O Greenvalley está mais underground ou o underground está mais mainstream?

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Por em 13 de novembro, 2023 - 13/11/2023

Há exatos 10 anos atrás, na virada de 2013 para 2014, um dos estilos de música eletrônica que mais estava em alta no mundo era o “EDM”, que além do significado popular para “Electronic Dance Music”, era designado também para vestir um estilo cujas características eram mais comerciais. Naquele mesmo ano, o Greenvalley havia sido eleito pela primeira vez como o club número #1 do mundo e, na sequência, anunciaria sua agenda de verão com força total para comprovar o título recebido. Todos os nomes confirmados na programação pertenciam ao que chamávamos de “EDM”: Bob Sinclair, Otto Knows, Dimitri Vegas & Like Mike, Yves V, David Guetta, Nicky Romero, Chuckie e Hardwell, uma agenda fortíssima e impressionante para a época. 

Então, 10 anos se passaram e muita água correu por debaixo dessa ponte. Novos artistas nasceram enquanto outros desapareceram, algumas tendências surgiram enquanto outras ficaram no passado e, claro, novas vertentes musicais ganharam espaço, ao mesmo tempo em que a música eletrônica, ano após ano, alcançava mais e mais pessoas. Obviamente, o Greenvalley não parou no tempo e gradativamente foi se moldando às mudanças do mercado até chegarmos no momento da análise atual, onde mais nenhum artista de EDM está presente no lineup, já que todos eles deram lugar a uma “nova safra” de DJs e live acts que, em linhas gerais, tocam um estilo de som que é a febre do momento: Melodic House & Techno.

Bob Moses, Yotto, Tale Of Us, Jan Blomqvist, WhoMadeWho, Jimi Jules, Vintage Culture, Agents Of Time, Meduza, Gheist, Adriatique e Colyn são os headliners escalados da vez. A lista impressiona tanto quanto a de 2014, afinal, vários dos nomes acima estão no auge de suas carreiras, liderando e puxando o movimento do Melodic Techno e, consequentemente, atraindo uma legião de fãs que se conectou com esse estilo de forma verdadeira… ou seja, essa temporada de verão da Greenvalley tem tudo para ser uma das mais memoráveis de toda a sua história. 

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Porém, antes de todo esse hype atual que o Melodic Techno detém, essa vertente era algo “para poucos”. Quando começou a ganhar destaque, por volta de 2014 e 2015, principalmente através do Tale Of Us, a sonoridade era bem mais densa, obscura e com uma atmosfera profunda. Tracks como “Astral” ou “North Star” ilustram muito bem essas características. As noites eram realmente escuras, não existiam painéis de leds gigantescos ou animações audiovisuais. O foco era a música, um convite para a imersão na tensão que era construída ao longo das tracks que carregavam um poder abismal de mexer com nossos sentidos.

Mas isso começou a mudar a partir de 2016, principalmente após a criação da Afterlife, label que logo no seu início assumiu uma residência de 13 semanas no Space Ibiza, chamando a atenção do mundo com seus eventos super produzidos. Então, naturalmente, aquela sonoridade obscura foi se aproximando de algo mais quente e melódico com o passar dos anos. Essa mudança, claro, não aconteceu de uma hora pra outra, tanto que os primeiros releases da Afterlife como gravadora ainda carregavam aquela aura sombria, como é possível notar no VA Realm Of Consciousness Pt. III, lançado em junho de 2018, dois anos após a inauguração do selo.

Dali em diante, porém, o Melodic Techno foi ficando cada vez mais emotivo e menos introspectivo. As faixas começaram a ter um apelo muito mais melódico e melancólico, com mais vocais e linhas sonhadoras, uma sonoridade bem mais fácil de ser absorvida pelo público em geral do que era há 5 anos. A escuridão, então, começou a dar lugar à luz e a parte audiovisual entrou em cena. Telões luminosos passaram a fazer parte dos showcases da Afterlife e de outros artistas semelhantes e isso, claro, começou a atrair um público maior, curioso para ver e viver essa experiência de perto. O underground começava a dialogar com o mainstream.

Após superarmos a pandemia e ficarmos tanto tempo sem eventos, longe de pessoas que amamos e com aquele sentimento de saudade gritando dentro de cada um de nós, surgiu uma crescente demanda por um estilo musical que pudesse conectar os ouvintes em um nível mais profundo e emocional, e é aí que entra o Melodic Techno. As características atuais do estilo conseguiram suprir o vazio que existia dentro das pessoas e isso se tornou algo global. A profundidade ainda está lá, mas é colocada de um jeito totalmente diferente. A “seriedade” das produções deu espaço para elementos mais “alegres”, um BPM mais acelerado e linhas de sintetizadores que tocam o fundo da alma, uma combinação perfeita que agradou o público e “tornou o Melodic Techno o novo EDM”. 

A verdade é que assim como tudo na vida, a música também é cíclica e tem suas fases. O Melodic Techno está em alta agora, mas não sabemos até quando esse hype vai durar. Há também um movimento forte de Organic/Afro House surgindo com nomes como Keinemusik, Black Coffee e outros. O mais importante é sabermos aproveitar o momento e curtir aquilo que mais nos identificamos — e a Greenvalley se mostrou totalmente consciente disso, trazendo os principais artistas que estão em alta na cena atual, mostrando a força de um club com 16 anos de história. Se é underground ou mainstream? Não importa, desde que cada um saiba respeitar o próximo na pista de dança sem preconceitos ou julgamentos, afinal, estamos ali pela música e nada mais. Que venha a temporada de verão do Greenvalley!

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