“Quem é rei nunca perde a majestade”. Essa frase define perfeitamente Marco Carola, um dos gigantes da música eletrônica que atravessou décadas com uma relevância que poucos alcançaram. Seja nos anos 90, quando foi um dos pioneiros do Techno na Itália, nos anos 2000, quando migrou para o Minimal e também se tornou referência, ou mesmo hoje, com um estilo que se conecta mais com o Tech House, Carola continua sendo uma das grandes lendas do cenário underground, provando que, mesmo adaptando-se em diferentes momentos, sua influência permanece gigante.
Por isso sua nova vinda ao Brasil gerou muito burburinho ao ser anunciada. Com agenda preenchida no dia 02 de novembro, em São Paulo, no Vale do Anhangabaú, e no dia 03, em Camboriú, no Surreal Park, todos aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de vê-lo em ação querem riscar seu nome da lista, e quem já o viu sabe que repetir a dose não é demais se tratando de Carola. Mas você conhece mais a fundo a história do artista italiano? Caso não, a gente te conta com mais detalhes abaixo:
Como começou a carreira de Marco Carola?
Marco Carola nasceu em 7 de fevereiro de 1975, em Nápoles, uma cidade que é conhecida não só por ser a “terra natal” da pizza, como também por sua gigante cultura musical e belezas naturais, tanto que o centro histórico da cidade é considerado Patrimônio Mundial da UNESCO. E logo no início da adolescência, Carola já teve seu contato com a música de forma mais direta quando ganhou uma bateria, aos 13 anos de idade. Porém, foi em 1990, com a explosão da cena house italiana e o fervor do acid house no Reino Unido, que ele decidiu trocar a bateria por dois toca-discos e um mixer, movimento que mudou o curso da sua vida para sempre.
Mas a Dance Music já era uma realidade para ele antes disso. Em uma entrevista para a VICE em 2015, ele disse: “Eu vivia nos clubs desde os meus 12 anos (risos). Em Nápoles, ninguém se importa com a idade. Nós fazíamos as regras”. Inclusive, era o pai do amigo de Marco que era dono de um club, então provavelmente essa história deve ser real. Sua primeira “gig” aconteceu alguns meses depois, tocando na festa de 16 anos de um amigo, já que ele era o único DJ entre todos do seu grupo. E ele não esconde que no início não enxergava futuro como DJ. “Eu realmente não via nenhuma possibilidade de viver disso. Aconteceu apenas por pura paixão”, contou à VICE.
A partir de então, Carola começou a dominar os decks e a se destacar nas pistas de dança italianas tocando Disco e House. No entanto, em meados de 1993, ele sentiu que precisava mudar, entregar algo diferente, foi quando descobriu o Techno e começou a moldar sua identidade em torno de um estilo mais bruto e acelerado, uma oportunidade de apresentar um som mais fresh, ousado e experimental na cena em que estava inserido, às vezes até puxando um pouco para o Trance. Foi nesse mesmo período que ele começou a criar suas primeiras faixas.
As primeiras iniciativas
Em 1996, Marco Carola deu um passo fundamental em sua carreira ao fundar o selo Design Music, o primeiro dedicado exclusivamente ao Techno na Itália. Seu lançamento de estreia, o EP Man Train, surpreendeu o público por conta da sonoridade diferente. O som pesado e acelerado de suas produções logo chamou a atenção de DJs e fãs ao redor do mundo. A partir daí, ele seguiu criando outros selos importantes, como Zenit, Question e One Thousands Records, cada um oferecendo uma nova perspectiva sobre o Techno.
Nos anos seguintes, a carreira de Carola continuou expandindo. Em 1998, ele embarcou em sua primeira turnê internacional pela Austrália, seguida por apresentações no Canadá e Estados Unidos. Suas performances com três toca-discos se tornaram uma marca registrada, colocando-o como um dos DJs mais requisitados da época. Com sua precisão técnica e a habilidade de criar atmosferas hipnotizantes nas pistas, ele foi parar no topo junto de alguns dos DJs do mais alto escalão.
