Imersão, música underground, diversidade: conheça a Inception pela perspectiva dos fundadores

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Por em 11 de agosto, 2022 - 11/08/2022

“Inception” é uma palavra da língua inglesa que significa “começo”. Mas pode ser que imediatamente sua mente tenha investigado a memória até chegar ao filme hollywoodiano de mesmo nome, criado pelo diretor Christopher Nolan e protagonizado pelo DiCaprio. Se for escolher um significado que melhor defina, ao menos subjetivamente, a vibe da label party carioca Inception, prefiro o segundo; um sonho dentro de um sonho, dentro de outro sonho e de outro e de outro, uma imersão por camadas que fica cada vez mais profunda e rica em detalhes e em possibilidades.  

Tal como a função da personagem de Elliot Page no filme de 2010, a Inception permite-se modular esse sonho. Em conversa aberta com um dos idealizadores do evento, o DJ e agitador cultural Limbo Path – residente do rolê ao lado da também produtora Nina Roq – dá para captar essa qualidade (re)adaptável; há uma relação direta entre suas vivências frequentando o cenário e o desenvolvimento da Inception. É uma simbiose que permitiu, por exemplo, o evento predominar House e Tech no começo e hoje apresentar um leque mais amplo de sonoridades que vão do Techno e Trance noventista até o Breakbeat, Hard Techno e Hard Trance, podendo se estender ocasionalmente para Cosmic House, Indie Dance e Dark Disco.

Se você ainda não conferiu presencialmente a festa, é certo que foi eventualmente impactado por um dos seus conteúdos nas redes sociais. Uma das maiores virtudes da Inception, algo que tomou ainda mais forma durante o período de lockdown, é o uso de sua plataforma para a publicação de conteúdo educativo e, ao mesmo tempo, divertido. Vasculhe seu perfil no Instagram e terá aprendido um pouco sobre as cenas de música eletrônica das capitais brasileiras, consciência sobre o consumo de substâncias sem a menor hipocrisia, inclusividade, divulgação de núcleos para além do próprio e outros aspectos da cultura clubber; além disso, perceber uma bela identidade visual que muda a cada evento, que é temático e te convida a universos diferentes, com alcunhas como New Kids in Rave e Acid Summer

Por ter uma produção cara, que desenvolve várias frentes da melhor maneira possível além do lineup – segurança, iluminação, cenografia, locação e performances artísticas – a Inception rola, mais ou menos, trimestralmente. Nascida a partir de uma frustração mais que justa com o tipo de platô em que cai a cena carioca em determinadas fases, a festa destacou expoentes como DJ Murphy, Flo Massé, Marcal e Ananda, além de uma pletora de talentos locais emergentes. Para o futuro, a festa sonha grande e os primeiros passos de sua expansão já começaram a se engatilhar, como a realização de parcerias com núcleos de outros estados e, em um prazo maior, um grande hub entre comunidades dançantes. 

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Oi, Limbo, beleza? Parabéns pelo trabalho. Como você veio parar aqui?

Limbo Path: Olá! Minha trajetória na música eletrônica começou no final de 2018 com o contato com a cena Mainstream do Rio de Janeiro. Fui arrebatado pela atmosfera que rondava a música eletrônica. A experiência era completamente diferente das festas que eu frequentava. Não havia brigas, havia muito menos assédios e uma infinidade de outras coisas que tornavam a experiência mais leve. Foi assim que decidi aprender a discotecar e, na necessidade de mostrar meu trabalho, iniciei, junto a outros 3 colegas de escola e faculdade, a Inception.

Então você quis criar algo que contemplasse o novo sentimento após conviver com a cultura noturna da dance music… como vocês se aprofundaram nisso?

Limbo Path: A Inception surgiu da insatisfação com os eventos locais. Enquanto tínhamos eventos de curadoria excelente e baixa infraestrutura, tínhamos também eventos de som hiper comercial e alta infraestrutura. Nós desejávamos suprir um nicho voltado para um público que estivesse “saindo” do comercial, mas buscando não perder a experiência. Porém, ao longo do tempo, por questão de uma mudança na minha linha de som e até convivência com o público da cena underground, tivemos uma mudança de posicionamento. 

Como foi essa mudança de linha de som?

Limbo Path: Inicialmente como único residente e curador da Inception, as mudanças no meu gosto pessoal acabaram sendo transpostas nos lineups dos eventos. Antes da nossa primeira edição eu tocava Melodic Techno, depois passei pelo Techno Peak Time, Hipnótico e por fim cheguei na linha de som que toco hoje, uma mistura de Hard Techno, Trance dos Anos 90, Goa, Breaks e diversos sons experimentais que eu nem sei categorizar. Esse amadurecimento artístico acabou possibilitando ao evento uma amplitude maior de linhas sonoras que é extremamente necessária no Rio de Janeiro. Aqui o carioca vive de mistura, e definitivamente um evento que não pretende ser restrito não pode ter uma linha de som engessada. 

