Entrevistamos Sir Vibe, artista que tem conectado a música Pop com o Afro House nas pistas de dança

Tags: , , ,
Por em 19 de junho, 2024 - 19/06/2024

Nos últimos anos, a música eletrônica tem rompido barreiras e alcançado públicos que anteriormente não consumiam ou apreciavam esse estilo; entre alguns dos fatores cruciais para essa expansão está o Afro House, estilo que com suas características únicas tem atraído um número crescente de ouvintes. Naturalmente, alguns artistas também têm apostado cada vez mais nesse estilo, como é o caso do catarinense João Victor aka Sir Vibe. No seu caso, porém, ele optou por seguir um caminho muito inteligente e efetivo para conquistar o público: a união de músicas do universo pop com a pegada envolvente do Afro House. 

Construindo sua carreira desde 2021, o artista já pôde compartilhar o palco com Dubdogz, Mochakk, Bhaskar, Cat Dealers, KVSH e Ownboss, e lançou diversas faixas até aqui, entre originais e remixes, abraçando diferentes vertentes da música eletrônica, mas não é errado dizer que ele realmente “se encontrou” musicalmente em 2024 ao se aproximar mais do Afro House, estilo que mais está presente nas suas produções e apresentações no momento atual. Um dos destaques até aqui é o seu edit para a versão “Viva La Vida”, do Coldplay, que foi o mais baixado mundialmente no início de 2024 no hypeddit. 

Reforçando ainda mais essa conexão com as linhas orgânicas e melódicas do Afro House, ele lançou recentemente em parceria com Cellibs um remix para “Talking to the Moon”, grande hit do cantor americano Bruno Mars. A dupla recriou o vocal para poder lançá-la de forma oficial nas plataformas digitais e, junto a isso, uniram suas referências para criar uma versão inovadora e dançante da track, mostrando a capacidade que possuem em transformar hits conhecidos em possíveis sucessos para as pistas de dança.

Tivemos a oportunidade de bater um papo com Sir Vibe, que compartilhou mais detalhes de sua carreira até aqui, contou como aconteceu sua conexão com o Afro House e também falou do processo criativo da faixa. Confira: 

Olá, Sir Vibe! Obrigado por nos receber. Nos conte primeiramente quando foi o seu primeiro contato com a música eletrônica? Como você chegou até esse mundo?

Fala meu povo! É um prazer enorme estar aqui com vocês. Meu primeiro contato com a música eletrônica foi há bastante tempo, ouvindo os primeiros hits do David Guetta no meio dos anos 2000. No entanto, a virada decisiva para mim foi em 2013, quando fui ao meu primeiro show de música eletrônica aqui em Florianópolis. Naquela noite, Vintage Culture estava se apresentando, ainda em um estágio inicial de sua carreira, dividindo o palco com Amine Edge. Mesmo naquela época, o set do Vintage já me impressionou profundamente.

A partir desse show, meu interesse pela música eletrônica só cresceu. Fui inspirado pela trajetória do Vintage Culture e pela incrível energia que ele transmitia em suas apresentações. Essa experiência inicial foi fundamental para que eu decidisse mergulhar de cabeça nesse mundo, desenvolvendo minha própria carreira e estilo dentro da música eletrônica. Desde então, tenho trabalhado para criar uma conexão semelhante com meu público, trazendo essa energia contagiante para cada performance.

O período de pandemia que atravessamos foi bastante importante no sentido profissional para você, não foi? Naquele momento você já tinha certeza que direcionaria todas as suas forças para construir carreira na música eletrônica? Tinha uma segunda opção ou não? 

Sim, esse período foi essencial para mim. Durante a pandemia, foquei em me aprimorar ao máximo. Dediquei esse tempo a estudar intensamente, fazendo cursos técnicos específicos de mixagem, produção musical e teoria musical. Além disso, trabalhei na montagem do meu equipamento para evitar eventuais incidentes ao vivo. Foi realmente uma virada de chave, um momento em que percebi que não tinha uma segunda opção.

Naquela época, tranquei minha faculdade e larguei meu outro emprego para me dedicar completamente à construção de uma carreira na música eletrônica. Sabia que aquela era a oportunidade de me aprofundar e adquirir todo o conhecimento necessário para seguir esse caminho. A pandemia, apesar de todos os desafios, me deu o tempo e o foco que eu precisava para mergulhar de cabeça na música e construir a base sólida que tenho hoje.

