Uma noite progressiva com Roy Rosenfeld após um ano de sua primeira passagem no Warung Beach Club

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Por em 1 de agosto, 2023 - 01/08/2023

Fotos: Bia.art

Depois de cinco meses finalmente retornei ao Warung Beach Club para conferir uma noite progressiva em meio a um momento de transição que o club passa. O interesse estava em ouvir o Israelense Roy Rosenfeld, que havia conquistado muitos elogios em sua primeira passagem pelo clube em 2022, porém não consegui ouvi-lo por conta de um tal Sven Vath. 

Às 22h30 eu já estava no Warung para conferir como ficou a reorganização do espaço, onde um enorme bar foi estabelecido onde antes era a transição entre as pistas. O quase residente Danee fazia o warm-up. Digo quase, porque ele se apresenta no clube desde 2008! Nesses anos todos, obteve sua formação musical no templo e agora replica o que sabe sempre de forma muito séria e conceitual. 

Danee é o típico DJ à moda antiga, que não toca o óbvio e que busca sempre ensinar alguma coisa na pista. Seu estilo mais sombrio e de baixos mais duros e pulsantes, era jogado para muitos amigos que fazem questão de ir prestigiá-lo, onde claro, estou incluído. Eu gosto de ouvi-lo para matar um pouco da saudade de Sir John Digweed

Ele escolhe alguns elementos e estilos musicais que remetem ao lendário DJ inglês, do qual, aliás, torço muito para que retorne ao clube. Fiquei com a sensação de que Danee dividiu o set em duas partes, onde às 23h ele resetou a pista e construiu novamente uma narrativa um pouco diferente da primeira hora. Essa é a vantagem de tocar no primeiro horário!

À 00h, quando o alemão Phonique assumiu, a pista estava completamente cheia. Eu observava o quão novo é o perfil de frequentadores do clube, e ficava me perguntando se eles conhecem os nomes que eu aprendi a admirar quando eu comecei a frequentar o club lá em 2010. 

Eu sei que a roda gira e novos artistas que estão em alta sempre vão ter mais espaço, esse aliás é um grande trunfo do clube; nunca ficar preso ao passado. Porém às vezes tenho vontade de voltar a ouvir ali nomes como Digweed, Dave Seaman, Danny Howells, Nick Warren, Steve Lawler, entre outros. 

Outra questão que passava pela minha cabeça era se o Garden sozinho seria capaz de manter a chama acesa da “alma do templo’’, onde a mágica acontece de forma espontânea enquanto grandes sets são construídos pelas mãos de DJs de todo o mundo. O papel do Garden por muitos anos foi de linha auxiliar da noite, onde uma segunda opção garantiria que o público permanecesse no clube e também viesse em maior quantidade. Diante da tragédia que ocorreu com a queimada do Inside, o Garden se tornou a única força com a missão de manter um público recém renovado interessado em vir para a praia brava em uma sexta-feira chuvosa de inverno. 

Fazia muitos anos que eu não ouvia Phonique, fiquei a primeira hora fora da pista conversando com amigos e quando voltei, peguei uma pista completamente envolvida pelo característico deep house que consagrou o artista. Ele possui uma enorme qualidade nas transições e conseguia tocar faixas mais orgânicas, com acordes de piano e melodias, porém sempre sem perder o ritmo. Foi um set excelente, cadenciado, sempre indo a algum lugar novo, mantendo assim a atenção de todos. A sensação é que ele poderia continuar levando a noite por horas e horas, algo que já fez no passado. Destaque para o momento em que toca ‘’Purple Line’’ de Ben Bohmer. 

Às 03h00 assume o comando um dos maiores destaques da cena Israelense na atualidade; Roy Rosenfeld. Ser um dos produtores favoritos de Guy J não é para qualquer um, devido a enorme exigência que seu conterrâneo impõe para lançar na agora extinta label Lost & Found.

Roy faz parte de uma geração de ouro de seu país, isso é inegável. Geração essa que ajudou a revolucionar a cena progressive house na última década, colocando-a em evidência novamente. Seu set começou com uma energia muito boa e com a linha de som característica. 

Um estilo parecido com Guy J, meio flertando entre o sombrio e emocional, toques tribais e as famosas linhas de baixo pesadas e envolventes, dando um novo patamar ao excelente sistema de som do Garden. Esse é outro ponto de destaque, as caixas da renomada marca L-Acoustics estavam soando claras e potentes. 

Havia um sentimento um tanto contagiante na pista, principalmente no front, onde Roy conseguia se conectar. Ele se manteve no mesmo ritmo nas 2 primeiras horas até encontrar o momento ideal para jogar nada menos do que ‘’Lost & Found’’, uma de minhas faixas favoritas de Guy J, e que leva o nome da gravadora do ‘’baixinho’’. 

Era um tributo, uma forma de agradecer a um label que colocou não só Roy, mas diversos outros produtores em destaque mundial. Em julho, Guy J anunciou o fim da gravadora, fechando um ciclo exatamente no lançamento de número 100. É incrível como essa música causa a mesma emoção na pista mesmo após tantos anos. Um clima meio soturno e emocional, exatamente como quando ouvi ela pela primeira vez em abril de 2012 pelas mãos de ‘’el maestro’’ HC.  

Não demorou muito e ele surpreendeu jogando ‘’What To Do’’ de Guy Gerber, talvez a música mais diferente do seu set, em uma tentativa de quebrar o ritmo mais pesado e descontrair a pista; funcionou. Foi legal ver todos cantando e vibrando com seu vocal inconfundível. 

A meia hora final foi mais espacial, levando o set para algo mental e contemplativo. O problema? É que precisava parar às 06h, antes do sol de inverno surgir. Faltou tempo para dar um sprint final, acelerando a pista novamente e deixando aquela sensação de euforia antes de encerrar. Realmente os DJs que tocam nessa época do ano precisam calcular bem a construção de set, para não terminar sem ter acabado. Não que seja uma crítica a Roy, longe disso, ele entregou um set com ritmo e no estilo que se esperava dele. 

Deixei o clube feliz por sentir que o Garden tem dado conta do momento, afinal no que compreende decoração, atendimento, Sound System, tudo está no mais alto nível, fazendo que a experiência continue sendo marcante para os frequentadores. 

Agora é aguardar pela próxima sexta-feira, onde outro Israelense desembarca no clube – Shai T

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