Os rótulos e as definições musicais são úteis para que achemos a “nossa turma” no cenário. Somos seres comunais e, assim que encontramos algo que gostamos, esperamos também encontrar pessoas com gostos em comum, poder dizer em uníssono que gostamos de House ou de Techno, por exemplo, e seguir no estilo de vida que nos anima. Entretanto, quando somos artistas, rótulos podem ser barreiras limitantes.
Esse assunto é até mais velho do que aquele do “mainstream versus underground” e deixa clara a diversidade da música eletrônica – afinal, centenas de sub-vertentes derivaram dessas duas identidades dançantes, o House e o Techno. Nessa “era da especialização”, entretanto, é comum encontrar DJs e produtores que jamais saem do escopo sonoro que traz identificação com o público por sua especificidade e, possivelmente, não percebem que a nossa identidade é vasta.
DJ Andrew nunca ligou para isso e é assumidamente, em suas redes sociais, um entusiasta do “House com cara de Techno e Techno com cara de House”. Com uma vivência que o viu colecionar vinis desde cedo e tocar em clubs brasileiros lendários como o Lov.E e a A.Lôca, hoje o DJ e produtor paulistano não poupa um repertório afiado e que reúne espontaneamente os grooves das duas vertentes.
“Quando comecei, era comum ver e ouvir DJs experimentando faixas de vários estilos musicais num set, por várias razões: os discos eram (e ainda são) caros, portanto era uma obrigação aproveitar ao máximo do que os discos ofereciam, fazer valer aquele “Lado B” de cada disco comprado. Os discos eram disputados nas lojas e muitas das vezes chegavam apenas uma cópia de cada EP ou álbum. A pressão era fazer acontecer uma faixa diferente do convencional, tendo pouco material para trabalhar. Os warm ups eram o laboratório para essas faixas.
Meu ponto de partida foi a sonoridade de Chicago e Detroit, que tem tanto a House Music quanto o Techno em sua essência. Como gosto muito dos dois estilos, optei por não focar em um estilo só – minha pesquisa passou a explorar o melhor dos dois mundos”.
Sabendo que música boa é música boa e ponto final, DJ Andrew cuidou de criar sua própria loja online de discos, a I’m a Vinyl Lover. Seu repertório despreocupado se evidencia em suas apresentações ao vivo sempre que pode tocar com vinil, e ele também aprecia a característica eclética de outros artistas, como os que tocam nos eventos do seu coletivo BackFor3, que faz festas regularmente no icônico Bar do Netão.
“São vários os fatores que, no todo, garantem uma experiência musical interessante: A primeira delas é conhecer muito bem o seu repertório, as estruturas que a música te oferece, ouvindo e experimentando todas as suas possibilidades. Warmups são essenciais para que isso aconteça de forma natural, pois o tempo é fator-chave para conectar o DJ e sua pista. Não é atoa que um warm up pode salvar (ou acabar) com a sua noite!
Para mesclar os dois estilos é necessário entender até onde eles podem chegar. O local onde você vai tocar também reflete na intensidade do seu som – dá pra “tocar pesado” sem que seu set seja tão acelerado. Em locais pequenos isso funciona super bem. Em locais maiores você pode tocar com mais intensidade e explosão, dá pra apostar em faixas mais rápidas ou apostar em faixas de mais sucesso, por exemplo”.
Não é que todos precisem tocar de tudo, mas, para DJ Andrew, é importante manter sua mente aberta para encontrar os sons que funcionam e trazem uma dinâmica rica em um set. Não à toa, sua longa carreira tem passagens por diferentes tipos de eventos no Brasil e lá fora, fôlego que ele divide com sua dedicação no estúdio, que gerou lançamentos em labels como Paunchy Cat, Cock Pitch e Techno Vinyls Records – é claro, sempre com esse som híbrido.
“Groove é a minha palavra-chave. Gosto muito de sons percussivos, que ajudam a dar ritmo aos sets. Com base nisso, é possível passear tocando com muita harmonia/melodia presentes na house music, dá pra ser minimalista e criar também momentos de hipnose, característicos do techno. De Kelli Hand a Robert Hood, passando por Cassy, Delano Smith, Carl Craig, Mr. G, Steve Rachmad, Josh Wink, chegando em Shinedoe… existe um universo gigante que pode ser muito bem explorado. Isso gera riqueza no repertório e mais possibilidade de agradar gregos e troianos, hehe!”.
Com uma vivência veterana no cenário, que começou pela febre dos bailes da Zona Leste e acabou em uma realidade que vive de música, DJ Andrew vem se tornando um expoente de prestígio – no House, no Techno, na simplicidade de fazer música porque ama e não porque alguém vai dizer como tem que ser.
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