Trazendo as raízes e o futuro: Mariano Mellino e Albuquerque encabeçam uma noite memorável no Garden

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Por em 29 de agosto, 2023 - 29/08/2023

Fotos por Biah.Art

Quando foi anunciado Mariano Mellino como headliner do Garden, fiquei feliz em ver um dos principais nomes da nova geração de artistas Hermanos recebendo essa merecida oportunidade. Os DJs argentinos possuem uma relação histórica com o litoral de Santa Catarina, nomes como Ricky Ryan, Lucas Abadi, Deep Mariano e Spitfire foram muito importantes durante a era dourada dos anos 2000, ajudando a criar uma identidade musical no estado, pautada pelo progressive house. Eles e muitos outros tocavam com frequência nos clubes da região e principalmente no Warung. O líder máximo dessa conexão entre Hermanos e o litoral catarinense é Hernan Cattaneo, porém, uma nova geração de argentinos vem chamando atenção e ganhando projeção internacional. Mariano Mellino é um deles, e nos últimos 2 anos tem tocado com frequência no sul do país. A noite ainda contava com outro artista que a tempos estava merecendo a chance de fechar a pista; Albuquerque, residente por mais de 10 anos é sinônimo de entrega dançante e envolvente. 

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Cheguei no clube por volta de 00h30 e estava rolando o b2b de Thibes e P.A. O som deles logo me chamou atenção; um deep house tribal com toques progressivos consistente, como a um bom tempo não ouvia no clube. Aquele tipo de warm-up clássico, que envolve a pista em uma atmosfera mística, porém sem chamar atenção. Só me dei conta de quem era P.A quando cheguei perto da cabine, se tratava de Paulo Antônio. 

Um dos DJs mais renomados de Curitiba, e que já fez warm-ups para gigantes no templo, como Sasha e Dave Seaman. É um daqueles raros DJs que tem a qualidade dos argentinos nas transições e um bom gosto tremendo. Espero que ele volte a se apresentar com frequência no clube, é sempre uma aula de preparação de pista. Super destaque para o lindo remix para ‘Girl I Love You ́ ́ por Emi Galvan Remix na faixa de Massive Attack. Com certeza foi o melhor momento no set da dupla, arrancando aplausos da pista. Curiosidade; essa é a música que Hernan Cattaneo estava tocando no momento em que foi feita a homenagem pelo Warung em 2022, ao baixar a bandeira da Argentina na cabine do Inside. 

Às 01h15 Mellino assume com uns minutos de atraso, ele havia perdido o primeiro voo da Argentina e chegou em cima da hora no clube. Sem fazer cerimônias, Mellino inicia com batidas fortes e linhas de baixo abraçando o Garden. Não havia porque fazer uma intro, a pista estava à espera de dançar e se entregar; estava pronta para ouvi-lo.

Destaque nesse primeiro momento para a faixa ‘’Instabilis’’ de Eichenbaum & Fede Pals. Outra que hipnotizou a todos foi ‘’Alsina’’ de Fran Garay. 

Mellino tocou músicas imponentes, sempre muito bem mixadas. Foi criando entre momentos mais atmosféricos, outros mais introspectivos, porém sempre com muita força nas batidas. Uma pegada lembrando Guy J, com obscuridade e do jeito que eu gosto, veio com ‘’Colatrix’’ de Jimmi Hop (Matter remix) 

Outras faixas que vale muito destacar são: Kamilo Sanclemente com ‘’Stellar Eschoes’’. ‘’Intercept’’ de Mariano Giacinti e  ‘’Minddworm’’ (the Wash Remix) de Rauschhaus. 

Na meia hora final, ele cruzou a linha do progressive house para melodic techno; uma sonoridade mais direta, breaks longos e vocais chamativos, a pista explodiu. Foi um ótimo exemplo de como usar o hype do melodic a seu favor, reservando uma parte do set para o estilo que está tão em alta em todo mundo. A faixa ‘’Slayer’’ de Nufects representa bem esse momento.

Outros destaques desse fechamento de construção por quase 3 horas são ‘’Dust’’ de AFFKT, ‘’Come To The Garden’’ de Labert (Mattia Pompeo remix) e Type & Eleonora com ‘’Home’’.

Mellino é um DJ que se apresenta com muita naturalidade e confiança, sorriso no rosto buscando conectar-se com a pista e com quem está ao seu redor. Ele tem um futuro enorme pela frente. 

Albuquerque assume às 04h uma pista bastante energizada e pedindo por uma continuidade que fosse rápida e intensa. Foi o que ele entregou; subiu o bpm para 127, ajustou as mixagens rápidas e trouxe antecipação de compassos. O residente liberou a energia da pista da mesma maneira que lendas do calibre de Fabrício Peçanha e Leozinho costumavam fazer nos bons tempos passados.

Alias, seu set me despertou nostalgia, jogando um progressive house mais clássico, onde o groove é preponderante entre viradas explosivas cheias de baterias. Consegui matar um pouco da saudade de ouvir Ricky Ryan quebrando tudo no Inside. Destaque para ‘’Bazaar’’ Port Manteau e ’Don’t Stop’’ ANUQRAM. Essa música se parece muito com os sons de 2008, 2009, e foi lançada esse ano. É incrível como os timbres e arranjos da música eletrônica vão e voltam de tempos em tempos. 

‘’Together Forever’’ de Daddy Squad foi outra que me jogou para o passado. ‘’Young Narratives’’ de Vhyce, me fez lembrar de um certo Laurent Garnier pela manhã em janeiro de 2018; aqueles acordes de piano rápidos e limpos, junto de uma leve acidez de fundo. 

Infelizmente eu fiquei sem bateria e não consegui gravar mais momentos do set de 2 horas que se passaram voando. No final, ele ainda jogou um breakbeat, apenas para dar aquela educada nos clubbers resistentes do amanhecer. 

Albuquerque não toca um som óbvio e é esse um dos papéis principais dos verdadeiros DJs; tirar a pista de sua zona de conforto, mostrando que quem assume a parte final da noite precisa entregar algo diferente do DJ anterior e ainda por cima ser mais intenso. Eu gosto quando um DJ toca algo que você não vai mais encontrar nas mãos de outro, pelo menos não aqui no Brasil. 

As próximas datas do Garden são com Apache na véspera de feriado de independência, e D-Nox com Zac no sábado dia 9. 

Playlist completa da noite abaixo:

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