Conversamos com Dave Seaman | o mestre do progressive house aterrissa no Brasil para o evento Aura em São Paulo

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Por em 20 de maio, 2024 - 20/05/2024

Pioneiro, lenda, são termos usados quando se trata de nomes como o britânico Dave Seaman.  DJ e produtor há mais de 30 anos, um dos líderes da revolução da cena clubber no Reino Unido desde o início dos anos 90, Dave pode ser classificado ainda como um dos “pais’’ do Progressive House. Porque? Além de ser um dos DJs que mais disseminaram esse estilo ao redor do mundo, inclusive para América do Sul, ele foi um dos primeiros ‘’Superstars’’ a se dedicar no estúdio e aprender a fazer a própria música. Ao lado de Sasha, John Digweed, Nick Warren e outros, Seaman ajudou emergir o progressive house misturando Acid House e Trance e assim ajudou a consolidar um dos estilos mais populares de todos os tempos. Ainda, sendo um dos cabeças do duo Brothers in Rhythm, produziu e remixou personagens do mundo pop como David Bowie, Kylie Minogue, Michael Jackson, Garbage, Pet Shop Boys e Placebo. Nessa época ele lançou “Such a Good Feeling”, hit hipnótico que se tornou hino nas pistas europeias.
Ainda produziu e organizou inúmeras coletâneas, como “Mixmag Live – Vol. 1”, “Renaissance: Desire” e compilações para a aclamada série “Global Underground”. Sua gravadora Selador é atualmente uma das mais prestigiadas do mundo dentro do estilo progressive house. 

Conversamos com o artista dias antes de sua chegada ao Brasil para a festa AURA em São Paulo dia 25 de maio.

Olá Dave, como você está?  

Estou ótimo, obrigado. Muito ocupado em turnê no momento com Quivver, mas me diverti muito fazendo isso.

Recentemente, você postou no Spotify uma conversa com seu ex parceiro de estúdio Steve Anderson, sobre a memorável época do projeto Brothers In Rhythm, onde vocês trabalharam ao lado ícones como Michael Jackson, Pet Shop Boys e New Order.  Como aconteceram essas parcerias naquela época? 

Sim, fizemos um podcast do 30º aniversário relembrando todos os projetos em que trabalhamos em 1994, que foi um ano particularmente especial para nós como Brothers In Rhythm. Mas já havíamos trabalhado com todos esses artistas que você mencionou entre 1992 e 1993. Na verdade, foi a banda Pet Shop Boys que realmente abriu muitas portas para nós. Eles nos pediram para co-produzir alguns de seus singles, ‘DJ Culture’, ‘Was It Worth It’ e ‘Go West’ com base em nosso próprio lançamento chamado ‘Such A Good Feeling’, que era o favorito deles no momento. Olhando para trás agora, foi uma loucura que eles nos deram essa chance. Éramos totalmente novatos em estúdio comparados a eles. Mas depois disso, recebemos muitas ofertas para fazer remixes para grandes artistas consagrados. Temos muito a agradecer a Neil e Chris.

Ouça conversa entre Dave e Steve sobre o período.

Como foi para você aquele início dos anos 90, com a efervescência da cena clubber no Reino Unido, o Acid House e o surgimento do Progressive House, onde você ajudou a criar junto de Sasha, Digweed, Nick e outros. 

Tivemos todos muita sorte de estar por perto naquela época. Esta era uma estrada não percorrida antes. Construindo carreiras como DJs internacionais onde antes esse tipo de coisa só era acessível a músicos do pop e rock. Foi um momento emocionante, com certeza. Estávamos criando as regras à medida que avançávamos. Vivendo o sonho. Eu não acho que nenhum de nós teria acreditado que ainda estaríamos aqui fazendo o que amamos mais de 30 anos depois.

Temos observado nos últimos anos e especialmente pós pandemia um declínio acentuado da cena de clubes tradicionais ao redor do mundo. Como você tem sentido esse processo e para onde você acha que a cena underground tem caminhado? 

Sim, penso que os hábitos das pessoas mudaram muito desde a pandemia em muitos aspectos, mas em termos de vida noturna, são as discotecas semanais regulares que foram as mais atingidas, o que é uma grande pena. Parece que as pessoas não querem frequentar o mesmo lugar todas as semanas como antes e, em vez disso, gostam de experimentar uma variedade de experiências diferentes. Portanto, para os pequenos clubes que podem ter sobrevivido da lealdade de uma clientela semanal regular, tornou-se muito difícil manter o seu negócio. Há muitos outros fatores também, como o rápido aumento dos aluguéis, das taxas e dos custos de produção. As margens estão se tornando cada vez mais estreitas. No final das contas, porém, as pessoas ainda saem para dançar música eletrônica em seus números. É que o cenário em que isso está acontecendo está mudando e todos temos de nos adaptar em conformidade.

