Como foi o aguardado set de Guy J na pista Bells do Surreal Park

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Por em 5 de agosto, 2024 - 05/08/2024

Uma das noites mais esperadas de 2024 no calendário do circuito eletrônico nacional finalmente aconteceu no último dia 19 de julho. Estamos falando do aguardado retorno de Guy J ao Surreal Park em Camboriú. A data fazia parte de uma tour de 3 noites pelo Brasil, sendo D-edge no dia 18 e Amazon Club no dia 20. Esse detalhe de se apresentar 3 vezes seguidas em um país continental iria impactar no resultado desta apresentação, onde irei analisar neste review. Ainda vale destacar a força que o progressive house passou a deter nos últimos anos aqui no país, onde por exemplo um dos maiores expoentes do momento como Guy J vem a América do Sul sem passar pela Argentina, algo muito difícil de acontecer devido ao imenso público e demanda que o artista possui no país vizinho.  

O anúncio de sua vinda aconteceu já em abril, após centenas de pedidos dos frequentadores por seu retorno após uma impactante estreia em dezembro de 2023 na pista Nomad. Desta vez, o clube abriu votação de forma democrática para o público escolher qual pista gostaria de ver o ‘’baixinho’’ e a Bells venceu com folga! Motivo? Seu clima obscuro e sound system potente, além de ser fechada devido ao frio do inverno, foram determinantes. Chegando na data no evento, todos os camarotes, mesas e mais de 2,5 mil ingressos já haviam sido vendidos, um sucesso! 

Ainda que houvessem pedidos por all night long, algo que Guy J tem feito em algumas ocasiões pelo mundo, devido a uma tour sem dias de descanso, ficou claro que não iria acontecer. Apenas próximo ao evento saiu a composição de line-up com Adnan Sharif e Teclas. A verdade é que todos só queriam saber de ouvir o Israelense fazendo sua mágica na pista de dança.   

Cheguei no clube por volta da 01h, que já estava cheio e com uma boa vibe de ansiedade pela presença de Guy J. Como falei no último review, ele está no auge da carreira, com uma entrega sonora forte a cada apresentação. Eu sou de uma geração de clubbers que descobriu artistas que já eram muito grandes a anos, então não tive o privilégio de acompanhá-los crescendo. Algo que felizmente estou podendo ver de perto com Guy J.

 De um jovem prodígio apresentado ao mundo pela Bedrock de John Digweed até se tornar referência para toda uma geração de produtores, além de head de uma das labels mais aclamadas do mundo. Porém, principalmente, acompanhou sua formação, crescimento e transformação em um verdadeiro mestre das pistas como DJ. De aluno a exemplo na arte de conduzir a pista de dança, um título que não se concede a todos. Quem define? O próprio público, de forma natural e genuína. Nesses últimos 10 anos, observei a construção dos seus sets ficar mais refinada e sua confiança diante de olhos atentos aumentar. Neste set do Surreal, ele deu mais um passo importante; se desamarrou da própria marca de ‘’o maior produtor deste estilo na atualidade’’ para ‘’um DJ que não toca hits e sim aplica músicas exclusivas através de uma estética sonora particular’’. Ao meu ver, algo mais importante e difícil de alcançar. Agora, se ele quiser ficar anos sem lançar nada (para desespero dos fãs), poderá, isso não importa mais tanto, mas sim, o que entrega enquanto DJ.

Ao assumir às 03h, ele fez o oposto de dezembro, onde havia iniciado com uma intro longa e atmosférica. Agora, mixou direto para um som dançante, já arrancando vibração da pista que só desejavam explodir. 

A cada virada, cada mixagem certeira, era um gol de mãos para cima e energia se dissipando por toda a escuridão da Bells, que eu particularmente adoro. Os clubs do Reino Unido dos anos 90 eram assim, obscuros, som tão forte que nem o seu melhor processador de celular da conta (de fato, meus vídeos no front cliparam), sem conversa na pista e atenção total ao condutor.  

Guy J conseguiu fazer um set de excelência sem precisar recorrer a sua extensa discografia de músicas reconhecidas. Um passo importante para separar o DJ do produtor, onde o público não vai ficar esperando clássicos dele e sim experiência. Ficar preso a clássicos é um pesadelo para os DJs, algo que Sasha sempre conseguiu fazer muito bem. Fica difícil mencionar tracks em um set quase todo de Ids dele mesmo, porém, aqui vai um privilegiado de fora que captei; um remix de Kebin Van Reeken para ‘’Specialised’’ de Sean Harvey, um dos momentos mais intensos da noite, que track! 

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Uma publicação compartilhada por Kebin van Reeken 🇳🇱 (@kebinvanreeken)

Linhas de baixo sempre dançantes e arranjos de bateria cheios, se não pela música, pela sua destreza em trabalhar com sobras de loops nos outros 3 canais abertos. 

O resultado é quase zero breaks vazios e uma constância que é capaz de vencer qualquer desconfiança com ‘’melodias demais’’. Aliás, melodias mesmo foram poucas, sobraram temas sombrios e principalmente efervescentes, com sirenes e criações lisérgicas. Vídeo abaixo mostra um pouco disso. 

Acredito que ele nunca esteve tão perto musicalmente de seu primeiro mentor, Sr John Digweed, um gênio na arte de criar atmosferas delirantes. 

O tempo passou rápido e quando percebi, estava ouvindo a voz doce de Kelli Alli  em um edit para a lendária faixa ‘’Love In Traffic’’ do Satoshi Tomiie, que está completando 25 anos este ano! 

Quando ninguém esperava, ele começou a encaminhar um tom de finalização a partir das 06h00, trazendo breaks ao estilo ‘’Drifting Memory’’, que são suas construções espaciais apresentadas no spotify; Som estilo trilha de filme, sabe?

Outro momento importante é quando ele joga um edit da clássica ‘’Insomnia’’ de Faithless, impondo aquele gás final na pista de dança.

 As 07h finaliza com um lindo vocal lembrando London Grammar (não identifiquei), arranjos de piano e claro, sua levada um pouco tribal. Os aplausos vieram e um canto forte de “Olé Olé Olé, Guy J, Guy J’’, algo que a bom tempo não via para um DJ. 

Sinal de que a devoção saiu maior do que entrou e que o rastro de euforia iria beneficiar o presente que Teclas recebeu pela logística de voo ser logo cedo para Chapecó. Bom para a agência, ao meu ver, não tanto para um público que aguardou por 3 meses e esperava pelo menos 6 horas de show. 

Em resumo, não vimos o Guy J da Lost&Found, e sim um Guy J demolidor de pistas através de um estilo único no planeta. Estaria ele realmente deixando para trás sua estética sonora puxada pela Lost & Found? Ou, os produtores que ele ajudou a levantar agora também tocam pelo mundo e ele precisa subir o tom e divergir? Penso que seja um pouco de tudo. Quando você fura a bolha do estilo musical onde cresceu, é preciso abranger sua música sem desagradar quem o colocou ali. Missão difícil, porém, está sendo bem nutrida pelo que consegui conversar com os fãs após 4 horas de set. Aguardamos por seu retorno no verão Catarinense. 

It’s all about groove

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