Como foram os artistas conceito na Green Valley – All Day I Dream e Guy Gerber – confira review

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Por em 10 de maio, 2023 - 10/05/2023

Depois de 10 anos, voltei ao super club Green Valley para conferir duas noites com artistas da cena underground. Algo raro de acontecer e uma aposta muito acertada do clube. A última vez que havia estado na GV, foi no lendário festival Quinto Sol, recebendo Ricardo Villalobos e sua trupe com o aclamado estilo minimal do leste Europeu. 

Quando foi feito o anúncio da vinda da Label All day I Dream (ADID) e Guy Gerber em noites seguidas, fiquei surpreso, e assim como eu, com certeza outra enorme parcela de clubbers da região voltou a Camboriú ou aproveitou para conhecer a casa. 

Cheguei com amigos por volta da 01h. O argentino Valdovinos tocava o tradicional estilo Organic House da label ADID, onde ele é um dos destaques. Era evidente que o bpm estava mais alto, afinal, é preciso energia para movimentar pistas maiores. Seu set foi ótimo para essa transição até uma das estrelas da noite; Sebastien Léger.

29.04.2023 | ALL DAY I DREAM | Local: Green Valley | Fotógrafo: Diego Jarschel – @diegofotografias

 O francês é um dos maiores produtores da atualidade, com diversas músicas marcantes e tocadas por gigantes como Guy J e Hernán Cattaneo. Sebastien está a tempo na cena, então sabe muito bem o que fazer quando assume uma pista. Seu set foi muito dançante, com ótima energia. 

29.04.2023 | ALL DAY I DREAM | Local: Green Valley | Fotógrafo: Diego Jarschel – @diegofotografias

Olhei ao redor e vi a pista toda conectada e realmente curtindo um sábado de feriadão. Se havia ainda qualquer desconfiança que os caras da label iriam dar conta da pista com seus sons mais leves, Léger tratou de mostrar que é possível comandar grandes públicos também. 

Eu já assisti o lendário Lee Burridge algumas vezes, sempre sets muito bem feitos, porém, fiquei pensando em como ele assumiria uma pista que estava totalmente envolvida. É aí que entra toda a experiencia de um dos maiores DJs dos últimos 30 anos. 

Um cara que foi um dos líderes da expansão do progressive house no mundo, e que é o responsável por introduzir música eletrônica em Hong Kong, ainda nos anos 2000. Lee se reinventou totalmente em 2012 com festas day party em Nova Iorque, onde consequentemente surgiu a label All Day I Dream, ajudando a criar um estilo novo e lançar a fama uma série de novos produtores totalmente desconhecidos.

29.04.2023 | ALL DAY I DREAM | Local: Green Valley | Fotógrafo: Diego Jarschel – @diegofotografias

 Eles produzem uma mistura de deep house, tribal house e progressive. Sons que são um mix de acordes de pianos, sempre dançante, levemente tribal e melódico. O organic house virou gênero no beatport, e isso tem origem no movimento de Lee Burridge e Mathew Decay a mais de uma década. 

Ao assumir a pista as 03h30, Lee manteve a energia contagiante e mostrando toda sua habilidade de comandar, trouxe uma pegada um pouco diferente; faixas mais rápidas somadas a seu carisma sem igual. Ele fez a pista vibrar várias vezes, como um mestre que é, e ao final, trouxe nada menos que o clássico do Underworld ‘’Two Months Off’’ em um remix de Tim Green. Foi para fazer todos se emocionarem com o vocal épico desta lendária faixa. 

29.04.2023 | ALL DAY I DREAM | Local: Green Valley | Fotógrafo: Diego Jarschel – @diegofotografias

Para fechar a noite, outro argentino que tem se destacado mundo afora. Facundo Mohrr não tinha uma tarefa fácil; continuar no estilo ADID ou tentar algo novo? Ele fez a segunda escolha, ainda fossem sons progressivos, ele apostou em tracks um pouco mais acessíveis, mais explosivas e na minha visão bem intencionadas dentro do contexto que ele estava. Ainda que tenha sido um estilo que não me agradou tanto, funcionou muito bem para manter o público no clube em grande quantidade até o final. 

29.04.2023 | ALL DAY I DREAM | Local: Green Valley | Fotógrafo: Diego Jarschel – @diegofotografias

Sai satisfeito as 06h30, já começando a pensar que em algumas horas estaria de volta para ver ninguém menos que o Guy Gerber. 