A sua gravadora Selador tem sido uma das bases fundamentais da evolução do progressive house, ajudando a projetar diversos novos produtores. Como tem sido gerenciar a label e como é o processo de se reinventar dentro do mesmo estilo? 

A cena está sempre em constante evolução, o que eu acho que é uma grande parte de sua atração e a razão de sua longevidade e, como gravadora, tentamos refletir isso da melhor maneira que podemos. Tentamos acompanhar o tempo sem nos mimarmos muito com qualquer que seja a última tendência do dia. Nosso principal objetivo é a busca incessante de encontrar músicas novas e emocionantes e lançá-las no mundo. Não acho que essa constante nos deixe.

Quais são seus produtores favoritos no momento? Como tem visto a evolução do processo criativo dos produtores? Às vezes parece que tudo tem sido um grande processo de ‘’cópia e cola’’. 

Existem literalmente centenas de produtores fantásticos por aí agora. Hardt Antoine, Cioz, James Harcourt, Ivory e Super Flu são apenas alguns que vêm imediatamente à mente. Claro, há muitas cópias de músicas derivadas. Acho que o termo ‘Business Techno’ resume bem. Isso se tornou cada vez mais existente na era digital, à medida que os artistas sentem a necessidade de alimentar constantemente algoritmos como o Spotify e outras plataformas sociais dominantes. Mas da mesma forma, há muita música incrível sendo feita, vinda do lugar certo e pelos motivos certos. Eu apenas tento me concentrar nos aspectos positivos disso. Sempre foi trabalho de um DJ separar o “joio do trigo”, como dizemos.

Você acabou de lançar um compilado junto com Quivver pela consagrada label Balance. Infelizmente nos dias atuais não é mais comum esse tipo de trabalho, porém eu ainda considero de grande relevância para a cena e me parece que repercutiu muito bem entre os fãs. Como foi o processo de seleção? 

Sim, foi uma grande honra para John (Quivver) e eu fazer um álbum pela Balance. É uma série tão respeitada e já recebeu tantos artistas incríveis, então foi um verdadeiro privilégio ser convidado. Na verdade, foi um projeto enorme. Levou vários meses do início ao fim e a origem da música foi uma grande parte disso, é claro. Mas nós simplesmente lançamos a rede o mais longe que pudemos para todos os nossos produtores, DJs e amigos de gravadoras ao redor do mundo e começamos a tentar montar um álbum com músicas inéditas de qualidade. No final das contas, uma compilação de mixagem vive e morre de acordo com as faixas contidas nela, então passamos muito tempo tentando ter certeza de que elas eram as melhores disponíveis para nós. Então, a mixagem propriamente dita levou algumas semanas no estúdio. É um processo muito mais intensivo do que o DJ Mix comum. Em vez de apenas mixar de uma faixa para outra repetidamente, é mais parecido com a criação de duas faixas de 70 minutos a partir das batidas e trechos de outras faixas. Como duas longas colagens de áudio. Não facilitamos para nós mesmos, mas no final achamos que valeu a pena todo o tempo e esforço.

Ouça o CD mixado e selecionado por Dave & Quivver

Infelizmente o Brasil não tem sido um destino frequente para você nos últimos anos. Quais são suas memórias do país? Warung… 

Sim, por um motivo ou outro sinto que não toquei o suficiente no Brasil nos últimos anos. Acho que a última vez que estive aí foi em 2018, no Amazon Club. Obviamente, a pandemia tem sido uma das principais razões pelas quais não visitei o seu lindo país nos últimos anos, mas espero poder voltar muito mais a partir de agora. Eu tive tantas experiências incríveis como DJ no Brasil ao longo dos anos e, claro, Warung estaria no auge delas.

Nos próximos dias você volta ao Brasil para a festa Aura em São Paulo. Como está sua empolgação para se juntar a nomes como, Damon, D-nox e Nicolas Rada? 

Sim, muito animado. Christian (D-nox) é um velho amigo que não vejo há muito tempo e estou muito ansioso para conhecer Damon e Nico. Sou um grande fã do trabalho deles. Na verdade, Damon fez um remix para mim há não muito tempo em uma de minhas faixas, então será ótimo finalmente agradecê-lo pessoalmente. Ele fez um ótimo trabalho!

Ouça remix de Damon Jee para a faixa Rodales de Dave Seaman. 

Obrigado Dave.

O prazer é meu. Vejo você em breve!

It’s all about groove

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