Confira como foi a noite com a consagrada label The Sound Garden do pioneiro Nick Warren

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Por em 26 de janeiro, 2024 - 26/01/2024

Um dos pais do progressive house finalmente retornou ao Warung Beach Club no último dia 12 de janeiro. Junto de artistas de sua aclamada label party ‘’The Sound Garden’’, a lenda britânica Nick Warren trouxe sua sonoridade para o Garden. Uma típica noite de verão no clube, com seu pupilo Nicolas Rada fazendo as honras da casa, a argentina Mai Lawson na transição, Nick como headliner e a residente Blancah recebendo a chance de encerrar. 

Antes de irmos para o review, gostaria de falar um pouco de Nick, pois quando falo em um dos ‘’pais’’ desse estilo que predomina no Templo desde sempre, é porque ele é um dos pioneiros a levá-lo para todo mundo ainda nos anos 90 e mais; criá-lo em estúdio, com dezenas de singles e Eps solos ou com seu extinto projeto live Way Out West

Enfatizo – se existisse uma lista com os 10 principais expoentes do progressive house em todos os tempos, certamente Nick estaria nela. Por ter vindo muito pouco para o Brasil na última década, é normal que muitos dos frequentadores de hoje não o conheçam direito. Seu último set no templo foi em 2011!

Estava faltando uma noite de destaque para colocá-lo novamente na mente dos frequentadores do clube de modo geral, afinal, se tem uma label-party que combina perfeitamente com o Garden do templo, é a dele. Sua estética sonora, seu estilo de conduzir a pista sem muita pressão, sem acelerar demais. 

Posso adiantar que esse destaque ocorreu com muito sucesso, e Nick já é um dos nomes mais cotados para voltar ao clube em breve.  

Um pouco de história

Em 1988, Nicholas John Warren começou a discotecar em Bristol, tocando principalmente reggae e indie rock até a house music virar mais popular no Reino Unido. Durante a década de 1990, Warren se tornou um dos DJs mais requisitados da Europa, apresentando-se regularmente em vários países e sendo DJ de acompanhamento da banda eletrônica Massive Attack. Penso que poderíamos parar por aqui sobre sua carreira, porém ainda vale destacar os mais de 20 álbuns lançados, sendo 7 pela aclamada label Global Underground. 

O mais interessante é que Nick permaneceu fiel a esse estilo que ele, Sasha, Digweed, Dave Seaman e outros criaram nos anos 90; o progressive house. Ele e Hernán principalmente, continuaram levantando a bandeira após o fim do boom dos anos 2000 desses artistas (surgimento da EDM), e continuaram a catalisar novos talentos para dentro deste mundo, mantendo-o vivo até hoje. Durante os anos 2000, o progressive house foi tão popular quanto o melodic techno é hoje, levando DJs undergrounds ao estrelato e arrastando multidões. 

Talvez o progressive house nunca mais alcance o mesmo patamar de popularidade (chegou a rivalizar com CDs de Rock na Inglaterra na paradas), porém, com certeza é um dos estilos com público mais fiel e entendedor de música que existe. 

Voltamos a noite. Nicolas Rada tocou boa parte do tempo com a pista vazia e a entregou com um início de pista. Quem estava lá, estava simplesmente nas nuvens com seu set. Com muita tranquilidade, sons levemente progressivos que eu poderia ouvir por horas. Sem dúvidas um dos melhores warm-ups dos últimos tempos que ouvi. 

Mai Lawson era um tanto desconhecida para meus ouvidos. Mas sua escolha para a transição foi realmente adequada. Ele começou um pouco deep, e logo impôs uma linha dançante, porém sem ser pesada. Destaque para a faixa dos brasileiros Victor Arruda e Dutra, chamada ‘’Elephant Symphony’’.

Sua boa energia e carisma ganharam a pista até aparecer na cabine Sr Nick Warren. À 01h30 ele assume e já na primeira música percebemos que poderia ser um set especial. 