Explorando um pouco do seu catálogo, percebemos que até pouco tempo atrás o seu som era bem voltado ao Tech House, com tracks mais explosivas. Apesar de você cultivar um estilo mais versátil, o Afro House chegou para mudar um pouco esse panorama, certo? Como e quando você se conectou mais com o estilo? 

Sim, com a chegada do Afro House na cena eletrônica, encontrei um gênero com o qual realmente me identifiquei. Sempre fui voltado a uma construção mais melódica e percebi que o estilo explosivo do Tech House não combinava mais comigo, nem com os principais lugares onde me apresentava aqui em Florianópolis. Sentia que meus sets estavam ficando mais lentos, mas ainda faltava uma identidade que realmente ressoasse comigo e com o público.

A virada de chave veio quando experimentei fazer um remix de “Viva La Vida” do Coldplay, colocando menos instrumentos e menos canais, porém de uma forma mais inteligente e sutil. Foi nesse momento que percebi que o Afro House me permitia criar algo mais melódico e envolvente, que refletia melhor minhas preferências musicais e conectava mais profundamente com o público. Desde então, o Afro House se tornou o núcleo do meu estilo, permitindo-me explorar novas sonoridades e oferecer experiências únicas nas minhas apresentações.

Inclusive, você mora em Florianópolis e toca em alguns beach clubs por lá, um local que naturalmente combina mais com o Afro/Organic House por conta das praias e das belas paisagens da cidade. Isso também teve influência nessa sua nova guinada sonora? 

Com certeza, o ambiente de Florianópolis influenciou bastante nessa nova guinada sonora. Por conta da beleza natural da cidade, sempre fui muito conectado com a natureza e a energia desse tipo de ambiente. Florianópolis, com suas praias deslumbrantes e paisagens incríveis, cria o cenário perfeito para o Afro/Organic House, que combina perfeitamente com a vibe relaxada e ao mesmo tempo vibrante dos beach clubs locais.

Além disso, Florianópolis é um destino de muitos artistas internacionais e nacionais desse estilo musical. Essa proximidade me permitiu conhecer e trocar ideias com diversos artistas do Afro House, enriquecendo ainda mais minha perspectiva musical. Foi a junção de um estilo novo com o qual me identifiquei, combinando com o lugar onde vivo e me apresento com mais frequência, que solidificou essa mudança. A conexão com a natureza e a atmosfera única de Florianópolis definitivamente ajudaram a moldar e inspirar minha nova direção sonora.

Nos conte um pouco mais sobre o edit de “Viva La Vida”, que fez um sucesso enorme no Soundcloud… essa foi uma das primeiras músicas onde você uniu um vocal mais pop com linhas do Afro ou você já tinha criado faixas parecidas anteriormente?

Meu remix de “Viva La Vida” do Coldplay foi de fato a primeira música onde explorei essa nova vertente. Sempre fui um admirador da banda e de suas músicas, e senti que “Viva La Vida” não combinava com o estilo Tech House que eu costumava produzir. Surgiu então um insight, e decidi testar essa música com a filosofia de “menos é mais”.

Ao simplificar o número de elementos, mas mantendo a essência melódica da faixa, criei uma versão que mescla o vocal pop icônico com linhas de Afro House. Não imaginei que essa abordagem teria uma repercussão tão positiva. Foi incrível ver a recepção tanto nos clubs aqui da região quanto em diversos lugares do mundo através do SoundCloud. Essa experiência me mostrou o potencial dessa combinação e consolidou minha mudança para o Afro House.

E agora você trouxe um vocal super conhecido do Bruno Mars para as pistas de dança numa parceria com o Cellibs. De onde veio a ideia de remixar “Talk to the Moon”? Vocês já haviam trabalhado lado a lado em algum outro projeto?

A ideia de remixar “Talking to the Moon” surgiu por conta própria. Sou um grande fã do Bruno Mars, e essa é uma das minhas músicas preferidas dele. A versão original é extremamente simples, com apenas dois elementos: o piano e a voz do Bruno. Sempre me fascinou como, com apenas esses dois elementos, a música se tornou um hit mundial.

