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Guy Gerber encontra sua melhor versão no Warung Beach Club. Confira o “The Last Dance” inesquecível com o artista

Fotos: Ebraim Martini

É tempo de templo! Caminhando para os últimos meses, o Warung Beach Club tem voltado a sua melhor forma, proporcionando noites de contornos épicos mesmo quando não se imaginava tanto. Claro que sempre há de esperar muito de Guy Gerber, porém por vezes nos esquecemos do grande DJ que ele é, para além do gênio produtor de dezenas de hits conceituais.

A verdade é que Gerber é um artista com A maiúsculo, multi-instrumentista, organiza e expressa sua visão de mundo das mais diversas formas, desde fotografia, até um concerto na Sicília, uma exposição de suas próprias pinturas em Nova Iorque, ou um live sunset em Ibiza. Entretanto, como ele mesmo diz, ‘’Temple is my home’’, quando pisa no Warung, parece que encontra sua melhor versão, sua alma se conecta intimamente, seja por noites de carnaval memoráveis com a Rumors no antigo Garden ou por noites intensas de final de ano no Main Room. Nunca esqueço do seu set de 2017, onde saímos extasiados e incrédulos com sua apresentação. O seu nome não poderia ficar de fora dos escolhidos a dedo para um ‘“the last dance’’ e ele só provou mais uma vez o porquê disso. 

Ao mesmo tempo que Gerber se transformou ao longo dos anos, principalmente em sua personalidade sonora, ele conseguiu preservar sua essência de forma geral, que é bastante particular. Como assim? O Gerber que eu virei fã e se tornou um dos grandes nomes associados a cena progressiva era um cara sério, que ficava quase o tempo todo olhando o computador, que tirava melodias ao vivo em seu sintetizador Yamaha e mantinha um ritmo de set constante mais lento baseado em groove. 

Ainda que sua música tenha a mesma base tribal progressiva, as tonalidades são diferentes agora. Sua vibe tocando é mais alegre, quando amanhece ele deixa fluir sua verdadeira personalidade e se transforma no Rock Star que sempre quis ser. A música continua com muita percussão, isso não muda, é um mix de tom, percussão, barulhos estranhos e melodias mediterrâneas, muito baseado na região de onde veio. 

Nos primeiros anos de carreira, ele foi apoiado fortemente pela Cocoon de Sven Vath e Bedrock do Digweed, depois foi se moldando conforme absorveu novas experiências de vida, trilhando um caminho bastante solitário dentro do cenário, Gerber não segue tendência, ele as cria, não toca as ‘’promos do mês’’, toca sons atemporais, e seu set no Warung mostrou isso.

Eu lembro de sua aguardada estreia em 2011, como headliner, sendo muito respeitado por causa de Timing, faixa que já era vista como um hino perfeito para o Sunrise. Naquela ocasião ele tocou junto de outras como hate/love e o remix de The L Word com aquele vocal magnético da Jade. Faixas com tom mais misterioso e contemplativo. O vídeo abaixo fala por si. 

Suas temporadas em Ibiza e festas icônicas no Burning Man o fizeram ser um cara bem mais aberto, buscando o público, buscando entregar um som sexy mais baseado no house, com melodias claras, mas também com vocais de hip hop ou guitarras e baixos de jazz. Ele passou a usar muito mais a guitarra do que os pianos em seu processo criativo e isso moldou sua música para algo mais orgânico. Nesse vídeo você pode ver seu processo criativo que é bem interessante, sempre partindo de uma base rítmica, um groove que depois recebe sua visão de mundo.

O que falar desta noite do dia 24 de outubro? Bem, após o ótimo set de Enrico & Carmo, deixando a pista quente, Gerber inicia zerando o jogo e com paciência vai impondo seu ritmo. 

O Sound System estava excelente, com um grave que eu não tinha ouvido ainda nesta nova fase. Espero de verdade que essa regulagem se mantenha até o final, pois faz total diferença para o público entrar dentro da música do artista. 

Não demorou para a pista vibrar e entrar em estágio de ‘’mágica do templo’’ e foi acelerando, usando seu conhecido FX de spray e jogando faixas suas para delírio de todos. Abaixo um resumo das tracks que Gerber tocou na noite, não necessariamente em ordem. 

