ao nosso redor.’’

Esse tipo de evento multi-cultural é algo mais comum nos grandes centros, e foi muito bem vindo em Santa Catarina. Vamos a noite do dia 21 de abril.

Quando foi anunciado todo o line-up com 3 pistas, ficou evidente que o público se animou mais com a expectativa de assistir ninguém menos do que Dixon na obscura pista Bells. Ainda, completava o line-up internacional o português Gusta-vo e o francês Rodriguez Jr – sua vinda era uma demanda do público local de longa data. Eu em particular, já sabia que Dixon iria deixar todos de boca aberta, porém minha curiosidade maior era em Rodriguez, um dos produtores que mais ouço na atualidade. 

Na pista Nomad, o destaque total era por Tiga, uma lenda que já remixou algumas das principais bandas eletrônicas da história, incluindo Depeche Mode e Pet Shop Boys, apenas para citar. 

A noite ainda tinha a pista aberta da charmosa e icónica Igrejinha para os apreciadores do minimal. Todas as 3 pistas cheias, com um público realmente interessado em ouvir música difícil. 

Cheguei no clube por volta da meia noite e perdi o set do Danee na Bells, porém os comentários de quem viu foram muito elogiosos, como era esperado. O português Gusta-vo fez o difícil papel de transição, onde você precisa mexer com a pista, ela demanda energia, porém ainda não se pode acelerar muito. Alguns gostaram, outros não, mas é preciso respeitar que ele fez seu trabalho de entregar a pista sedenta para Rodriguez às 02h.

 O Francês só precisou chutar para o gol, seu live hipnótico começou com tudo, sendo mais dançante do que eu esperava. Apesar de suas músicas terem grandes momentos de introspecção, profundas melodias e breaks longos, ele conseguiu compensar mantendo hi-hats no live e ótimos recursos de efeitos. Durante 1h30 de live, Jr tinha todos atentos e imersos em sua viagem sonora. 

Algumas faixas apresentadas: 

Sis – The Blind Side (Rodriguez Jr remix)

Rodriguez Jr – Radian

Giorgia Angiuli & Rodriguez Jr – Turning The Moon

E claro, não poderia faltar ‘’Kilian’’, uma de minhas favoritas recentes, trilha de filme em forma de dance music. 

Considero Rodriguez um dos mais autênticos produtores da atualidade, um verdadeiro músico fazendo sons cinematográficos com batidas para pista. Ele faz justiça a incrível escola de produtores revolucionários de seu país, seja por Jean-Michel Jarre, Daft Punk ou seu mentor, o lendário Laurent Garnier. 

Dixon assume às 03h30 sob olhar vidrado de todos. Ele é considerado como um dos melhores DJs dos últimos anos no mundo, ainda que tenha sido eleito 4 vezes o melhor DJ underground pelo portal RA (Entre 2013 e 2016). Naquela época eu o considerava super estimado, tendo outros a sua frente. Hoje ele é um DJ muito melhor do que quando chegou ao topo, acredito que aprendeu como construir sets melhores nos últimos 5 anos. 

Dixon inicia com um vocal robótico ao estilo Kraftwerk, era ‘’Save the Robots’’ de DJ Hell e John Selway. Foi para impactar, trazer para si a responsabilidade e fazer a pista esquecer do som anterior. 

Foram 3 horas em que pela primeira vez eu senti a pista Bells criar uma áurea apoteótica, com contornos repletos de momentos efervescentes, onde todos conseguiram deixar tudo do lado de fora e viver o momento. 

Fica difícil citar músicas em um set cheios de Ids, porém vale destacar o momento em que ele coloca um breakbeat as 05h, apenas para relembrar quem estava no comando. 

Suas músicas sempre tem um tom sério, um pouco ácido, um pouco industrial, alguns vocais provocativos e sempre, sempre com batidas fortes! Em uma cena onde os DJs de techno tocam a 135 bpm e adoram cansar a pista em 2 horas, Dixon é um alívio para o futuro da cena clubber. Estamos em um momento em que os maiores DJs de clubes da história estão em fase final de carreira, e há uma enorme lacuna a ser preenchida, poucos querem ser DJs de clubes tocando sets maiores, Dixon é um deles. 

Sua escolha por se manter no underground da cena se justifica pelo estilo musical que resolveu seguir; um techno com pitadas de progressão único, pessoal, obscuro, intenso, mas sem precisar subir o bpm e ser massivo. Direção oposta de outros gigantes de sua geração, que se tornaram DJs de festivais indo ao mainstream através do melodic house. 

Dixon surgiu como um produtor top de linha da cena global com músicas mais calmas e até com certa melodia, algo inesperado para um alemão, porém, nos últimos anos sua versão como DJ escalou para algo que remete a seus precursores dos anos 90, que tocavam/tocam em galpões abandonados de Berlim. Sua música é um jogo mental e não é fácil de entender, porém, uma vez que você se conecta, fica impossível sair da pista.

Eram 06h30, a pista estava escura e só víamos que já havia amanhecido pelas janelas triangulares do back stage. Então, de forma um pouco abrupta, ele termina seu set, deixando todos um tanto confusos. Porque já? Fica a pergunta, a pista estava cheia e envolvida. O alemão achou um encerramento lindo através da faixa ‘’When Saints Go Machine’’ de Fail Forever (Id remix), com um vocal estilo Indie. 

Percebi que estava satisfeito e resolvi ir embora, ainda que na Nomad o crew RR, Phonique e Accioly iriam jogar b2b por mais algumas horas. 

O Surreal Park está se consolidando cada vez mais com uma grande opção para a cena Catarinense, trazendo artistas que normalmente não desciam ao sul. O clube já anunciou nova programação e eu não posso deixar de destacar a vinda de Guy Mantzur, um dos principais nomes da cena house progressivo dos últimos anos. 

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