Essa simplicidade é algo com que me identifico profundamente nas minhas produções. Senti que era o momento de adaptar essa música ao meu estilo, para que pudesse ser tocada nos clubs, já que nunca tinha visto ninguém fazer um remix dessa faixa. A original traz uma vibe mais lenta e melancólica, o que torna difícil adaptá-la para shows mais comerciais.

Quanto à parceria com o Cellibs, já havíamos trabalhado juntos em um projeto no ano passado. Era um deep house com um vocal original de um amigo nosso em comum da Austrália. Apesar de a música nunca ter sido lançada, esse trabalho conjunto foi um grande gatilho para fortalecer nossa parceria e nos motivou a colaborar novamente no remix de “Talking to the Moon”.

Os vocais femininos da track foram regravados para poder lançar a faixa de forma oficial? E quais foram os principais desafios no processo dessa track? 

Sim, os vocais femininos da track foram regravados para poder lançar a faixa de forma oficial. Devido ao respeito pelos direitos autorais da música original, não poderia lançar oficialmente utilizando a voz e os instrumentos do Bruno Mars. Primeiramente, decidi fazer uma versão completamente nova de teste ainda utilizando a voz original, apenas para tocar nos clubs. Com o feedback extremamente positivo do público e o suporte de diversos DJs ao redor do mundo, especialmente em Miami, Nova York e na Europa, senti que precisava dar um jeito de disponibilizar essa ideia de forma oficial nas plataformas digitais.

Foi aí que surgiu a ideia de utilizar um vocal feminino, quebrando um pouco a mesmice e dando uma modernizada à faixa.

Os principais desafios foram, sem dúvida, a questão de recriar o vocal original e, principalmente, a de não perder a essência da música original. Apesar da versão original ser lenta e melancólica, quis manter esse sentimento nos breakdowns, para que o público pudesse cantar e se conectar com a emoção da música. Depois, a recompensa viria com um drop mais energizante, perfeito para as pistas de dança. O equilíbrio entre modernizar a faixa e manter a conexão emocional da original foi um processo desafiador, mas extremamente gratificante.

Falando agora mais do seu lado como DJ… vimos em um carrossel de vídeos vários outros edits que conectam o Pop com a eletrônica, David Guetta, Adele, Justin Bieber… a maioria dessas faixas são produções suas ainda não lançadas? Como funciona sua pesquisa musical atualmente?

Sim, a maioria dessas músicas são versões feitas por mim, que vou testando exclusivamente nos meus shows. Isso me permite conectar melhor com meu público, apresentando músicas que gosto e costumo escutar, mas que na forma original não se encaixariam nos meus sets. Ao adicionar minha identidade a essas músicas, consigo trazer algo novo e ao mesmo tempo nostálgico para o público.

Minha pesquisa musical é contínua e está entrelaçada com meu dia a dia. Estou sempre escutando novos artistas nas plataformas digitais, revivendo memórias com músicas antigas e buscando emoções específicas que apenas certas músicas conseguem transmitir. Esse processo me ajuda a identificar quais faixas têm o potencial de se transformar em novos edits e como posso incorporar elementos que ressoem tanto comigo quanto com meu público.

Por fim, o que você vislumbra para o segundo semestre do ano e quais novidades você poderia nos adiantar? Obrigado!

Tenho muitas novidades que estou louco para mostrar para todos vocês. No segundo semestre de 2024, vocês podem esperar lançamentos de músicas novas, tanto remixes quanto faixas 100% originais. Estou particularmente animado com algumas faixas que utilizam vocais de inteligência artificial, que são tão realistas que é impossível distingui-los de vocais humanos.

Além disso, estou preparando sets 100% autorais que vou apresentar em clubs renomados e também em locais paradisíacos. Também há planos para apresentações internacionais que mal posso esperar para anunciar oficialmente. Há várias colaborações incríveis em andamento, mas algumas delas ainda são segredo por enquanto.

Sem dúvida, 2024 já está se tornando um ano incrível na minha carreira, e estou muito empolgado com o que está por vir. Fiquem atentos porque tem muita coisa boa chegando!

It’s all about groove

Tags: , , ,