No turbilhão da indústria musical, as tendências surgem e desaparecem em ciclos, cada uma deixando sua marca na cultura global. Da música eletrônica ao pop mainstream, o tempo de duração de uma tendência é um fenômeno fascinante, medido pela sua capacidade de capturar a imaginação do público e influenciar o mercado. Festivais europeus como grandes ditadores de tendências musicais e plataformas de streaming como o Spotify desempenham papéis cruciais na popularização e solidificação dessas tendências.
O Afro House, o Tech House e o Techno Melódico são exemplos vivos de estilos que conquistaram uma base sólida de seguidores ao longo do tempo. Originados principalmente nos clubs europeus, ou mesmo da Dance Music underground Sul africana — no caso do Afro House — e amplificados por festivais renomados como o Tomorrowland, DGTL, Awakenings e Coachella, ou por canais como o gigantesco Cercle, é possível dizer que esses gêneros encontraram seu caminho para o mainstream em grande razão por conta da exposição contínua em playlists curadas e algoritmos de recomendação de plataformas de streaming, bem como pelo “match” com a geração de clubbers atuais. O sucesso dessas vertentes reflete a identidade dos ouvintes da geração atual, mas como tudo evolui, inclusive a personalidade e as preferências desses mesmos ouvintes, as tendências também tendem à transformação.
A dicotomia entre mainstream e underground é um aspecto intrínseco da música eletrônica, onde o que é underground hoje pode se tornar mainstream amanhã e vice-versa. O Eurodance, por exemplo, uma vez dominou as paradas de sucesso na década de 90, mas agora é mais frequentemente encontrado nos circuitos underground. Similarmente, o Afro House, que um dia foi uma presença discreta nos festivais europeus, hoje é um dos estilos mais populares e amplamente reconhecidos da cena eletrônica global. E agora que esta vertente está nos highlights dos festivais globais, o que será que virá depois?
A ascensão dos algoritmos de recomendação trouxe uma mudança paradigmática na forma como as tendências musicais emergem e se espalham. Enquanto as rádios tradicionais costumavam ditar o que era popular, plataformas como o Spotify agora utilizam dados precisos de streaming e preferências individuais para impulsionar novos gêneros e artistas. Além disso, as mídias sociais, em especial plataformas de short vídeos como o Tiktok e o Reels do Instagram, são fontes de vídeos virais que contagiam multidões a partir de conteúdos embalados por suas trilhas sonoras. Um exemplo disso foram os milhares de vídeos de dancinhas do Tiktok com a trend #AfroHouse no final do ano passado, que ajudou a catapultar a popularização do estilo para os ouvintes do mundo inteiro, além dos vídeos curtos de apresentações como as do Keinemusik nas pirâmides do Egito e do próprio Black Coffee, que também inflaram a globalização do gênero.
Essa democratização da descoberta musical tem permitido que fusões inovadoras de estilos se desenvolvam de uma forma diferente e até mesmo mais rápida em relação aos ciclos de décadas anteriores, contribuindo para a diversidade e o dinamismo da cena musical atual.
Para tentar prever o que podemos encontrar adiante, é preciso analisar o momento atual do cenário global. A fusão entre funk e techno/tech house está emergindo como uma potencial nova tendência popular. Medalhões da cena como Nina Kraviz, Seth Troxler, Amine Edge, Claude VonStroke têm incorporado elementos do funk em seus sets, introduzindo novas texturas e ritmos que cativam tanto o público underground quanto os frequentadores de grandes festivais como o Tomorrowland. A fusão promete ser um terreno fértil para a experimentação e a inovação nos próximos anos.
A onda musical em torno dos High BPM também está de volta e com uma força totalmente revigorada nas pistas do underground mundial. Hard Techno, Hard House e Trance vem marcando presença em sets de artistas-chave do cenário mundial como 99999999, I Hate Models, Indira Paganotto e Nastia justamente pela energia dançante e explosiva que eleva a voltagem das pistas de dança. Certamente não é uma estética que seja tão requisitada pelos clubbers e ouvintes de meia idade, mas a nova geração tem conectado uma grande identificação com esses gêneros, e naturalmente, as preferências da nova geração, podem ditar o que virá a seguir como tendência global.
Ainda, os gêneros de referência na música de diáspora, incluindo vertentes como Ballroom, Drill, Amapiano e Grime, também vem ganhando destaque nas playlists de ouvintes da nova geração, sendo um forte candidato a nova tendência global. Historicamente, a música de diáspora negra frequentemente esteve na vanguarda das grandes tendências musicais, como foi o caso do próprio House, Afro House e do Techno. Com suas raízes profundas na cultura e na identidade, esses estilos têm o potencial não apenas de furar a bolha do underground, mas também de influenciar profundamente o mainstream globalmente.
Olhando para o futuro, é inevitável que novos gêneros e estilos continuem a emergir, desafiando as fronteiras entre mainstream e underground. Assim como além do Afro House e Techno Melódico, o Organic House e o Indie Dance encontraram seu caminho para a luz dos holofotes nos últimos anos, o próximo grande movimento poderá vir de uma fusão inesperada de influências ou de uma reinterpretação radical de um gênero existente. A música eletrônica, em sua essência, é um terreno fértil para a inovação e a experimentação, e cabe aos artistas, produtores, plataformas de streaming e ouvintes abraçar essa evolução constante.
Para concluir nossa especulação, o que pode vir depois do Afro House é um horizonte de possibilidades infinitas, onde a criatividade e a diversidade continuarão a moldar os sons que definem nossa época. Este é um momento bem interessante na história da música eletrônica, onde o futuro está sendo moldado por cada batida, cada nota e cada nova descoberta musical.
It’s all about groove