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O B2B mais longevo da história da dance music! Conheça curiosidades do início da parceria entre Sasha & Digweed, que retornam ao Brasil em dezembro

O que é preciso para romper as amarras do tempo e se manter relevante por mais de 30 anos? Bem, Sasha & John Digweed parecem que detêm uma fórmula mágica que persiste em manter fãs devotos por décadas, ao mesmo tempo que angariam novos seguidores a cada apresentação; tocar juntos por várias horas criando uma experiência sonora única. 

Eles se conheceram no início dos anos 90 e cresceram junto com a boom da cena clubber na Inglaterra, sendo pioneiros em criar novas estéticas de mixagem e no conceito de álbuns mixados para o mercado. Além disso, a ideia de fazer projetos em conjunto não existia até então. É realmente um legado gigantesco, dos primórdios do progressive house até a criação de marcas globais como a LAST NIGHT ON EARTH e BEDROCK, suas labels que são verdadeiros impérios da cena underground, lançando novos artistas e promovendo suas visões sonoras ao longo do tempo. 

Em 2021, eles concederam uma entrevista bem detalhada, algo raro de se conseguir, para a Red Bull, contando curiosidades e nuances desta parceria na discotecagem. Selecionamos alguns pedaços para o público saber mais dos intitulados ‘’arquitetos de uma era’’, que chegam ao Brasil para 2 shows. Um acontece dia 5 no espaço Garden em São Paulo, cidade tocaram juntos pela última vez há 20 anos no saudoso Skol Beats festival. O outro é um aguardado The Last Dance no Warung Beach Club, retornando nessa fase de encerramento para repetir a dose de um longset que promete ser histórico. 

O INÍCIO

John: Eu já tinha encontrado o Sasha em algumas ocasiões antes de começarmos a tocar juntos. Eu fazia promoções no litoral sul da Inglaterra; essas grandes raves chamadas Storm. Acho que isso foi em 1991.

Sasha: O John era conhecido como ‘JD’ e era residente da Storm. Ele sempre tentava me contratar, mas naquela época eu só tocava a uma ou duas horas de carro de Manchester. Naquele tempo, a ideia de dirigir até o litoral sul parecia que eu estava indo para Marte!

John: Naquela época, ninguém viajava por toda a Inglaterra para fazer shows. E ele tocava no Shelley’s, que era obviamente uma das maiores casas noturnas da Inglaterra. Simplesmente não aconteceu.

                 ‘’Tocamos um depois do outro e a química foi   imediata. Pura química desde o início.’’

Sasha: Eu estava fazendo minha residência no clube Renaissance [‘93] e John enviou um mixtape para Jeff Oakes (dono do clube e gravadora), nós ouvimos e ficamos absolutamente impressionados. A mixagem, as faixas que ele estava usando e a vibe combinavam muito com o que eu estava fazendo, mas também era completamente diferente. Ficamos obcecados com essa fita e Jeff acabou contratando-o para o Renaissance.

John: Enviei uma mixagem para o Renaissance e recebi a ligação para tocar no clube. Nos demos bem desde o início, mas eu não toquei com Sasha lá inicialmente.

Sasha: O primeiro show que fizemos juntos… ele me contratou para tocar na festa da cidade natal dele, no Píer de Hastings.

John: Eu disse: “Olha, você devia vir tocar em uma das minhas festas da Bedrock. A gente nem vai te anunciar no flyer, vai ser bem discreto.” Ninguém esperava que ele estivesse lá. Então eu peguei o microfone e disse: “É nosso convidado especial hoje à noite é o Sasha!” Todo mundo pirou e acabamos tocando um set depois do outro. Foi mais ou menos assim que tudo aconteceu.

Sasha: Tocamos um set depois do outro e rolou uma química instantânea. Foi um daqueles momentos estranhos, mas foi tudo muito natural. Química pura desde o começo.

John: A partir daquele momento, construímos um legado de relacionamento. E naquela época ninguém fazia sets back-to-back. Agora se tornou algo que todos fazem!

GÊNESIS DO CD MIX: COLEÇÕES DA RENAISSANCE MIX & NORTHERN EXPOSURE

Sasha: Acho que Renaissance [The Mix Collection] foi o primeiro CD mixado e compilado feito com vários discos diferentes, uma embalagem realmente bonita e toda uma campanha de marketing por trás. Foi tratado como um lançamento de uma grande gravadora.

John: Antes do que fizemos as pessoas tinham que comprar uma fita cassete duvidosa de uma gravação da boate. Não havia embalagem bonita, não havia informações, não dava a sensação de estar comprando algo como uma lembrança de verdade.

John: O The Mix Collection era um reflexo dos discos que tinham feito sucesso no clube Renaissance. Tínhamos esse conjunto de faixas que as pessoas adoravam, e como ninguém fazia álbuns compilados, essas faixas não tinham aparecido em nenhum outro lançamento. Assim, pudemos escolher a dedo tudo o que queríamos.

Sasha: Pensamos: vamos tentar, vamos ver como soa. O ritmo que criamos deu a sensação de que ninguém tinha feito algo assim antes. Parecia que o mundo era nosso.

John: Os frequentadores de cena local passaram a poder ouvir o que os DJs faziam fora de uma boate. Era como se disséssemos: “Certo, você pode transferir essa experiência para um CD e ainda assim ser tão agradável quanto estar no clube”.

Sasha: Então, com o Northern Exposure (1996), decidimos fazer um álbum mais voltado para ouvir em casa.

