Em entrevista, Ollie Mundy fala sobre sua estreia pela Adesso Music e os rumos de sua carreira

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Por em 31 de julho, 2025 - 31/07/2025

Baseado em Londres, Ollie Mundy é um dos nomes que vêm ganhando espaço no circuito internacional por sua abordagem sensível e melódica dentro da música eletrônica. Seu trabalho transita entre o House, o Afro e o Techno com influências emocionais, percussivas e uma estética fortemente conectada à pista, mas também à introspecção.

Além de comandar o selo OvavaMusic, ele já lançou por gravadoras como Sondela e My Other Side of The Moon, e acumula passagens por eventos como Burning Man, Secret Garden Party e Back To Mine, além de uma residência no projeto Lost In Sound e um programa mensal na Bloop Radio London. Mundy também ficou conhecido por sua série de sets “Deep Tunes For Deep Playa”, no YouTube, onde apresenta faixas com ambientação hipnótica, texturas orgânicas e apelo emocional.

Falando sobre seu trabalho de estúdio, ele está demonstrando uma estética cada vez mais polida. Seu novo lançamento, “The Mountains”, saiu recentemente pela Adesso Music e marcou o seu terceiro release neste ano. A faixa reforça sua identidade artística e aponta novos caminhos para a gravadora, que tem ampliado seu escopo para abraçar sonoridades conectadas ao Afro House e ao Melodic House.

Nesta entrevista, conversamos com Ollie sobre o novo single, o processo de criação da faixa, a relação com a Adesso e os elementos que norteiam sua jornada como DJ e produtor. Acompanhe:

Olá, Ollie! Obrigado por nos receber. Você tem uma sonoridade bastante particular, que combina elementos percussivos, atmosferas melódicas e uma sensibilidade emocional. Como foi o caminho até chegar nesse ponto de equilíbrio entre pista e introspecção? Foi algo calculado ou mais natural? 

Muito obrigado por me receber. Pra mim, o equilíbrio entre o introspectivo e a pista de dança sempre foi natural. Nunca quis fazer música apenas funcional — me atraem sons que trazem emoção, narrativa e atmosfera. No começo, fui inspirado por artistas que conseguiam fazer você sentir algo profundo enquanto mantinham você em movimento, e isso me marcou. As batidas vêm do meu amor pela percussão afro e tribal, enquanto as melodias e texturas refletem mais meu mundo interior — são frequentemente meditativas ou melancólicas. Então acho que não é algo calculado estrategicamente, mas é intencional. Quero que cada faixa seja uma jornada emocional completa onde você possa dançar.

Seu novo single, “The Mountains”, reforça bastante essa identidade. O que te inspirou criativamente nessa faixa e qual foi o ponto de partida para construí-la?

A inspiração veio de uma fala do Jake Gyllenhaal sobre o filme Donnie Darko. Ele explicava como a história é sobre descobrir quem você é — que a vida é uma jornada complexa e às vezes estranha de autoconhecimento. Quando ouvi isso, pareceu profundíssimo e soube que queria criar algo em torno disso. Isso virou o vocal de “The Mountains”. A partir daí, quis trazer elementos mais sombrios e cinematográficos pra refletir o tom do filme, mas mantendo a conexão com o mundo afro-melódico que amo. Essa intenção inicial moldou cada parte da produção — a percussão, as melodias, a atmosfera. É uma faixa sobre crescimento interior e resiliência emocional.

Esse é seu primeiro lançamento pela Adesso Music. Como surgiu essa conexão com o selo do Junior Jack? Você já acompanhava o trabalho da gravadora?

Sim, eu acompanhava a Adesso faz tempo. Adorava como eles estavam evoluindo — entrando num território mais profundo e emotivo, mas ainda com grooves fortes. Quando “The Mountains” ficou pronta, senti que era exatamente o tipo de track que se alinhava àquela visão. Enviei pra eles e a resposta foi ótima. Trabalhar com um selo como a Adesso, ainda mais sabendo que o Junior Jack está por trás, foi uma confirmação sólida de que a música estava chegando onde precisava. Eles entenderam a faixa não só como um registro de dança, mas como algo com alma — e isso significou muito.

Nos últimos meses, inclusive, a Adesso tem apostado em faixas mais conectadas ao Afro e Melodic House, o que parece ter bastante relação com o seu som também. Como você vê essa abertura para novas nuances dentro do circuito?

Acho que é um momento muito empolgante. A cena eletrônica está ficando mais aberta à narrativa emocional e à fusão cultural. Elementos afro e melódicos trazem profundidade, espiritualidade e um senso de atemporalidade pra música eletrônica — e é incrível ver mais selos e artistas abraçando isso. Pra mim, não é sobre tendências, mas sobre honestidade na música. Quando selos como a Adesso focam nessas vertentes mais sutis, mostra que as pessoas buscam mais conexão ao ouvir e dançar. Dá espaço a artistas como eu, que querem levar algo significativo pra dentro do clube.

Falando em gravadoras, você também vem desenvolvendo seu próprio selo, o OvavaMusic. Qual é a proposta por trás da label e o que tem te motivado a seguir esse caminho de curadoria?

A Ovava Music é um lar pra sons profundos, terrosos e emotivos. Criei porque queria um espaço pra lançar músicas que não precisassem seguir tendências — algo mais alinhado espiritualmente à minha visão artística. Não é só sobre lançar faixas; é sobre criar uma identidade sonora. O selo me dá liberdade pra explorar e apoiar outros artistas com essa mesma essência. Ainda é o começo, mas vejo isso como um espaço pra construir algo duradouro — uma comunidade e um catálogo que representem substância e emoção na eletrônica.

Muita gente te conheceu por meio da série “Deep Tunes For Deep Playa”, que fez muito sucesso no Youtube há alguns anos. O quanto o Burning Man influenciou — ou ainda influencia — a forma como você pensa música e performance?

O Burning Man teve um impacto enorme em mim, tanto como pessoa quanto artista. É um lugar onde as fronteiras se dissolvem — entre gêneros, pessoas, som e emoção. Tocar lá, especialmente no Deep Playa, me ensinou que a música não precisa ser alta ou agressiva pra ser poderosa. Pode ser sutil, de queima lenta, e ainda assim completamente transformadora. Essa filosofia moldou meu jeito de pensar sobre DJing e produção. Sempre busco criar momentos imersivos e emocionalmente ressonantes, como os que vivi lá.

Por fim, olhando para tudo o que você vem construindo — shows, lançamentos, seu selo, o reconhecimento crescente — o que tem te deixado mais animado em relação ao futuro? Quais os seus planos para esse segundo semestre do ano e além? Obrigado!

Tô muito animado com a direção que as coisas estão tomando. Tem mais música vindo — tanto minha quanto de artistas da Ovava — e estou mergulhado na criação de um live show que vai trazer todas essas camadas emocionais pra vida de um jeito novo. Também tenho shows especiais agendados, inclusive de retorno a lugares que me inspiraram no começo. Mas além disso, só gratidão por construir algo significativo. O objetivo é continuar evoluindo, manter a honestidade e levar as pessoas nessa jornada através do som. Muito obrigado pela conversa — foi um prazer.

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