River Club 7 anos – Danny Howells e poder da construção de set

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Por em 12 de janeiro, 2024 - 12/01/2024

Um dos clubes mais autênticos do sul do Brasil completou sete anos no último dia 23 de dezembro, e eu finalmente pude pegar a estrada para conhecê-lo. A cena dos interiores dos estados tem muita história e resistência, especialmente no Rio Grande do Sul. O que dizer de uma cidadezinha de apenas 65 mil habitantes que possui um clube underground que apresenta DJs internacionais em todos os eventos? Esse é o caso de Montenegro, uma típica cidade do sul colonizada por imigrantes alemães no século 19 e que está próxima de um grande centro. 

Lá, o River Club tem feito um trabalho de educação musical em direção a um dos estilos mais aclamados da américa do sul; o progressive house. O club comemorou mais um ano trazendo como headliner um dos pais fundadores deste estilo; o britânico Danny Howells. DJ de renome global a 30 anos e que estava em tour pela Argentina, país que detém o bastão da liderança na promoção deste estilo de música eletrônica que tantos brasileiros também amam. Quando fiquei sabendo de sua vinda como data única no Brasil, não tive dúvidas, era o momento ideal para encarar oito horas dirigindo a fim de conferir um evento repleto de amigos ao som de uma verdadeira lenda. 

O local escolhido foi o Castelo Kebach, uma propriedade particular cercada de verde, com um portal medieval logo na entrada e um gramado lindo aos fundos de um casarão bem estilo alemão do século passado. Ao lado um lago e um mini castelo onde o proprietário realiza peças músicas, teatros e eventos. 

Foi a segunda vez que esse lugar mágico, feito para a música, recebe o River Club. E aqui vale destacar todo o ímpeto do Samuel e sua equipe para realizar tudo com respeito e cuidado com esse local que é um patrimônio da cidade. 

Cheguei no evento às 16h e o b2b de Dietz e Lucas Vargas estava fazendo as honras do dia recebendo as pessoas com um deep house cadenciado. O sol estava forte e o público foi se protegendo nas sombras ao redor da pista. 

Havia um clima amistoso onde parecia que todos se conheciam, além de um pouco de tensão pela previsão de chuva, algo que acabou não acontecendo. Assim que Sarah Chilanti e Elieser assumiram o comando, os primeiros clubbers invadiram a pista coberta; local sagrado onde o grave do sistema de som projetado especialmente para o evento estava perfeito. 

Os DJs residentes da casa dividiram o palco pela primeira vez e ainda que seus estilos sejam diferentes, o modo 2×2 funcionou bem, com Elieser segurando energia e buscando um som que se aproximasse ao Headliner, enquanto Sarah voltava impondo mais groove e energia, chamando mais pessoas para a pista; já era hora de se animar. Esse movimento de sístole e diástole do b2b deixou a pista quase cheia para receber Danny pontualmente às 19h, só faltava o front ser conquistado. E ele iria.

Com todo seu carisma, Danny pede os aplausos para o warm-up entregue de forma apropriada para ele assumir um set de 5 horas. Desde o início ele imprime seu característico ‘’deep tech funky groove sexy’’ e levemente viajante estilo. 

Faixa: Surrender Discipline – Metro 6

Devagar, porém com muita consistência e mostrando suas famosas mixagens smooth, tão elogiadas por John Digweed e outros gigantes, aos poucos vamos esquecendo que são músicas e entramos naquele estado de trem a vapor que vai ganhando velocidade sem nenhuma pressa. 

O conjunto sonoro ganha relevância e assim se constrói uma pista. E que construção! Eu gostaria que todo DJ iniciante tivesse a oportunidade de ouvir um longset de artistas como Howells. Compreender sua abordagem e forma de pensar a organização das faixas é primordial. Hoje em dia eu vejo muitos grandes produtores que na hora de se apresentar simplesmente não sabem aplicar esse conceito. 

Faixa: ‘’Push’’ – Richard Cleber, Eddie Amador

Logo na primeira hora era perceptível que Danny já tinha conquistado a confiança e atenção das pessoas. Aos poucos passamos a esquecer do mundo lá fora e ficamos hipnotizados pela maneira que ele foi desdobrando seu set, nunca deixando a pista cair, com poucos breaks vazios e muita personalidade. É interessante vê-lo tocar, seus trejeitos, a forma como ele ajeita seu cap, como levanta as mãos, como utiliza bem expressões faciais para completar a energia que sua música transmite. 

Nos anos 90, Danny Howells foi DJ de warm-up para os eventos da Bedrock na Inglaterra preparando a pista para John Digweed. Então se tem alguém que sabe fazer isso, é ele. Neste caso, preparando a pista para si mesmo, preenchendo o ambiente com batidas levemente tribal, groove, melodias leves, tons soturnos e ritmo crescente. 

Faixa: Ian O’Donavan – Empyrean Eclipse 

Quando anoiteceu, as luzes em linha no teto da tenda transparente criaram um efeito de um lugar fechado. Os lasers vindo do palco davam um clima caótico horizontal, e quando as luzes do muro SOM ao fundo se apagavam, um clima misterioso ganhava destaque. Aliás, aquele paredão de pedra é uma obra espetacular. A pista estava balançando e as mãos para cima ficaram cada vez mais frequentes. 

Faixa: Fioretti ‘’Sal Pol’’ 

Eu vi Howells pela primeira vez em agosto de 2010 no Warung, depois em 2017 em Curitiba, e agora em dezembro em Mendoza, todas as vezes eu fiquei impressionado com sua capacidade de envolver o público. No River, eu já sabia o que esperar em todos os sentidos, sua forma de se comunicar com a pista, balançando seu corpo para sempre estar no swing da música facilitando a mixagem no feeling e timing perfeitos. Danny tem um som próprio, não segue tendência, não está preocupado com os novos rótulos, ele se garante como DJ e com seu estilo, que certamente você não irá mais ouvir em nenhum outro lugar. 

