Zeo e Pérola falam sobre a conexão de seu primeiro single com a espiritualidade

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Por em 30 de junho, 2023 - 30/06/2023

Falar sobre música é falar sobre liberdade, é poder mostrar ao mundo aquilo que você sente e acredita, é experimentar, ousar, transmitir a sua verdade. Nesse ambiente criativo e cheio de descobertas, quem está encontrando um novo caminho é Zeo Guinle, conhecido por muitos como metade do duo Flow & Zeo, agora em carreira solo. Um de seus novos projetos é em colaboração com Pérola Maia Bonfanti, repleto de significados, a dupla lança em breve o primeiro single de uma trilogia de músicas que vai muito além do som que ouvimos, envolvendo também cultura e espiritualidade.

Batizada de “Eu Menti Pra Ela Zé / Eu Ando Triste Ô Zé”, a música traz uma referência direta a Zé Pilintra, uma entidade do Catimbó que foi “adotada” pela Umbanda, religião afro-brasileira nascida no Rio de Janeiro. “Quando nos encontramos esse ano na casa da Tatiana – irmã do Zeo -, logo percebemos que estávamos os dois numa jornada espiritual e o Zé Pilintra foi a entidade que primeiramente abençoou nosso encontro e caminho, nos guiando e protegendo; por isso essa trilogia é em sua homenagem”, explicam.

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A faixa, que será lançada no dia 07 de julho pela Zero Gravity Records, carrega uma mistura de estilos que vai desde world music ao afro e organic house, e representa um novo momento para ambos os artistas: Pérola está voltando para a música após um longo período dedicando-se às artes visuais, iniciando um novo ciclo em sua carreira; Zeo busca explorar novas sonoridades em meio a sua conexão recente com a Umbanda, aproveitando sua abertura espiritual. Mais detalhes desse importante projeto musical você confere abaixo nesta entrevista exclusiva:

GRVE: Pérola, Zeo! Obrigado por toparem esse bate-papo. Vocês parecem ter se encontrado em um momento muito oportuno, onde ambos estavam em busca de novas experiências. Quando a história dessa trilogia começou exatamente? 

Zeo/Pérola: Olá, pessoal! Obrigado pelo convite. Quando conversamos pela primeira vez a respeito de nossos aprendizados com Seu Zé, sentados na varanda da Tatiana. A partir daquele momento as missões começaram e as imagens presentes do videoclipe começaram também a ser captadas. Pouco tempo depois a letra da segunda faixa já havia sido criada. Quando abrimos o estúdio de arte integrada Zero Gravity Studio (@zgstudio) coincidentemente nos encantamos pelos dois pontos de umbanda presentes na primeira faixa. Mas foi só quando a terceira letra foi criada que percebemos que elas se conectavam e eram na verdade uma trilogia.

GRVE: Ouvimos o single antecipadamente e notamos que ele carrega uma diversidade de influências, mas quais vocês destacariam? Onde está o toque de cada um na música?

Zeo: Apesar do meu histórico dentro da música eletrônica ser mais conhecido pelas produções com levadas 4X4, a bastante tempo venho flertando e produzindo diferentes estilos musicais. Projetos paralelos como Dfuze e Fluyd são exemplos dessas experimentações. Nesse novo projeto procurei não me prender a nenhum estereótipo musical. A pesquisa para produção dessas músicas foi além da música eletrônica, busquei texturas afro-brasileiras e instrumentos como o berimbau, o agogô, congas, atabaques, etc. Beats de R&B e afrobeats também foram inspirações constantes, mesclados com os synthes que já faziam parte de minha assinatura musical. 

Pérola: Na época da faculdade eu já percebia o caráter modal, algumas vezes pentatônico, das minhas melodias, flertando com sonoridades folclóricas e regionais, mas que eu desejava eletrizar, puxando para graves potentes e urbanos. Quando o afrobeat, na esteira do R&B, dominou o mundo, eu vi com maior clareza o caminho que eu queria seguir, ao mesmo tempo em que desejava honrar a riqueza rítmica e musical brasileira. Encontrar o Zeo foi uma sorte do destino, ou melhor, obra de mestre do Seu Zé. A gente busca romper com a ideia de melodia e base, tentando mesclar todas as camadas de forma integrativa, muitas vezes desconstruindo a própria melodia e usando ela como recurso rítmico-melódico.

GRVE: A música possui algum instrumento tocado, analógico, ou toda ela foi feita de forma digital? Nos falem sobre o “ponto de umbanda” utilizado.

Zeo/Pérola: Foram usados sintetizadores analógicos, como o Moog Voyager, e plugins VST‘S, além de bongos acústicos.  Os dois Pontos de Umbanda, o primeiro de Larissa do Carmo Batista Cruz e o segundo de autor desconhecido, são muito próximos melodicamente e se complementam dentro da narrativa poética. Bastante executados dentro e fora dos terreiros, caíram na graça do povo e nos encantaram igualmente.

