Michelangelo De Pasquale, mais conhecido como Maike Depas, é um artista italiano baseado em Milão que carrega uma formação clássica com estudos em piano e composição e uma estética sonora voltada à intensidade e à experimentação. Ao longo dos anos, soube transformar essa bagagem em um estilo próprio dentro do Hard Techno: pesado e carregado de energia.
Além da produção musical, Maike tem aprofundado sua identidade artística por meio do aspecto visual. Seus projetos incluem apresentações em locais como Teufelsberg (Berlim), e colaborações com marcas como a Demobaza, conectando música, moda e cenografia distópica em uma mesma narrativa estética.
Além disso, sua gravadora The Innovation Studio Records, fundada em 2023, vem se consolidando como um espaço voltado à toda sua liberdade criativa. Agora, com o lançamento da primeira compilação oficial do selo, Hard Never Dies, Maike apresenta um recorte afiado do momento atual do Hard Techno reunindo dez faixas de diferentes nomes talentosos da cena, e participa com a sua “Bass In My Face”, que funciona como ponto de partida do projeto.
Tivemos a chance de falar com exclusividade com o italiano sobre a compilação, a sua visão perante os rumos do Hard Techno, sua visão estética e os próximos passos da gravadora. Se você é fã do estilo, precisa conferir esse bate-papo:
Lançar uma compilação como ‘HARD NEVER DIES’ pela The Innovation Studio Records parece ser um marco importante. O que esse projeto representa para você em termos de visão artística e impacto na cena?
Na The Innovation Studio Records, nossa missão é abrir espaço para a próxima geração de grandes talentos da cena Hard Techno, ao mesmo tempo em que construímos uma identidade sonora forte e entregamos música da mais alta qualidade — algo que realmente se destaque no cenário global.
Com Hard Never Dies, eu quis fazer uma declaração ousada: uma compilação que reúne artistas que admiro profundamente, e que estão ativamente moldando e fortalecendo nossa comunidade internacional. E isso é só o começo. TISVA001 marca o lançamento de um projeto muito maior, que continuará acolhendo tanto artistas em ascensão quanto nomes já consolidados do mundo todo dentro da família TIS Records. Pra nós, a música sempre vem em primeiro lugar.
Reunir tantos nomes talentosos da cena contemporânea de hard techno certamente não foi fácil. Como foi feita a curadoria dos artistas e como fluiu a troca de ideias durante o processo de finalização da compilação?
A curadoria foi cuidadosamente pensada para refletir as muitas nuances da nossa paixão em comum pelo Hard Techno. Cada artista traz um som distinto que reflete sua personalidade e sua visão musical única. O que une todos em Hard Never Dies é uma abordagem sonora ousada, sem concessões, e uma conexão autêntica com a cultura rave.
Essa compilação é mais do que um lançamento, é uma declaração de quem somos, e um passo firme em direção ao futuro que estamos construindo. A TIS Records não é apenas um selo; é um movimento baseado em integridade artística, produção visionária e um compromisso genuíno com a evolução da cena Hard Techno.
Sua faixa ‘Bass In My Face’ traz uma energia brutal e definitivamente chamou nossa atenção. Que tipo de energia você quis transmitir com ela? Foi uma escolha natural entre suas produções para entrar na compilação?
“Bass In My Face” carrega a energia crua e a paixão que os ravers trazem para a pista. Eu queria criar uma faixa em que a força do baixo refletisse a euforia de um momento raver de verdade, quando o som toma conta e você se perde completamente. O processo criativo foi muito natural, e acredito que isso ajudou a definir o tom de toda a compilação. Desde o primeiro kick, ela comunica exatamente sobre o que é esse projeto: somos uma comunidade forte e unida.
Você vem de uma formação clássica e hoje está totalmente imerso no hard techno. Como essas influências coexistem no seu trabalho? Que aspectos do universo clássico ainda estão presentes na sua abordagem musical?
Minha formação clássica ainda tem um papel importante no meu processo de produção, especialmente na forma como penso a estrutura, o design de som e a unidade geral dos elementos dentro de uma faixa.