Domingo, após muito descanso, cheguei no clube por volta das 02h. Maga estava tocando um som rápido, forte, um tanto massivo, sem variações, senti a pista pesada. Como era cedo, todos estavam com energia para o que estava acontecendo. Confesso que não consegui ficar na pista, fui para os arredores e esperei pacientemente por Gerber às 03h30. 

Na última meia hora, Maga baixou a guarda e tentou espelhar com o estilo do Israelense, foi uma ótima entrega, ainda que estivesse entregando a pista um tanto cansada. 

Destaco que nesta segunda noite, o clube ativou o telão ao fundo do back stage, além do estilo de iluminação ser diferente, com mais luzes vermelhas e um clima obscuro. Essa capacidade da casa se adaptar a proposta sonora é muito interessante, ajuda na percepção sonora da noite. 

Guy Gerber resolve baixar o bpm e tocar seu som, sem se preocupar com expectativas. Ele tem um estilo único, e logo nas primeiras faixas criou o que chamo de ‘’caos controlado’’. Sons viajantes, batidas com groove abafado, um toque tribal, e muitos efeitos. Era uma leve embriaguez sonora, envolvente. Quando me dei conta, todos estavam balançando com ele e sua música, que ainda parecia devagar, mas se tratava de uma construção de set, como deveria ser. 

Não demorou muito para ele começar seu ritual de levantar os braços e balançar de um lado para o outro, como que hipnotizando a pista de dança. Não há toa, o símbolo de sua gravadora e label party Rumors é uma serpente. 

Ela é sua representação fantasiosa, estética e sonora, pois uma de suas marcas registradas são os hi hats curtos e rápidos, criando um efeito que remete a um chocalho. 

Alguns vocais mais acessíveis e depois uma sessão de produções próprias para agradar quem esperava. Destaco a sequência com o remix de ‘’Love Fool’’, ‘’No Distance’’, sua obra prima com Dixon e ‘’Secret Encounters’’, que é uma de minhas favoritas dele. 

Já amanhecendo, joga a clássica ‘’Kill 100’’ com remix de Carl Craig para X-Press 2. Próximo das 06h, solta nada menos que uma das maiores faixas eletrônicas de todos os tempos, ‘’Plastic Dreams’’ de Jaydee (ID remix). 

Outra que gostei muito foi ‘’Gangbang feat Anette’’ de Macchina Nera, em um vocal lindo, dentro de uma quebra de ritmo. 

Logo depois, ‘’Claire’’, produção sua com Clarian, eu realmente amo essa música, é nostálgica e sempre capaz de despertar sentimentos esquecidos. Para quem teve paciência para esperar, ‘’What To Do’’ surge com o dia claro, ela é certamente a música que colocou sua carreira em outro patamar nos últimos anos, pois possui o poder de agradar um iniciante na música eletrônica, bem como o mais exigente dos clubbers. 

Dessa parte para o final, Gerber entrou no modo infinito de acelerar e voltar a pista entre tracks mais emotivas, outras mais acidas e rápidas, vocais de house music ou de faixas progressivas. ‘’Don’t Call’’ em remix para a banda Desire não poderia faltar.

Próximo das 07h, boa parte do público já havia ido embora, porém ainda havia muitos interessados, após uma pausa, aplausos e gritos de ‘’eu não vou embora’’, Gerber volta para o sprint final com nada menos do que ‘’Timing’’, música que está no meu top 10 de todos os tempos e uma das produções mais originais e impactantes de toda a história da dance music. 

Não é por acaso que a Green Valley foi eleita 5 vezes o melhor club do mundo, sua estrutura é realmente impressionante. Sound System de primeira linha, não existe filas nos bares e banheiros, tudo muito organizado e um atendimento que justifica o reconhecimento global, sendo um dos clubes favoritos de muitos dos maiores DJs da cena comercial. Com o aumento do dólar na última década, a GV precisou se reinventar em sua curadoria, onde muitos grandes nomes nacionais passaram a ganhar espaço, porém, os DJs internacionais da cena conceito não faziam parte dos planos. Essa vinda deles agora pode mudar os rumos da curadoria nos próximos meses, aguardaremos. 

Fotos por: @diegofotografias / Adriel Douglas

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