Faixa: ‘’March of the Unforgiven’’ (Parissior Remix) – Man2.0

Essa acima eu destaco como um dos momentos altos da noite, aquele tipo de música que você se pergunta; de onde ele tirou isso? Certamente uma daquelas que ouviria em um set do Laurent Garnier. 

Depois de acelerar o ritmo até a terceira hora, e com a pista na mão, na quarta hora ele impôs maior profundidade sonora ao selecionar faixas mais carregadas e progressivas, isso sem perder os hi-hats abertos, é claro. Tocar Sven Vath foi com certeza algo muito relevante para a história da noite, o remix era um dos meus produtores favoritos no momento. 

Faixa: Sven Vath – We Are (Jonatan Kaspar remix)

Na última hora de set, era o momento da consagração, todos estavam eufóricos, animados e dançando sem parar, e é nesse momento que os grandes DJs aparecem, é aquela hora crucial onde se formam os ídolos. Quando você pensa que já ouviu tudo que ele tem para entregar, o DJ começa a soltar aquela sequência frenética arrebatadora. Danny fez isso com a faixa ‘’Before the Sunlight’’ (feat. Black Soda, Damon Jee Remix) – Echonomist. Certamente o momento mais explosivo da noite, que track! 

Eu adoro a sensação de que na maior parte do set, você não faz ideia de quais são os produtores que ele está jogando, isso cria uma exclusividade tremenda, é algo muito old school que hoje é difícil de realizar. Todos querem saber as músicas e quem fez, porém, ouvindo Danny, você só quer saber de seu conjunto sonoro. Não é à toa que é uma lenda reconhecida nos quatro cantos do mundo.

Faixa: Jim Rivers – Cosmos 

Foram cinco horas que passaram voando, quando o set estava no seu melhor momento, era hora de acabar. Danny colocou faixas mais emotivas e psicodélicas na última hora para criar aquela sensação de plenitude. Isso não é por acaso, é pensado e planejado para todos poderem entregar tudo de si e ainda ficar com um sentimento de ‘’poderia ir mais’’. 

‘’Flashback’’ de Vince Watson, foi uma das que mais gostei na noite, com uma batida praticamente de techno, porém bem espacial e com um baixo subindo e descendo. Me lembrou o Sasha de manhã no Warung criando suas famosas ‘’explosões emocionais’’. 

E sim, ele poderia ter tocado facilmente mais duas horas, todos estavam com suas energias no nível máximo. Essa energia foi construída para ser liberada no último ato; é assim que se toca longset. 

Faixa: ‘’Enso’’ de Lauer

Na última música, um tom lisérgico com baterias vibrantes nas viradas e um clap marcando chamado para o fim, é aquele tipo de faixa para devolver a alma e assim finalizar deixando todos extasiados. ‘’Eu não vou embora…’’, era o que cantavam, um clássico. 

Deixei o evento realizado por poder prestigiar um tipo de set que raramente se ouve no Brasil, produtores diversos, porém com um mesmo perfil de elementos. Fazendo esse review, analisei através do beatport que Danny jogou faixas de deep house, deep tech, progressive house, melodic house, house music e techno. Algo realmente impressionante, pois olhando friamente parecem ser mundos diferentes, porém a pesquisa musical avançada faz com que ele encontre certas características semelhantes em estilos diversos.

Na formação de um estilo próprio, se olha para elementos e não para gêneros. Essa é uma grande lição para as novas gerações de DJs, que ficam presos a um mesmo tipo musical e acabam cansando a pista até mesmo em 2 horas de set. Temos a sorte de ver caras desse calibre ainda na ativa, depois de praticamente criarem tudo que temos hoje desde os anos 90, ainda se dispor a vir em um canto do mundo mostrar sua música. 

Vale destacar o ótimo trabalho do River em mostrar a seu público na divulgação do evento quem era o artista e do que se tratava o que eles iriam assistir. Com certeza Danny ganhou grandes fãs e superou todas as expectativas para celebrar os sete anos de história do clube. Essa foto acima, pegando a bandeira do Brasil e o nome do Pink Floyd nas costas, diz muito sobre influências em comum. Isso cria laços difíceis de se desfazer, sorte do público gaúcho de ter um clube que valoriza tempo para tocar de quem tem o que mostrar, e nesse quesito, Danny Howells é mestre. 

Tracklist e link com vídeos da apresentação

‘’Metro 6’’ Surrender Discipline (vídeo 2) 

‘’Push’’ – Richard Cleber, Eddie Amador vídeo 4

Markus Homm – ‘’Rise’’ vídeo 8

Sasha Carassi – ‘’Onirica’’ (vídeo 11)

Fioretti – ‘’San Pol’’ (vídeo 12)

‘’March of the Unforgiven’’ Parissior Remix – Man2.0 (vídeo 14)

Radio Slave & Audion – ‘’Mouth to Mouth’’ (vídeo 16) 

Sven Vath – We Are (Jonatan Kaspar remix) (vídeo 18)

Bedouin – Crazy’n Dogz remix) (vídeo 19)

‘’Before the Sunlight’’ (feat. Black Soda) Damon Jee Remix Damon Jee, Black Soda, Echonomist (vídeo 20) 

‘’Cosmos’’ Original Mix – Jim Rivers

Vince Watson – ‘’Flashback’’ (vídeo 23)

‘’090223’’ Original Mix – DCLVIII OFC (Video 24) 

 ‘’Enso’’ de Lauer 

After movie Oficial 

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