Misturar diferentes estilos de escrita, assinaturas rítmicas ou formas musicais não é uma limitação — é, na verdade, um fator que expande a criatividade.
É como ser um pintor com uma paleta de cores ampla: se você souber colocar os elementos certos no lugar certo, pode criar algo realmente poderoso. É assim que vejo a fusão entre a disciplina clássica e a energia bruta do Hard Techno.
A The Innovation Studio Records está construindo uma identidade forte e parece disposta a desafiar algumas fórmulas já estabelecidas. Como você enxerga o futuro do selo, especialmente em um momento em que o hard techno está tão em evidência?
Hard Never Dies marca o início de uma jornada musical mais ampla para a The Innovation Studio Records. Nosso objetivo é liderar a cena eletrônica ultrapassando os limites tradicionais do Hard Techno, abraçando novas influências e ajudando o gênero a evoluir para algo que ainda nem conseguimos imaginar.
Como artista, acredito profundamente em um futuro moldado pela colaboração, onde as mentes criativas da família TIS possam superar as limitações do mercado atual e explorar novas fronteiras sonoras. A experimentação e a liberdade artística estão no centro de tudo que fazemos. É aí que a música realmente ressoa: quando tem liberdade para inovar, surpreender e criar conexões significativas. Esse é o caminho que estamos seguindo, e Hard Never Dies é só o primeiro passo.
Nos próximos meses, vamos lançar diversos novos projetos pela TIS Records, com alguns dos nomes mais respeitados da cena internacional. Mal podemos esperar para compartilhar esse próximo capítulo com nosso público.
O hard techno está vivendo uma onda global de popularidade, mas também enfrenta críticas por supostamente carecer de inovação. Como você enxerga essa dinâmica e o que acha que o gênero precisa para continuar se reinventando?
A crítica sempre existiu em torno das formas de arte dominantes de cada época. Faz parte da evolução. Como artistas, sentimos constantemente a necessidade de questionar nossas próprias criações. Esse diálogo interno é o que nos faz crescer, melhorar e, no fim das contas, inovar.
Hoje, o cenário cultural é fortemente moldado por algoritmos, que muitas vezes empurram os artistas para fórmulas previsíveis e comerciais. Esse é um modelo que sufoca a individualidade e freia a verdadeira inovação na música.
Na minha visão, o único caminho é abraçar o risco, entrar no desconhecido. É aí que a identidade artística real surge, especialmente em um tempo em que grande parte do público consome “fast food music”. O Hard Techno não precisa seguir tendências. Ele precisa liderar.
Você tem explorado cada vez mais uma estética distópica, com apresentações ao vivo em locais icônicos como Teufelsberg e colaborações visuais com a Demobaza. De onde vem esse desejo de conectar som e imagem de forma tão intensa?
O que me move diariamente na minha jornada artística é a necessidade de comunicar algo que vá além da música em si. Nunca enxerguei o som como uma mensagem isolada — existem tantas outras formas de arte que merecem estar presentes em um show ao vivo, porque fazem parte do nosso legado enquanto artistas eletrônicos.
Sempre sonhei em criar um personagem através da minha música, alguém que exista em duas dimensões: uma ancorada na nossa realidade atual, e outra projetada em um futuro distópico. Essa visão naturalmente me levou a colaborar com criativos de fora do universo musical, incluindo estilistas, fotógrafos, artistas 3D, cineastas e muito mais.
Som e imagem são inseparáveis no meu trabalho. Quando se fundem, a mensagem se torna verdadeiramente imersiva.
Pra finalizar, qual é o segredo para manter a autenticidade e, ao mesmo tempo, se conectar com diferentes públicos?
Não existe um “segredo” de verdade, mas pra mim, autenticidade começa quando você permanece fiel à sua própria voz interior, mesmo quando a pressão para seguir tendências é grande. Conectar-se com diferentes públicos não significa diluir sua mensagem; significa encontrar o núcleo emocional do que você está expressando e deixar que isso fale mais alto do que qualquer fórmula.
Acredito que quando sua identidade artística é sólida, ela vira uma ponte — não uma barreira. As pessoas sentem quando algo é verdadeiro. É isso que constrói conexões duradouras, independente de onde elas venham.
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