Bah! O Rio Grande do Sul pode te lembrar musicalmente sua aclamada cena rock, mas não se engane! Houve sempre uma efervescente centelha eletrônica acontecendo para quem está com os ouvidos ligados. Só lembrar de nomes como Lucio Kahara, Cevallos, Carol Campos, PH Menezes, entre outros. Dos muitos nomes da nova cena dance, três se destacam; JP, Mari Hermel e o novato Guilherme Dinardi.
JP

JP Florence é uma realidade das pistas do sul e, Brasil afora, intrépido produtor por trás da badalada Neue e festeiro nato. João Pedro Florence, “JPEG” ou simplesmente JP sempre foi inquieto, um viajante musical avesso ao mundo.
Trazendo Disco e House como bases, sua pesquisa musical transita em vertentes Ítalo-cósmicas eighties, doses de Electro e Space Dub com toques de pop underground e psicodelia. Em seus mais de cinco anos de carreira, é conhecido em eventos do Sul e também de outras praças do Brasil. Se apresentou em festivais como MECA Inhotim, XAMA (19/20), festas como Gop Tun, CAOS, Discoteca Odara, ON/DA e já lançou mixes em canais como Alataj, East Side Radio e Deepbeep.
A intimidade com a música veio via rádio, MTV, descobrindo de início a camada mais pop dos sons dançantes e indo em festas de e-music na região de Itapema-SC.
“Comecei a frequentar as festas da região no verão, Warung, Divine, Dreams são baladas que lembro, além de raves de psy também. Na verdade, nunca me sentia bem em nenhuma delas, por diferentes motivos dependendo de cada uma, mas ia porque era o que tinha de música eletrônica na época na minha realidade. Como um bom gaúcho sempre escutei muito rock e ainda mais quando fui morar em Porto Alegre, isso coincidiu com o boom do indie rock e meus 20 e poucos anos. POA viveu isso intensamente mais que qualquer outra cidade do Brasil e escutar indie era quase obrigação se você saía à noite. O indie trouxe junto muita música dos anos 80 e frequentemente nas festas rolavam New Order, Depeche Mode além de versões remixes, foi aí que me interessei em pesquisar mais sobre o universo DJ. Também, sempre viajei muito quando jovem para estudar e foi aí que comecei a encontrar as coisas que me identificava mais.” Comenta JP Florence
A ideia da Neue (novo em Alemão), veio após uma temporada intensa em Berlim. Retornou ao Brasil com a cabeça fervilhando de idéias decidindo criar uma festa para poder curtir com os amigos, (na época mal tocava, só produzia). Após algumas edições foram surgindo parceiros no caminho, comprando a ideia até virar o time atual. “Jamais imaginava que chegaríamos a quase 2k de gente e ao show nacional da Fernanda Abreu, por exemplo, mas sempre tive a vontade e a expectativa de fazer algo relevante sim!”
Sobre pista e DJs favoritos, ele é bem direto; “Não tenho ninguém em especial sinceramente, gosto de estilos musicais e me adapto e vou mudando meu estilo com o tempo, mas vai puxando para o lado dos fechamentos. Cevallos que é meu sócio e DJ há anos aqui em POA e o Chance Da Silva pela botecagem antes e depois da gig. E a melhor pista é sempre em casa com amigos né? Então é NEUE POA na cabeça. Essa última edição foi incrível, minha preferida, público lindo e divertido.”
Mari Hermel

Mari Hermel é DJ com base em Porto Alegre e conta com seis anos de experiência, fazendo parte do núcleo da Neue e já dividiu cabine com nomes importantes nacionais/internacionais. Fã de hip-hop e de sons alternativos, Mari se aproximou da eletrônica frequentando festas da noite gaúcha e desenvolveu seu amor a house music e vertentes. Mas essa afinidade musical já vinha de antes. Seu pai tinha uma loja de discos e a convivência com aquele universo já a fascinava desde a infância. Transformando numa garimpadora nata de sons.
Sobre influências e artistas que a inspiram, Mari Hermel dá suas dicas: “Não precisa ir longe para escutar ótimos artistas. Temos muitos DJs dos mais variados estilos aqui no RS, e acho importante valorizar a cena local. Um dos artistas que me chamou atenção na época dos primeiros contatos com a música eletrônica foi o PV5000, lembro de ter sido uma das primeiras pessoas que olhei e pensei: que incrível, quero muito tocar isso. Ele tocava house e também estava aprendendo, então acho que me identifiquei. Tha Guts também foi uma inspiração no início, e curto muito suas produções. Os guris da NEUE, JP, PH e Cevallos, também sempre foram uma grande inspiração e apoio pra mim. Frizzo, Barsotti, apesar de tocarem estilos diversos do meu, também são artistas que tenho muita admiração. E fora daqui, tenho curtido muito as produções do Gabto, de São Paulo, recomendaria fortemente a escutarem seus sets e tracks. E como apoiar os chegados e não desanimar da profissão DJ? Frequente a cena local, apoie artistas que estão começando, apoie seus amigos que tocam. Esteja presente nas festas que estão sendo lançadas agora, talvez seja uma boa oportunidade de começar, tenha uma rotina de pesquisa, descubra o que você gosta de tocar. E não fique preso à ter uma técnica perfeita, muitas vezes o que importa são pesquisas boas e adequadas para o público que te escuta.”
Tocar na Neue foi um divisor de águas e a colocou em contato com muitos artistas proporcionando um conhecimento maior do mundo da música eletrônica. Das pistas memoráveis, Mari cita a da parceria feita com a Gop Tun de SP. A DJ segue sempre firme na sua pesquisa; “Curto variar bastante a pesquisa, acho que nada é absoluto. Se eu escutar e curtir, com certeza vou pensar em tocar. Mas ultimamente tenho tocado muito house, e me descobri mais próxima desse estilo.”
Guilherme Dinardi

O novato Guilherme Dinardi é um nome que vale ficar de olho. Sua ligação com a música veio desde o berço devido aos pais que ouviam hits dos anos 80/90 e isso o cativou logo de início. Mas a Dance Music mexeu com seu coração. Claro, como bom gaúcho passou pela fase do indie rock que influenciou muito. E lhe rendeu um tempo trabalhando na rádio com um programa focado em artistas independentes do Brasil.
Sua paixão fulminante foi a ítalo disco/house. Mesmo que não tenha vivido a época de ouro do estilo, o DJ tem 22 anos, Gui Dinardi tornou-se um apreciador de climas espaciais e sonoridade do estilo. ”Não me considero um garimpador nato de sons, mas me considero um garimpador que reconhece o que uma pista gostaria de ouvir, gosto muito de descobrir sons novos e de lugares distintos então acho que posso me considerar um.”
Dos inúmeros DJS/produtores que o inspiram, ele cita: Romain FX, Running Hot, Avalon Emerson, Skatebard & Franz Scala. E da cena local ele endossa Mau Maioli, If This Is, Barsotti, Fritzo, Coletivo Neue, a Pane e a Plano. Um resumo do que há de mais legal na cena gaúcha eletrônica atual.
Sobre ter escolhido ser DJ e às vezes bater aquele mixed feelings, Dinardi dá o recado: “Não posso negar que as vezes acho que cometi uma loucura, mas acredito que isso aconteça com todo mundo e em todas as áreas profissionais, sempre que me bate essa pergunta, lembro de todos os comentários positivos sobre meus sets e sobre como a pista se manteve enquanto eu tocava, acho que essas são as respostas que fazem com que eu nunca desista da profissão.”