Da Mike & Lazarusman – ‘’The Thing’’ 

‘’Leave Me’’ (de manhâ) 

‘’Leave It On’’

‘’Dirty Dancing’’ (Bontan & Melé Remix) · Harvard Bass · Bontan · Melé

Adrian Hour – Conga

‘’Lovefool’’ (Gerber Remix)

‘’What to do’’

‘’Secret Encounters’’

Wade Tep & Charles Rickards – ‘’La De Daa’’ (feat Kameelah)

Bontan – ‘’Wile Out’’

Roland Clark – ‘’Speak to Me’’ (acapella)

Mathew Jonson – ‘’Marionette’’

Xinobi – ‘’Piano Lessons’’

‘’Rainchecks in Montreal’’ (Roy remix)

Depeche Mode – ‘’Enjoy the silence’’ (edit ID)

Jerome Sydenham & Dennis Ferrer – ‘’Sandcastles’’

Desire – ‘’Don’t Call’’ (Guy Gerber Rework) 

Kings of Tomorrow featuring Julie McKnight – ‘’Finally’’ (Danny Krivit: Steve Travolta Re-edit)

Anita Ward – Ring My Bell (edit)

Sade – Smooth Operator

O mais interessante é que a melhor música do set e que várias pessoas me pediram no vídeo que postei no instagram escrito ‘’som de Warung’’, ainda não tem identificação. Segue o vídeo dela abaixo. Sem dúvidas uma das faixas do ano. 

A parte noturna do set eu considero muito mais potente do que ano passado e a parte da manhã foi parecida com 2024, porém com uma vibe melhor devido ao incrível sol que surgiu conforme o set foi se estendendo. Todos estavam felizes e ele jogando músicas bem singulares, o que contrasta bastante com aquela vibe mais misteriosa de sua estreia a quase 15 anos atrás. O compilado de vídeos da ANA Track Id demonstra bem isso. 

Abro aqui uma janela para falar que havia um Garden rolando com excelente público, pude ver uma parte do set de Conti & Mandi, dois nomes que são o Warung em si, trazendo de volta aquela estética sonora da era 2011, 2012, onde o boom de Deep House tomou conta da cena e no Warung rolou noites marcantes com aquela geração de produtores. 

Nostalgia total, eles ainda convidaram a cantora curitibana Laura Bonkoski para cantar vários clássicos e foi uma experiência muito bacana. Destaco o vídeo abaixo com “Somothing Special’’ do Miguel Campbell. Outra faixa que eu adoro foi “Think About It’’ (Maceo Plex Remix) · Martin Dawson · Nicholas Ryan Gant.

Voltando ao GG, a repercussão foi imensa e certamente quem não foi se arrependeu. E olha que ele nem precisou tocar suas melhores músicas na minha opinião, faixas mais antigas que eu amo e são grandes clássicos de sua discografia. Abaixo uma série de tracks que poderiam ter feito outra manhã incrível, porém com uma vibe mais contemplativa. 

“Timing, No Distance, Late Bloomers, Catch You By Surprise, Hate Love, Here come the Rain, Walls, Claire, The Mirror Game, Formation Flying, Blue Shadow, The Golden Sun, After Love, Stoppage Time, The L Word, Ataque, Dana, Open Gate, Sea Of Sand, This Is Balagan.”

É fato que os fãs mais atentos esperavam tocar Timing, que insisto; parece que foi feita para o Templo. É possível que GG não encontrou o timing de Timing, ou simplesmente não quis mesmo, devido ao estilo de energia pela manhã ser realmente bem diferente desta estética. Ficou a porta aberta para outro artista toca-la nesta reta final. tenho certeza que isso irá ocorrer. 

Em tempo, olhar tantas músicas incríveis que saíram da mesma mente, serve para perceber o tamanho dele na cena global, poucos produtores têm essa discografia e ainda são capazes de tocar em alto nível. No link playlist com todos os vídeos da noite em meu canal.

Sair do Warung com aquela sensação de ‘’foi como nos velhos tempos’’ talvez tenha sido a grande notícia para as próximas festas. Infelizmente não vou poder prestigiar o aniversário com Lee Burridge, outro ícone do clube, porém todo meu pensamento já está no dia 6 de dezembro quando desembarca os heróis Sasha & John Digweed. 

It’s all about groove