Qual é a identidade da música eletrônica brasileira neste momento?

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Por em 14 de maio, 2024 - 14/05/2024

A música eletrônica tem vestido uma roupagem cada vez mais dinâmica e eclética. Ser DJ sempre foi sobre pesquisar a fundo, ousar nas mixagens e surpreender o público, mas parece que nos últimos anos essas características têm ficado cada vez mais latentes, principalmente por conta de uma inserção maior da própria música brasileira nos sets de vários artistas, inclusive faixas de MPB e Funk — aquele da quebrada mesmo. 

Um breve panorama…

Se formos traçar uma rápida linha do tempo sobre a identidade da música eletrônica brasileira, teríamos DJ Meme, Renato Cohen, Anderson Noise, XRS Land, DJ Mau Mau, DJ Patife e DJ Marky lá atrás causando alvoroço numa época onde apenas os gringos eram realmente valorizados na nossa terra, já que antigamente, nos anos 90, para um super club ou grande evento bombar (de verdade) era necessário recorrer aos grandes artistas internacionais, como destacou o Bananas Music.

Já de 2000 em diante, outros nomes começaram a ganhar notoriedade, como Gui Boratto e Felguk, por exemplo, enquanto os anos atuais viram a ascensão de nomes como ANNA, Vintage Culture, Victor Ruiz, Eli Iwasa e nomes mais mainstreams furarem a bolha e se tornarem DJs globais, requisitados no mundo todo. Estilos “criados aqui”, como o Brazilian Bass, tendo Alok como referência, ou até mesmo o Desande, liderado por Victor Lou, Illusionize, Visage e outras figuras de Goiânia, conquistaram uma grande parte do público de música eletrônica.

A MPB na música eletrônica

Em paralelo a isso, a nossa MPB também ganhou espaço nos sets de música eletrônica. Muitos artistas (undergrounds ou não), começaram a incluir faixas originais em seus sets, fazer remixes de clássicos da nossa história musical e parceria com grandes nomes. Teve Mochakk tocando Elis Regina na Cercle, Bruno Martini colaborando com Tribalistas, Felguk e Cat Dealers com Vanessa da Mata, Alok com Lenine, Shapeless com Maria Gadu, Dubdogz e Bruno Be com Skank, Bruce Leroys com Gal Costa, DJ Marky, Gui Boratto, Renato Ratier, Mary Olivetti e tantos outros lançando remixes para Rita Lee, além de uma infinidade de outros exemplos que caberiam aqui.

E o Funk?

Bem, podemos dizer que essa mistura começou a ganhar força principalmente após a pandemia, mais especificamente quando Seth Troxler soltou a faixa “Se Tá Solteira” durante sua apresentação nas edições brasileiras da Circoloco e na Timewarp, em 2022, puxando o bonde para vários outros DJs fazerem o mesmo nos meses seguintes, algo que se mantém até hoje. Exemplos recentes incluem Peggy Gou, talvez a DJ mais prestigiada do mundo no momento, que tocou na Green Valley o funkzão “Elas Estão Descontroladas” após ouvir essa música no carnaval do Rio, como teve também Anetha mixando Funk no D-Rete. O motivo do Funk incomodar tantas pessoas da cena eletrônica foi debatido com mais profundidade no Alataj.

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O que isso nos diz?

Que a música eletrônica brasileira não possui uma identidade exatamente definida e está em constante evolução, criando novas ramificações ao longo dos anos. Mas uma coisa é certa, os artistas estão cada vez mais honrando e celebrando a identidade cultural do nosso país dentro da música eletrônica, o que não apenas enriquece a cena, mas também contribui para uma maior diversidade e inclusão dentro do gênero, gerando diferentes interpretações. 

Nomes como Badsista, que alcançou um enorme reconhecimento fora do Brasil, Carola, a primeira DJ negra brasileira a tocar no Tomorrowland da Bélgica, Kenya20HZ que esteve recentemente no Berghain, ou mesmo Valentina Luz, que tem sido uma figura cada vez mais presente nos lineups de grandes festivais, estão fazendo bonito e levando principalmente o som das periferias (e das mulheres) brasileiras para os ouvidos do mundo, desafiando qualquer tipo de rotulagem, estereótipos e preconceitos.

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Ainda, vale destacar o papel fundamental de festas independentes como ODD, Mamba Negra, Capslock, 1010, Clubinho, RARA e tantas outras que apostam e investem principalmente em talentos nacionais, abrindo espaço para sons que provavelmente nunca vão chegar nas camadas populares da música eletrônica, mas que sem dúvidas carregam muito das raízes culturais brasileiras mais profundas. 

A verdade é que em um momento onde a música eletrônica no âmbito global clama por inovação e autenticidade, para fugir do “mais do mesmo”, a comunidade brasileira se destaca como um ótimo exemplo de como a tradição cultural e a modernidade podem coexistir harmoniosamente.

It’s all about groove

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