GRVE entrevista: Lorenzo Fasano

Tags: , , , , ,
Por em 12 de abril, 2023 - 12/04/2023

O paulista Lorenzo Fasano é uma das figuras proeminentes do Techno nacional nos últimos anos. Entretanto, ele se mostra disposto a explorar outras faces e direcionamentos em sua carreira com o lançamento do single “Infected”, projeto de estreia de sua gravadora Sector L. A faixa é um Deep House com referências de Progressive House e Techno, conta com um belo vocal e uma guitarra criada a partir de uma jam experimental do próprio Lorenzo. 

Nem todo lançamento carrega uma história rica em detalhes por trás e está tudo bem. Porém, neste caso é diferente. Pelo contexto já apresentado no parágrafo anterior e também pela forma como Lorenzo trabalhou e se relacionou com a música nos últimos meses, Infected é digna de destaque e aprofundamento. Por isso, conversamos com o artista que deu ótimas respostas em torno de cada um dos tópicos levantados. Confira: 

Olá, Lorenzo! Tudo bem? Em um bate-papo informal você citou que o tempo morando em Santa Catarina te impulsionou a produzir faixas como a Infected. É possível dizer que o ambiente externo te impulsiona de maneira importante em suas produções? 


Lorenzo: Sim, com certeza. Acho que o ambiente influencia bastante, afinal tudo é energia, acredito muito nisso. São Paulo tem uma energia industrial e frenética. Morando em Santa Catarina naquele período, me fez “desacelerar” um pouco. Um ambiente mais praiano e tropical com certeza me influenciou a testar coisas novas no estúdio, porque pra mim, cada lugar te passa uma vibe. E como não gosto de me prender, deixo fluir, deixo expressar o ambiente e tudo que está em volta.  

Como você enxerga essa questão da expectativa do público em torno de um estilo pelo qual o artista é conhecido? No seu caso, por exemplo, Techno sempre foi muito atrelado a você, mas há outras referências também, correto? Como lidar e organizar tudo isso?

Lorenzo: É um ponto complicado e uma boa pergunta. Comecei na música tocando bateria aos 7, passei para guitarra aos 9 e na minha adolescência estudei uns anos de piano. Sempre amei ouvir Rock e Metal, gostava de algo pesado e mais dark, mas também por influências familiares, gostava de ouvir bandas e artistas como Elton John, Scissor Sisters. Uma sonoridade nada “pesada” mas que eu gostava bastante. Além disso, meu amor por filmes me apresentou ao artista Hans Zimmer e minha paixão pela parte teórica da música veio daí. Lembro que anos atrás me dediquei muito a teórica, estudei teoria musical e Sound Design porque eu sempre gostava de entender o que eu estava fazendo e o porque cheguei naquela sonoridade. Porém, na música eletrônica existem duas pessoas em mim, Lorenzo no estúdio e o Lorenzo na cabine como DJ. Acho que por todos os anos antes de conhecer o gênero e por ter gostado de estilos diferentes, não poderia ser diferente. Produzindo Techno, por ser algo mais variável e ritmos mais hipnotizantes, acabo não usando muito teoria nesses momentos, a proposta é outra, está no groove, no ritmo e na mentalidade do DJ na pista. Como falei, tudo é energia, em clubs gosto da energia do Techno, gosto do groove, mais do que melodia. É o que gosto de tocar… só que além de DJ, sou músico, gosto de criar e explorar. Se eu me fechar a um estilo, sinto que não estou explorando toda minha criatividade. Então por isso como produtor e ouvinte, gosto de testar as coisas que escuto fora dos clubs também. Passar isso pro público pode levar mais tempo do que se eu produzisse somente um estilo, mas cada um é cada um e essa jornada é única.

Um ponto super interessante desse lançamento é o start oficial da SectorL. O que você quer mostrar ao mundo com a gravadora? 

Lorenzo: A minha nova gravadora Sector L veio mostrar uma única coisa: música. Nós DJs sabemos como é burocrático e às vezes até desanimador o processo de procurar labels.  Em muitas ocasiões sua track não chega nem a ser ouvida ou recusada de fato. Então na Sector L nada mais é que minha casa, onde tenho toda liberdade criativa de lançar o que eu quiser – dentro do mundo mais underground da música eletrônica. Por agora estou lançando apenas minhas tracks lá, estamos com uma distribuidora bacana de Berlim, que trabalha com artistas que gosto muito. Assim que o o label tiver mais sólido e com todas as frentes fortes, vou abrir para lançamento de outros artistas. Estou muito ansioso para ouvir as músicas de outros artistas que quiserem lançar por lá.

Ainda sobre o label: qual o papel fundamento de um selo dentro do mercado atual na sua percepção? Como ter uma relação realmente genuína com cada projeto e cada artista?

Lorenzo: Na resposta anterior citei “assim que a label estiver com todas as frentes fortes” pois acho muito importante a gravadora saber tudo que ela deve fazer para que esses artistas tenham as músicas ouvidas. É muito comum labels só pegarem sua música e colocarem nos serviços de streaming. Mas isso é o básico. Tem todo um trabalho de promoção que deve ser feito, um trabalho de imprensa, assim como um planejamento de lançamento, pitching das tracks para que entre em playlists legais e editoriais, convidar artistas para remixar, etc. Deve ser feito um investimento da parte da label em seus lançamentos, não só da parte do artista. Não quero lançar outros artistas até que tudo isso esteja pronto para que eles tenham uma experiência boa com seus projetos. Acredito que isso venha com os próximos meses trabalhando e estudando com a label. Além disso, claro que acho de extrema importância as label parties, sempre movimentando a cena da música.

Entrevistas sempre têm aquele momento ‘próximos passos’ e a gente adora isso. O que podemos esperar do Lorenzo nos capítulos musicais que sucedem a Infected? Há uma tendência por novas experimentações? O Techno também segue em pauta no seu catálogo?

Lorenzo: Sim [risos]. A tendência para novas experimentações sempre terá, acredito. Mas o Techno sempre estará no catálogo, porque é o estilo que preferencialmente me apresento como DJ, é o que mais gosto de tocar ao vivo, mas nem toda festa é possível. Então se precisar tocar um minimal, um house, por que não? Eu amo música, então sempre terei outras cartas na manga. 

Para fechar, eu gostaria que você comentasse do ponto de vista criativo sobre dois elementos que consideramos essenciais nessa faixa: vocal e guitarra. O que esse tipo de diferenciação mais ‘orgânica’ de uma produção musical soma em projetos de uma faixa de pista como essa na sua visão? Obrigado! 

Lorenzo: O vocal foi na verdade o que mudou a cara da música completamente no processo criativo. Se você prestar atenção, a base por trás é uma pegada bem “club” mas com o vocal deu o astral que deu encaixou e veio a ideia de acrescentar algo mais orgânico para conversar com o vocal. Nunca usei guitarra nas minhas músicas porque nunca achei algo que combinasse o suficiente, mas nessa track foi o que acabou pedindo e foi praticamente um take experimental que acabou ficando. 

Lorenzo Fasano está no Instagram

Tags: , , , , ,