A mudança para o Minimal
Com o passar dos anos, Marco Carola começou a mudar bastante sua sonoridade, seus lançamentos e sets começaram a mostrar um artista totalmente influenciado pela esfera mais minimalista, principalmente a partir de 2004. Um dos trabalhos que retrata muito bem essa transição é o seu EP Apnea, de 2007, lançado pela icônica gravadora Plus 8, que marcou sua entrada na Minus, de Richie Hawtin. Seu EP Walking Dog, este de 2009, também reflete essa sonoridade mais groovada, com foco na linha de baixo, mas sem um ritmo tão intenso como era nas suas produções iniciais. Além desses releases, Carola também foi responsável por uma série de compilações, incluindo uma icônica para a Fabric, em 2006.
Mas 2011 talvez seja o ano mais histórico de toda sua jornada, isso porque foi quando ele lançou o álbum Play It Loud!, pela Minus, que foi um marco na sua carreira, abrindo caminho para novas turnês internacionais e reafirmando seu domínio sobre o Minimal, com destaque para a faixa-título, que hoje ultrapassa mais de 4,8 milhões de plays só no Spotify.
Music On
Foi no mesmo ano de 2011 que ele começou a série de festas e residências da Music On, basicamente uma noite sem muitas frescuras para que ele pudesse alimentar sua paixão por música e tocar por horas e horas seguidas. A festa já aconteceu em vários lugares do mundo, incluindo Miami, Londres, Amsterdam e Nova York, mas é em Ibiza onde a magia acontece de verdade e onde a festa se tornou um dos eventos mais imperdíveis durante a temporada de verão na Espanha.
Tanto que a Music On se tornou o seu principal projeto desde então, é onde ele dedica mais energia para continuar mostrando ao público músicas de qualidade que muitas vezes não são tão fáceis de assimilar. “O objetivo é tocar algo difícil e ainda mais pessoas gostarem. Esse é o meu trabalho, e acho que deveria ser o trabalho de todo DJ”, disse naquela mesma entrevista para a VICE.
Mas volta e meia ele também apronta algumas histórias que se espalham por aí, como em 2015, durante o festival Sunwaves na Romênia, quando realizou uma de suas performances mais comentadas: um set de 24 horas, sem parar, algo que mostrou o quanto ele realmente ama o que faz e o quanto ele gosta de compartilhar sua pesquisa com o público da pista.
Momento atual
Muita gente sente falta do “antigo” Marco Carola, mas a verdade é que mesmo tocando um som bem diferente das décadas passadas, ele ainda consegue fazer o mais importante: manter a pista dançando do início ao fim com uma seleção de faixas excelente dentro do Tech House. O groove ainda está presente e a vibe mais minimalista também aparece em alguns momentos. Isso somado à sua técnica impecável nas mixagens faz com que seus sets que duram horas pareçam apenas alguns minutos.
Vale a pena, inclusive, você assistir alguns sets que ele postou nos últimos meses e anos mais recentes, como este publicado há três meses durante uma edição da Music On em Amsterdam, ou este aqui no mesmo local, só que de 2023. Tem também um b2b com Jamie Jones que vale muito a pena, e também outro um pouco mais antigo, de 2020, gravado no Space Miami, sem público, mas mixando apenas com vinil.
Em todos eles você vai perceber como Carola está conectado com o Tech House atual e como ele consegue manter um set cadenciado, com um ritmo constante e a energia no alto, isso tudo fugindo de drops ou efeitos exagerados, algo muito comum nos dias de hoje. O set de Carola é mais “refinado”, ele aposta mais em mixagens sutis e bem feitas, na seleção musical e no groove, do que em faixas apelativas ou muito “barulhentas”. É essa sensibilidade que faz dele um DJ tão ovacionado e que conquista tanta gente pelo mundo.
Portanto, se você ainda não teve a chance de ver Marco Carola em ação, essa oportunidade não pode passar em branco. Aproveite sua vinda ao Surreal Park na festa especial que rola dia 03 de novembro, no domingo, em formato sunset, para curtir um evento realmente diferenciado que ainda contará com Ratier, Classmatic, BAPP, Camila Jun, Sheldon e Vicente Schiavenin. Os ingressos antecipados podem ser adquiridos através da Blueticket.
It’s all about groove