Desde 2014, o She Knows se estabeleceu a partir da parceria entre a cantora, compositora e produtora espanhola Teresa Tomás e o músico, compositor e produtor brasileiro Marcel Dadalto (conhecido no país por ter sido membro das bandas Dead Fish e Zémaria).
Com muitos anos de estrada e histórias pra contar, o duo berlinense está prestes a lançar ao mundo o seu primeiro álbum de estúdio, “Nervous Bliss”, do qual já conhecemos o primeiro single, “Hechizo”, que chegou ao final de março.Ouça aqui!
Com um detalhe: a partir de 2023, Teresa e Marcel tiveram que aprender a adaptar suas jams de estúdio em sessões à distância, já que o músico voltou para a cidade natal, Vitória/ES.
Conversamos com eles sobre o processo de produção, o que levou o She Knows aos caminhos em que se encontra hoje e as expectativas para o lançamento do disco.
Como vocês se conheceram e acabaram formando o She Knows?
Teresa: Nos conhecemos em Berlim, na casa de uma amiga, no final de 2013. Nesse tempo eu já estava na cidade há quase quatro anos e houve uma voz interior relacionada com a música que me levou a organizar uma jam session com o Marcel, Killian e Anand. Iniciamos o projeto com jams no espaço de ensaio do Noisy Rooms, em Berlim. Nós simplesmente fomos lá e tocamos bateria, guitarra e baixo, sintetizadores e vocais.
A primeira vez que Marcel nos convidou para ir à sua casa, ele revelou que era produtor musical. Ele trouxe seus sintetizadores e equipamentos do Brasil e montou um home studio. Foi lá que foram produzidas as primeiras músicas. Depois de um tempo, em 2017, Marcel e eu acabamos alugando um espaço para montar nosso primeiro estúdio musical em Berlim e começamos a lançar com uma abordagem de música mais eletrônica.
O que levou Marcel a deixar Berlim e voltar para Vitória? A continuidade da dupla chegou a ficar ameaçada com a mudança?
Marcel: Depois de viver 8 anos em Berlim, pensei que era hora de voltar ao meu país de origem. Muitas coisas pessoais me levaram a tomar essa decisão, e claro que foi difícil. Eu amo a cidade e meus amigos de lá, mas o Brasil está renascendo culturalmente e é ótimo estar aqui. Em relação ao nosso projeto, acho que conseguimos manter uma certa consistência de lançamentos e ao mesmo tempo uma boa dinâmica de trabalho online. Claro que sinto falta das nossas jams juntos, é uma energia diferente. Tentamos fazer isso nas vezes em que vou a Berlim para nossa turnê, como acontecerá agora em maio e junho. Nos finais de semana fazemos alguns shows e nos dias de semana gravamos tudo o que fazemos em estúdio.
Teresa: É tudo uma questão de mentalidade, estávamos super entusiasmados por ter dois estúdios e na altura em que o Marcel instalou o seu estúdio em Vitória recebemos a confirmação de que o nosso projecto foi selecionado para ser apoiado pela Initiative Musik GmbH com fundos de projecto do Governo Federal Comissário para Cultura e Mídia da Alemanha. Tudo aconteceu de forma muito orgânica e depois deste tempo sentimos que merecíamos publicar um LP.
Como vocês acham que esse novo jeito de produzir, à distância, impacta na música do She Knows?
Teresa: Enquanto em Berlim é primavera, em Vitória é outono. Digamos que navegamos entre estações e fusos horários. Enquanto Marcel iniciava suas sessões de produção do álbum, eu me preparava para desligar o computador. Mas tivemos muitas sessões de videochamada onde sincronizamos para continuar trabalhando nas composições, sentindo que estamos na mesma página.
Há músicas como “Sektor Evolution”, “Sand”, “Espacios”, cujas demos nasceram das nossas jams na primavera de 2022 em Berlim, e que desenvolvemos depois entre Vitória-Berlim, mas também há outras como “Hechizo”, onde mixamos diferentes composições de projetos individuais já existentes, e novas como “Caramelos, Palo Santo”, onde os vocais foram escritos para a demo instrumental a posteriori.
O projeto tem mais de dez anos de história, e agora está vindo seu primeiro álbum. O que esse momento representa para vocês?
Teresa: Uma década é um número que gosto muito. Nosso projeto amadureceu a cada lançamento, a cada apresentação ao vivo, a cada 10 anos de carreira você começa a ter mais experiência. Estamos muito entusiasmados por poder compartilhar “Nervous Bliss “em breve e esperamos que o álbum abra novas oportunidades para continuarmos a crescer e evoluir como músicos. Estaremos de volta ao palco no dia 24 de maio para comemorar nossa festa de lançamento e aniversário no Kater Blau. Se você estiver em Berlim nessa época, junte-se a nós.
A criação audiovisual traz referências do cinema experimental das décadas de 1920 a 1960. Como foi pensado o conceito do álbum e a escolha do cinema experimental nessa obra?
O aporte visual e as referências são para agradecer à artista, curadora, professora e pesquisadora argentina Fabiana Gallegos, que tem sido uma colaboradora fundamental como diretora artística do “Nervous Bliss”. As composições de videoarte são dominadas pelo uso de texturas, falhas de imagem, estética de baixa tecnologia, granulação cinematográfica, visuais fragmentados e elementos multicamadas. As performances de Fabiana, como artista audiovisual e eletrônica, são tão visualmente cativantes quanto sociocríticas e caracterizadas por questões de identidade (de gênero) e apropriação.
Os três vídeos do álbum tornam-se um tríptico: para cada música uma cor diferente, uma forma diferente, um motivo diferente. “Nervous Bliss” explora o mundo dos sentidos, da percepção, das formas de comunicação: nos vídeos são representados com imagens simbólicas três sentidos: um olho para a visão, uma boca para o paladar e uma mão para o tato. Enquanto isso, a música estimula a audição, e o ato de se juntar e dançar com outras pessoas despertam o olfato.
A primeira faixa chegou no dia 22 de março, pela gravadora alemã Bar 25 Music. Por que vocês decidiram abrir essa série de lançamentos com “Hechizo”? O que este single significa para vocês?
Marcel: “Hechizo” é a faixa mais emocionante de todas e foi a primeira composição que ambos concordamos em incluir no álbum, sem dúvida. Foi a peça que começamos a produzir, e também a primeira faixa a gravar os vocais finais. Tivemos a sorte de poder realizar este processo no Soundkeys Studio, um estúdio na cidade natal de Teresa, na Espanha. As gravações desta primeira sessão influenciaram significativamente a nossa abordagem vocal ao longo do álbum. A música é suave, delicada, reconfortante e até melancólica, mas ainda assim esperançosa e sincera.
E o segundo lançamento também já está a caminho, “Sektor Evolution” chega no próximo dia 12 de abril. Fale um pouco sobre este lançamento?
Teresa: “Sektor Evolution” é uma homenagem musical a uma noite que tocamos no electro club Sektor Evolution, em Dresden, em 2022. A letra fala do momento em que alguém percebe que seus pensamentos foram lidos por outro, sentindo-se a princípio como uma intrusão, mas percebendo que é especialmente esse tipo de conexão entre os indivíduos que pode nos dar espaço para nos expressarmos e sermos honestos sobre o que sentimos e como nos sentimos. Musicalmente enfrentamos alguns desafios na composição mas acabou sendo uma das nossas favoritas.
It’s all about groove