O estudo qualitativo realizado por meio de entrevistas semiestruturadas na pesquisa Exploring Relationships Between Electronic Dance Music Event Participation and Well-being, revelou que os eventos de música eletrônica são vistos por seus frequentadores como verdadeiros espaços de refúgio para a autoexpressão. Os participantes descreveram esses eventos como ambientes onde podem manifestar sua identidade livremente, sem medo de julgamento.
A expressão da identidade surgiu como um subtema importante dentro da dimensão dos “valores compartilhados”, destacando o papel desses encontros em oferecer alívio das pressões sociais que limitam a auto expressão no cotidiano. Como resumiu uma participante chamada Lucy: as pessoas “conseguem escapar por alguns dias e ser quem realmente são” — algo que, segundo muitos entrevistados, não encontram em nenhum outro lugar.
Essa liberdade de ser “o verdadeiro eu” funciona como uma válvula de escape das exigências diárias. Alice, outra participante, comentou que, durante os eventos, as pessoas vivem uma versão “não cotidiana de si mesmas”. Esses momentos criam um espaço onde as inibições diminuem, facilitando uma conexão intensa com a música e a dança. Já Thomas, refletiu sobre o senso de abertura e aceitação entre os presentes, percebendo os frequentadores como pessoas receptivas a novas experiências e dispostas a explorar propostas artísticas diferentes — o que, segundo ele, ajuda a “criar uma atmosfera realmente agradável, acolhedora e amigável”.
O contraste com a vida noturna comercial se torna ainda mais evidente quando o tema é a segurança feminina. Para muitas mulheres, os eventos de música eletrônica oferecem um ambiente mais respeitoso do que os clubs convencionais. Lucy ressaltou esse ponto ao afirmar que, “como mulher, você sente que, em muitas baladas, precisa estar constantemente alerta… Eu realmente não sinto que isso é necessário nem de perto nas festas eletrônicas”. Esse relato indica uma diferença significativa na experiência de gênero entre os diferentes contextos sociais noturnos.
Essa sensação de maior segurança está ligada às motivações que levam as pessoas a esses eventos. Eloise destacou que a comunidade ligada à cultura eletrônica costuma respeitar os limites dos outros, observando que os frequentadores estão ali “pela música ou pela comunidade”, e não “apenas para paquerar” ou “ficar muito bêbado” — comportamentos mais associados às noites em boates tradicionais.
No fim das contas, tanto a liberdade para se expressar quanto a sensação de segurança para as mulheres estão profundamente conectadas aos valores percebidos como comuns na comunidade: aceitação, respeito e não julgamento. Mesmo sem mencionar explicitamente o acrônimo PLUR (paz, amor, unidade e respeito), os participantes evocaram os mesmos princípios. O resultado é um ambiente onde a individualidade é celebrada e os limites sociais são temporariamente suspensos, permitindo que a cultura eletrônica funcione como um espaço de liberdade real — e não apenas simbólica.
It’s all about groove