GRVE: Além da música em si, vocês desejam contar uma história e compartilhar parte da jornada de cada um, certo? Tanto que há um clipe sendo lançado junto… qual é a mensagem por trás dele e da música?

Zeo/Pérola: Certíssima, a jornada é parte fundamental da criação. Tanto para a música quanto para o vídeo, é durante o caminho que elaboramos o conceito, captamos as imagens e concebemos a narrativa, tudo é real. Queremos apresentar uma experiência multissensorial, fenomenológica. Um convite ao público para embarcar nessa jornada com a gente. Sabemos onde ela começa, mas não sabemos onde termina.

GRVE: Essa conexão com a Umbanda é algo que já faz parte da vida de ambos, mas muita gente pode ainda não conhece sobre… Para quem não está familiarizado com a religião, como vocês resumiriam o sentimento de fazer parte dela?

Zeo: Uma energia agregadora de paz, solidariedade, autoconhecimento, gratidão e muita fé. Que somadas trazem amor, paz de espírito e equilíbrio para nossas vidas. Meu relacionamento com a Umbanda se iniciou no Centro Unica, no bairro da Gamboa, na cidade do Rio de Janeiro, a aproximadamente dois anos. Mas mesmo antes de frequentar a religião eu já sentia a presença de Seu Zé Pilintra em minha vida. Através da Umbanda e do meu terreiro de Candomblé, onde também, por sincretismo, se cultua entidades encantadas do Catimbó e da Umbanda, fortaleci ainda mais minha relação com o Zé Pilintra.

Pérola: Meu Padrinho de Santo é da Umbanda, meu Pai de Santo do Candomblé e meu Avô de Santo veio do Catimbó. Eu diria que me sinto envolvida em muito amor, em uma família atenciosa, que cresce e se desenvolve junta. Precisamos nos dedicar sempre, tanto nos rituais quanto no dia a dia, mantendo sempre a fé, gratidão e humildade.

GRVE: Vocês dois já experienciaram a mediunidade de incorporação? Quais os benefícios isso trouxe para cada um? 

Zeo: Sinto a presença do Seu Zé diariamente, assim como de outras entidades e Orixás que cultuo. Isso acontece normalmente quando estou saudando-os em seus altares que mantenho para homenageá-los, agradecendo, conversando ou pedindo. Nas giras e nos trabalhos que realizo, tremores, tonturas e emoções fortes, como vontade de chorar, são sensações que sinto com frequência e indicam a presença dessas entidades. 

Pérola: Já senti as entidades se aproximarem, tanto Encantados, quanto Exus e Orixás, mas como ainda não fiz a cabeça, não posso incorporar. Quando eles se aproximam, muitas vezes no próprio dia a dia, quando oferecemos algo ou quando rezamos, nossos sentidos são aguçados, como na meditação, elevando todas as nossas capacidades. Mas principalmente, a mais importante de todas, a capacidade de amar a vida e a todos os seres vivos.

GRVE: Alguns estilos de música eletrônica são capazes de nos levar a estados meditativos e de expansão da consciência… essa também é uma intenção dessas músicas que serão lançadas? 

Zeo/Pérola: Sim e não. A primeira intenção delas é de expansão emocional, amadurecimento dos afetos, o que não deixa de ser uma forma de consciência. Temos no horizonte, um pouco mais adiante na jornada, a busca desses estados mais próximos ao transe. Embora já utilizemos alguns recursos como a sobreposição e repetição rítmica, clássicos da hipnose, é só mais adiante que aprofundaremos esses tipos de recursos.

GRVE: Zeo, você ainda continuará atuando com o Flow & Zeo juntamente ao seu projeto solo?

Zeo: Sim, temos produções musicais e lançamentos agendados, inclusive recentemente lançamos pela Universal Music, em colaboração com a DJ Vivi Seixas, um remix da Sociedade Alternativa, de seu pai Raul Seixas.

GRVE: Pérola, você pretende dedicar mais tempo para a produção musical a partir de agora? 

Pérola: Sem dúvida, esse é só o início. Há muito tempo procuro a rota certa para esse recomeço. Estar a serviço de algo maior do que eu sempre foi importante para mim, e precisava chegar nesse lugar de verdade, com o coração, não apenas com a vontade. 

Desde muito cedo meu objetivo era a integração das linguagens artísticas, acredito que através da espiritualidade eu tenha conseguido peças importantes desse quebra-cabeça. 

Enquanto eu tiver amor, fé, gratidão e humildade estarei caminhando para onde quero ir, independente de qualquer coisa. 

GRVE: E quais os próximos passos após este primeiro single? Obrigado!

Zeo/Pérola: Os próximos passos já estão sendo dados nessa jornada em homenagem ao Zé Pilintra. A segunda música e videoclipe da trilogia já estão em produção e poderão ser interpretados como uma resposta ao primeiro single. 

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