Pegando todos de surpresa, a poucos dias o lendário DJ e produtor inglês Nick Warren anunciou que estava lançando seu primeiro álbum solo. Como assim, a essa altura do campeonato? Isso mesmo, mesmo sendo um dos pioneiros da dance music, ajudado a solidificar o progressive house britânico pelo mundo, Nick nunca tinha feito um álbum totalmente autoral.
Ainda que sua história como produtor seja muito relevante, afinal ele é parte do extinto projeto Way Out West, uma banda eletrônica de destaque nos anos 90, sua visão 100% autoral nunca tinha se personificado em um conjunto de faixas que pudesse se tornar álbum. Agora, parece que seu tempo chegou e Turbulence é o resultado.
História: Com o projeto Way Out West, ao lado de Jody Wisternoff, o duo alcançou o top 1 chart eletrônico do reino unido com a faixa ‘’The Gift’’ e lançaram 4 álbuns de estúdio, o último em 2016, onde ‘’Tuesday Maybe’’ se tornou um hit global e com certeza um dos maiores lançamentos na história do catálogo da Anjunadeep.
Se manter em constante evolução e aumentar um legado já expressivo não é fácil, especialmente para os artistas que ganharam o mundo pré fase das redes sociais. O fato é que Nick se manteve relevante ao longo das décadas enquanto outros de sua geração desapareceram, e uma das frentes foi continuar fazendo músicas que definem seu estilo. Faixas como Buenos Aires e La Fabrica, por exemplo, são sinônimo de progressive house na década passada.

Em uma época que poucos artistas ainda apostam no conceito de álbum, ver nomes que não devem mais nada para a cena fazendo o seu primeiro, é nada mais que uma grande lição para as novas gerações. Não se trata se alcançar números de vendas, e sim de deixar um legado musical para a história do seu estilo. Esse ano tivemos ainda o primeiro álbum de outra lenda, Jamie Stevens, demonstrando que esse perfil de lançamento ainda pode render visibilidade.
RELEASE ALBUM: Foco, integridade e substância, uma ética de trabalho implacável, somados a uma pitada essencial (ainda que indefinível) de pó mágico, mantém Nick Warren no topo da árvore no cenário eletrônico por quase quarenta anos.
Nesse período, Nick fez tour com a banda Massive Attack, foi residente no lendário club Cream, foi presença constante no festival Glastonbury e curador de dezenas de compilações – desde a série Global Underground, até Renaissance, Balance e claro as marcas The Sound Garden e Hope Recording. É um currículo e tanto, uma carreira que muitos só poderiam sonhar. Mas Nick ainda tinha uma outra vontade que precisava ser vencida. A inspiração pelos velhos discos do seu pai, Jean-Michel Jarre e Tangerine Dream, o levou ao ‘’Turbulence’’.

O mundo é certamente um lugar turbulento agora; na sua interpretação do mundo atual, turbulência é nada mais do que um sentimento de intensidade elevado, marcado por uma sensação de imprevisibilidade. Turbulence é uma janela para a alma musical de Nick e para a miríade de estilos e influências que residem lá, injetados em um caldeirão melódico que cria um ensopado sonoro único. Tempos e estilos alternam e se entrelaçam sem esforço, o clima oscila como seus melhores dias de DJ, e a ordem de execução, desde a etérea abertura Loveland até a belíssima faixa final Sadly (em conjunto com Tripswitch, uma das várias colaborações notáveis), apresenta um artista no auge da carreira e com um profundo entendimento do conceito de long player.
Todos nós precisamos de um pouco de turbulência.
It’s all about groove