Se tem uma vertente de música que podemos chamar de estável no Brasil é o Progressive House. Enquanto muitas sonoridades têm seus períodos de trending e de “baixas” ao longo dos anos, a melodia groovada do Progressive se mantém com os pés fincados no coração do público, na mente dos DJs e na glória dos sistemas de som.
Muitos são os expoentes deste movimento por aqui, o que é bom, considerando que não precisamos reduzir as nossas referências somente aos estrangeiros-chave do Progressive, a exemplo do Hernán Cattaneo e o John Digweed. Pelo contrário, sabemos que a cena está em boas mãos através do trabalho consistente de artistas como Morttagua, USH, BLANCAh, ZAC, SOWZ e PK Live.
Este último, o PK Live, tem um amor por dance music desde o período das fitas cassete, as quais ele recortava, selecionava e com as quais criava playlists nos anos 90. Sócio-fundador da Unik ID, residente do INPROGRESS, da Secret Encounters e também do núcleo PROGRESSION (no D-Edge), ele lembra um pouco o seu relacionamento com a vertente e suas vivências na cena.
Olá, tudo bem? Você se recorda dos primeiros eventos de Progressive que você foi? Foi “amor à primeira ouvida”?
Olá, pessoal! Olha se tem uma coisa que eu sou péssimo é para datas… (risos), mas me recordo de ter vivido em muitas cenas e conhecido diversos estilos até ter contato com o Progressive em clubes como o Manga Rosa, Pacha SP e na minha estreia ao som de Deep Dish no Warung em 2007.
E como você difere a cena de décadas atrás com a de hoje?
Eu me sinto privilegiado de ter passado por tudo que passei dentro da música eletrônica!
Acredito que antigamente tínhamos um pouco mais de liberdade, íamos para as festas ouvir o DJ e não tínhamos oportunidade de fazer vídeos e registrar momentos e talvez por isto a impressão de ter mais conexão com a música e o artista ali. As pessoas cuidavam mais umas das outras e a energia que os DJs conseguiam transmitir eram feitas de uma forma diferente da de hoje.
Os recursos (desde equipamentos, locomoção e infra estrutura, eram inferiores aos de hoje) e mesmo assim as festas eram espetaculares. Hoje temos festas tão boas quanto as de antigamente, porém eu vejo um viés mais comercial. Estamos em uma fase em que o áudio e o visual tem quase a mesma importância que somente a música. A busca de engajamento é algo que eu vejo ser mais aparente e gostaria que tivesse um pouco mais de equilíbrio nisso, que fosse mais natural, caminhamos para isso e não acho nem pior nem melhor. O que posso dizer é que tenho as melhores lembranças desses momentos!
Conte-nos sobre as suas primeiras referências no Progressive, que te ajudaram a decidir definitivamente a levar a dance music como carreira.
Minhas primeiras referências foram os artistas e labels britânicas: Johnn Digweed, Sasha, 16 Bit Lolitas, Red Jerry, Hernan Cattaneo e todos que lançavam pela HOOJ CHOONS e BEDROCK.
E atualmente, quais são os DJs e produtores brasileiros mais interessantes nas suas playlists?
Temos excelentes DJs e produtores brasileiros hoje e posso afirmar que estão no nível dos grandes DJs Internacionais. Os mais jovens que eu venho observando destaco são Andy Lima, Bianco Vargas… os já não tão novos são Ca Cimino, Marttinez… ah tem alguns aí com um tempo de pista tão longo quanto o meu como Thiago De Jesus, Gui Milani e muitos outros… seria extensa essa lista rs.
Como você faz a curadoria dos seus eventos? Quais critérios você usa para trazer talentos?
Primeiro preciso entender qual a proposta do evento e o quanto podemos arriscar. Para a UniK ID nós temos a premissa de trazer um artista ou inédito ou que há muito tempo não vem e que realmente tenha a progressividade na sua essência. Na Secret Encounters nós damos preferência aos talentos brasileiros ou até alguma boa oportunidade! Já para a Progression sempre é sugerido nomes ao clube. Já deixamos mapeados artistas relevantes e tentamos trazer junto algum nome nacional para se divertir com a gente.
Como você define o seu som atualmente? Como busca se diferenciar?
Eu acho que sou o do contra! Eu batalhei muito para trazer de volta o progressivo para São Paulo e acabar com o preconceito que existia em torno do estilo. Sempre busquei a progressividade dentro de todos os estilos e gosto bastante de utilizar isso nos meus sets. Meu som hoje é mais construído, tento criar momentos, porém fugindo de todas as regras que parecem que foram colocadas como obrigatórias hoje! Não me apego ao KEY, não me apego ao BPM, eu busco o diferente do que vem sendo apresentado, quero fugir da fórmula mágica da mesma linha de bateria e bassline tão utilizada que chega a ser até cansativa. Eu busco a essência da progressividade e não o progressivo em si!
E sabendo tudo o que você sabe, o que você prevê para a cena de Progressive no Brasil daqui em diante?
Olha, eu olho para trás e vejo o estilo de som que as pessoas torciam o nariz, e agora é tão aceito que chega quase a virar mainstream! Sinceramente eu tenho um mix de sensações.
Vejo a quantidade de artistas surgindo, o quanto caiu no gosto das pessoas! Eu vejo um futuro enorme para essa nova geração e ao Progressivo e acredito que se os artistas se dedicarem e fizerem o que acreditam de verdade, não buscando o aplauso e a mão para cima ou o like, teremos um estilo tão difundido quanto os demais, pois o progressivo é vida, é atmosfera e é cada momento que o DJ consegue criar!
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