Aquele bass pesado e uma atmosfera misteriosa que tanto aguardávamos estava na sala – uma linha de progressive house com um groove que simplesmente te fazia se movimentar. Como diz Hernan; ‘’Nick é mestre em achar o groove da pista’’.

O primeiro destaque vai para a faixa ‘’Exhale’’ de Unusual Soul, em um tom mais dark e rápido. 

Essa variação entre música mais obscura e outras mais alegres e tribais me surpreendeu positivamente, sua seleção estava impecável. 

This Guy Ben com ‘’Neptuna’’ (Gai Barone Remix) foi outra que deixou a pista imersa por seu tom misterioso. Bass firme, timbres flutuantes, que faixa! 

Em diversos momentos ele entrava em uma onda de break viajante e do nada a faixa se tornava uma explosão progressiva mais forte. Veja abaixo

Depois da primeira hora set, seu som ganhou mais ritmo, a pista estava em uma das melhores vibes que peguei nesse verão, um clima amistoso e aquela sensação de nostalgia; isso aqui é muito som de Warung! Na hora pude matar um pouquinho da saudade do pistão e de suas longas noites de imersão. 

Às 03h30 ele apresenta um edit (ID) da banda The Cure para a clássica ‘’Friday, I’m in love’’. Foi o ponto alto da noite, que vocal incrível, que vibe se criou entre todos. O vídeo fala por si só. 

‘’It’s such a gorgeous sight

To see you eat in the middle of the night

 You can never get enough Enough of this stuff

 It’s Friday, I’m in love….’’

Às 03h50 entra uma das melhores músicas da noite. Uma melodia dramática e um jogo de claves com arranjos estilo Guy J. Certamente uma música que não esperava ouvir de suas mãos. Mas, nunca devemos duvidar de grandes artistas, ainda mais de mestres deste estilo; se existe algo que eles gostam de fazer é tirar ‘’coelhos da cartola’’, quando você menos espera. 

Na última meia hora ele pegou uma linha de som mais direta e com faixas que lembravam um progressivo dos anos 90. Aquele clap marcado no contra tempo e um groove mais rasgado. 

Impor esse sprint final mais agressivo era para por a pista em uma leve euforia, onde o ritmo é mais constante, as mixagens mais rápidas e as tracks tocam por menos tempo. Spieltape & Dave Pad com ‘’Space Chants’’ (M.O.S. Remix) foi outro destaque desse momento final. 

A última faixa foi para mostrar que ele ainda tinha muita lenha para queimar, que estava tranquilo e poderia levar até o fim fazendo uma noite que já estava incrível, se tornar histórica. 

De qualquer modo, foi deixado aquele desejo de ‘’quero mais!’’ e posso dizer que Nick sem precisar dar todo o seu melhor, sem acelerar muito e de forma cadenciada, colocou todos em um balanço sem fim durante três horas de set. 

Blancah assume após aplausos e logo trata de mostrar que não veio para brincadeira. Uma batida mais reta e pesada, com hi hats amplos e tons misteriosos e psicodélicos com certa progressão.

Foi perfeito para todos poderem liberar toda a energia restante, sem precisar pensar muito, apenas indo no fluxo sonoro que a residente tão bem sabe criar. 

Já com o dia amanhecendo, Blancah joga ‘’Vortex’’ de um dos produtores que mais tem me chamado atenção atualmente, James Harcourt. Que track incrível, uma levada que me lembrou as faixas que o Sasha adorava jogar no Warung pela manhã lá por volta de 2008. 

Batida com intercalações, elementos viajantes e pequenos momentos de explosão. Aquele tipo de faixa que cai como uma luva de manhã para deixar todos um tanto atordoados. Sem dúvidas uma das melhores músicas que ouvi em 2023. 

Saí feliz do club por ver que deu um ótimo público, que Warren entregou o que tanto se esperava de alguém do seu nível e por saber que o ‘’som do templo’’ permanece vivo em nossas mentes e corações. 

Playlist completa com todos os vídeos da noite:

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