John: Acho que Northern Exposure foi uma reação instintiva! Porque depois do álbum da Renaissance, as comportas se abriram: tantos álbuns foram lançados com um monte de faixas de pista que pensamos: precisamos mudar de rumo. Estabelecemos um padrão tão alto com o primeiro álbum, então vamos fazer algo completamente diferente.

Sasha: A ideia era usar músicas que ninguém mais tivesse selecionado antes.

Editor: Esse álbum foi o responsável pelo desejo do Gustavo Conti (sócio fundador do Warung) abrir um clube underground e trazer esse estilo de música para o Brasil. Então, a influência desta compilação ao redor do mundo é imensurável. Northern Exposure foi eleito um dos 25 melhores álbuns da Dance Music de todos os tempos pela revista Rolling Stones. 

NOVA YORK E A MAGIA DO TWILO

Editor: Se Nova York foi a capital da Disco Music nos anos 70 e 80, nos 90 se tornou um epicentro do novo som que os ingleses ajudaram a criar; progressive house. Eles tinham absorvido o Acid House de Chicago anos antes e devolveram para os EUA algo mais sofisticado, algo que definiu toda uma era de dominância na cena global a partir da residência que tiveram no clube Twilo. 

FOTO: John Digweed and Sasha in front of the legendary Twilo (NYC)

John: O Twilo ainda é o melhor clube em que já toquei, porque o sistema de som era inacreditável. Tinha um som incrível, cristalino, muito alto, mas ainda dava para conversar na pista de dança. Então não causava cansaço; você nunca saía de lá com os ouvidos zumbindo. Era simplesmente o som mais puro e cristalino que você já ouviu.

Sasha: Na primeira vez que tocamos lá, fizemos um set que provavelmente era musical demais. Ficou bem claro, nos primeiros shows, que tipo de música combinava com aquele lugar, era progressivo, sombrio e pulsante.

John: Acho que muita gente provavelmente não esperava que nossa residência no Twilo desse tão certo, porque a cena clubber de Nova York era dominada por DJs nova-iorquinos como Junior Vasquez e Danny Tenaglia. Era um som muito nova-iorquino, e acho que eu e a Sasha trouxemos um som europeu, mas com influência nova-iorquina. E acho que foi isso que nos fez destacar um pouco. Atraiu um público totalmente novo que pensava: “Gostamos dessa música, mas queremos algo um pouco mais pesado, com uma vibe diferente”.

Sasha: O que realmente funcionou lá foi algo mais minimalista, com mixes bem longos, e imediatamente o som do ambiente se tornou evidente; um som mais sombrio que nos agradava bastante. O sistema de som praticamente ditava a música para nós!

DE VOLTA A PARCERIA

Sasha: Quando decidimos dar um tempo (2010), não houve nenhuma grande briga nem nada do tipo, só queríamos trabalhar em alguns projetos solo. Acho que o John talvez tenha levado o som dele para um lado mais forte, e eu comecei a fazer as festas Never Say Never em Ibiza, tocando um set bem mais lento, quase balearic, e acho que seguimos caminhos musicais diferentes por um tempo. Aí, quando nos demos conta, um ano virou cinco ou seis. 

Set Sasha residency Ibiza 2011 / video Digweed aniversário Warung 2011

John: Nos encontramos por acaso no Japão em 2016, jantamos juntos e eu disse: “Que tal fazermos alguns shows juntos?”. Quero dizer, acho que tenho passado um bom tempo desde o nosso último encontro. Simplesmente pareceu certo.

Sasha: O John me convidou para tocar na festa Bedrock dele no Ministry of Sound. Mas decidimos que, se fosse anunciado oficialmente, seria difícil de conseguir e a pressão seria muito grande. John disse: “Por que você não entra pelos fundos? A gente fecha a cabine do DJ e começa a tocar para ver o que acontece.”

John: Ninguém no clube sabia que isso ia acontecer, nem mesmo os funcionários. Eu simplesmente disse para a equipe: “Olha, quero testar esse novo mixer hoje à noite. Vocês podem fazer duas configurações?” Fiz com que eles configurassem exatamente como a Sasha gosta. Coloquei uma tela de gaze na frente da cabine do DJ, para que ninguém pudesse ver nada lá dentro. Aí a Sasha desceu por volta das 2h da manhã e começou a tocar.

Sasha: Literalmente, levou uns 45 minutos para a galera perceber o que estava acontecendo.

John: Alguém de trás da gente twittou uma foto minha e da Sasha na cabine e, obviamente, a foto se espalhou pela pista de dança.

Sasha: E aí, claro, todo mundo começou a pirar.

John: Esse elemento surpresa, de não termos anunciado, assim como da primeira vez que tocamos juntos, tornou a noite muito especial. Provavelmente poderíamos ter tocado até o fim, porque faz seis anos que não tocamos juntos. Mas essa não é a chave para criar uma lembrança especial. O que torna uma lembrança especial é receber algo que você não esperava.

Editor: Desde 2016 S&D tem tocado juntos novamente ao redor do planeta em shows escolhidos a dedo, enquanto continuam suas trajetórias solos a frente de suas gravadoras e fazendo longsets em clubes ao redor do mundo mesmo próximos de completar 60 anos de idade. Ambos são casados e possuem filhos. Sasha vive entre Nova Iorque, Ibiza e Londres, onde tem seu estúdio. Digweed vive em uma província do interior aos arredores de Londres, seu estúdio é um bunker na sua casa. 

Após a pandemia, eles passaram a tocar mais e mais juntos em clubes e assim se abriu a porta para o Warung finalmente conseguir trazer eles em pleno aniversário em 2024. 

Ingresse São Paulo

Ingresse Warung Bech Club

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