“Les Heureux Tropiques” novo EP de blue Dietrich, acaba de ser lançado pela label brasileira Tropical Twista Records, embalado pelas faixas “Le Plus Jolie”, “Velho Barreiro” e “Last Call To Rio”. O projeto, que é codinome para Felipe Paiva, conta participacao da cantora et DJ Flora Valdona. O EP segue forte em sua marca atemporal e já está disponível nas plataformas digitais.
Abrindo caminhos com acordes nostálgicos que convidam para uma viagem em um mundo de paisagens sonoras cheio de cores e texturas, além de cordas dignas de uma trilha sonora de filmes antigos de faroeste, “La plus jolie” vem em pegada nômade. Em seguida, “Velho Barreiro”, riquíssima e multicultural, vem com referências de jazz e batidas brasileiras com aquele toque de África pra lá de sofisticado.
Chegando aos ouvidos como um sopro mágico no deserto, a última original do EP, “Last Call to Rio”, em collab com Fäbian. O EP conta ainda com remixes de Tesfon, Day out of Time e Fortunato.
Conversamos com o produtor para saber mais detalhes.
GRVE: Olá Felipe, é um prazer recebê-lo no nosso portal! Pode nos contar um pouco sobre o início da sua trajetória com a música?
Felipe: Ola, muito obrigado pela oportunidade! Eu comecei a música por volta dos 12 anos, aprendendo no violão da minha mãe de maneira autodidata, tocando rock e MPB. Uma coisa engraçada é que eu sou canhoto mas tive que aprender como destro, porque a minha mãe não me deixou mudar as cordas (rs)
Você tem um background multicultural e isso fica perceptível nas suas produções, como você elabora essa mistura na hora de produzir?
Eu moro fora do Brasil há anos, e ouço música de vários horizontes, entre jazz, MPB, música caribenha, rock, etc. Comecei na música eletrônica em 2018, após acabar com um grupo de rock, e ao descobrir o som de produtores como Xique-Xique ou Be Svendsen eu adorei essa liberdade de misturar sonoridades que a música eletrônica hoje em dia permite. Assim, eu costumo misturar sons mais “orgânicos” como violões, samples de percussões antigas, metais, tudo junto com sons sintéticos ou híbridos, sempre guardando esse lado rítmico.
“La plus jolie” é digna de trilha sonora de filme clássico, a inspiração ao criá-la veio de algum filme?
Ela foi composta tão rápido! Um dia eu estava navegando em uma playlist de baladas caribenhas (México, Cuba, etc), peguei o violão e gravei no telefone, assobiando a melodia principal. O meu objetivo era exatamente de criar essa vibe “filme mexicano dos anos 50”. No dia seguinte eu passei tudo pro computador, adicionei as percussões e ela estava pronta!
Isso é um ponto muito interessante; na música eletrônica nós temos a liberdade de construir nosso som – músicas e sets – e fazer o público viajar entre várias emoções, paisagens, etc. Isso me permite criar esse lado “cinematográfico” que marca as pessoas.
O que você achou dos remixes? Como se deram os convites?
Gostei muito de todos os remixes, porque trazem um estilo mais club para as músicas, com sonoridades que eu não uso normalmente. Acho importante esse trabalho e agradeço ao Tesfon, Fortunato e Day out of time! Palmer propôs Tesfon e Fortunato, e eu conheço o Alexandre (Day Out of Time) de outros projetos que tivemos juntos.
Em “Velho Barreiro” e “Last Call to Rio” vocês mudam um pouco a paisagem sonora do EP, como foi o processo dessa mudança na criação?
A escolha dos sons no EP foi um trabalho conjunto entre o Palmer e eu. Tinha mandado à ele uma playlist com vários sons, e nós escolhemos juntos a lista final, com alguns dos meus sons mais “latinos”. Foi uma ótima escolha dele, que alias faz um super trabalho na label.
Naturalmente esse lado latino dos sons me fez pensar na ideia dessas “viagens aos tropicos”. Em seguida eu tive a ideia do nome do EP, que é uma referência irônica ao livro do sociólogo Lévi-Strauss:)
Participando da cena eletrônica da Europa e América Latina, quais foram as melhores experiências que teve com as suas performances entre os dois continentes?
Eu tenho mais experiência em tocar aqui na França, mas uma coisa que percebi rápido é a diferença de BPM quando faço meus sets. No Rio eu posso tocar um set à 110 sem problema, enquanto o pessoal aqui na França vai achar isso muito “downtempo” (rs).
Por enquanto as minhas maiores performances foram aqui em Paris, em festivais ou clubes para 150, 200 pessoas. Eu acho muito legal a vibe, mas o fato de tocar em lugares menores, e estando no mesmo nível que o público, te permite criar uma ligação mais forte com as pessoas, e isso é muito importante para mim.
Hoje você comanda um grupo que se apresenta de diferentes formas, entre DJ set e live act, como surgiu essa ideia e qual é a dinâmica do grupo referente às apresentações?
Eu trabalho principalmente sozinho no processo de criação, mas gosto muito de chamar outros músicos para tocar comigo quando faço lives. A principal cantora que me acompanha é a Flora (Valdona), que tambem é DJ, e em alguns casos eu também trabalho com uma violinista (Nina Bouchoux). A forma da apresentação depende de algumas coisas: festivais ou clubes, de dia ou de noite, a vibe da line-up, etc. Nesses últimos tempos eu tenho feito mais lives sozinho por conta dos eventos que me chamam; por exemplo tocar num after às 6 da manhã…fica difícil de fazer a Flora cantar:)
Quais serão os próximos passos de blue Dietrich? O que podemos esperar?
Pelo lado das releases, eu estou trabalhando em 3 singles/EPs com a House music with love, trndmsk e Bar 25. Eles devem sair aos poucos nos próximos 6 meses, e cada um vai trazer uma vista diferente da minha música, sempre baseado nesse lado “orgânico” e “cinematografico”.
Pelo lado das apresentações, eu estou indo à Londres pela segunda vez para tocar num evento do coletivo April to July (a2j) que é muito especial para mim porque descobriram minha música desde o início (no meio da pandemia!) e sempre me apoiaram.
Obrigado pelas ótimas perguntas.