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A festa sempre refletiu seus gostos individuais, então…

Limbo Path: Agora vou viajar um pouco no assunto, mas juro que tudo vai se conectar. Eu sempre fui uma pessoa que gostava de viver fora da realidade, e eu não estou falando de drogas, estou falando de filmes, animes, RPGs de mesa e todas essas nerdices que eu amo. E é justamente esse um dos diferenciais da Inception. A gente não vem para fazer um evento, a gente vem para contar uma história com início, meio e fim. Desde a escolha de uma temática, passando pelo design gráfico e comunicação, e finalizando na escolha de artistas, cenografia e desenho de luz. A gente gosta de entrar na cabeça das pessoas e transportá-las para outro lugar, para que nossos eventos sejam sempre diferentes e sempre marcantes. Você não lembra da Inception por onde ela foi, você lembra pela experiência que você viveu ali. E isso faz parte de mim, eu sou “anti-monotonia” e isso é uma coisa que você vai enxergar por todo lugar que eu passar. Hoje eu dou aula e sou sócio da Great DJs, curso de mixagem aqui do Rio, e muitas vezes eu penso que tipo de cena eu quero criar pros meus alunos, ou até com os meus alunos. 

Guilherme, você também faz parte do time da Inception e gostaríamos que você somasse com algumas questões. Nos conte, em mais detalhes, para quem, afinal, é a Inception?

Guilherme: É para amantes de música eletrônica, da noite e de sua cultura, adeptos ao escapismo e formada tanto por indivíduos do estilo de vida padrão como de estilos de vida alternativos. Ao mesmo tempo que flexibilizamos o som do evento, optamos por direcionarmos ao público de ouvidos mais maduros, até porque isso geralmente vem acompanhado de outros comportamentos positivos que agregam à experiência do evento, como o autocuidado e o cuidado com o próximo. 

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Pelo jeito, deu certo dar esse “chacoalho” na cena daí…

Guilherme: Sim! Uma das coisas que mais moveram a Inception foi a percepção de que era necessária uma mudança geracional, entendendo que havia eventos já consolidados no meio da música eletrônica do Rio, mas que seguiram duas linhas: ou eram muito comerciais, com público majoritariamente hétero e com um estilo de vida normativo, ou eventos menores e voltados para uma população com estilo de vida alternativo, mas que não tinham preocupação com a criação de uma experiência. 

Me situa sobre os primeiros rolês?

Guilherme: Após uma primeira edição que foi muito elogiada, em janeiro de 2020, nos deparamos com a situação da pandemia. Nesse momento de não realização de eventos focamos muito em crescer nosso Instagram através de Marketing Digital, principalmente Marketing de Conteúdo, contratando designers e social media fixos para trabalhar nessa parte. Essa foi a primeira grande reviravolta na Inception, pois começamos a ser vistos e conhecidos através das redes.  

Percebi super, brotava post de vocês na timeline direto! E parece que rola uma vastidão de conteúdos para educar, até mais que os de vender.

Guilherme: Uma grande diretriz da Inception é a educação, e não estamos falando sobre ensinar ao público os subgêneros do Techno, mas educar sobre redução de danos, educar sobre o valor das comunidades que historicamente compuseram a cena, sobre boas práticas no rolê, educar sobre convivência e outros conceitos que vão além do ambiente de festas. Isso vem bastante da veia estudantil social-ambientalista de boa parte de nossos sócios (muitos estudantes de Biologia foram agregados ao rolê ao longo do tempo) e nós desejamos transmitir esses valores ao nosso público, o que às vezes é uma tarefa um tanto desafiadora.

Voltando às festas, e depois?

Guilherme: Tivemos então o nosso evento de retorno após a pandemia: Inception Back to Rave. Esse evento foi definitivamente o nosso maior em questão de impacto, arrecadação, em vários pontos, acreditamos que isso se deva principalmente ao esforço de marketing feito durante os meses de pandemia e também ao sentimento do público de euforia com o retorno dos eventos. Não sabíamos que tipo de dancer teríamos na nossa festa, já que construímos uma base grande de beyblades durante a pandemia através do digital, então esse retorno foi crucial para vermos quem era nosso público. Ficamos muito felizes com o resultado, mas sentimos uma falta de diversidade no evento, o que nos colocou a pensar em como nos tornar cada vez mais um espaço interessante e atrativo para a nossa comunidade. Daí surgimos com a Acid Summer, feita com a proposta de apresentar mais ainda a Inception para o público LGBTQIAPN+, contando com performances, estéticas mais palatáveis a esse público e implementamos as tão necessárias listas trans, drag e não-binárie, oferecendo acesso para os aqueles que representam a origem do underground e da dance music. Outro grande ponto a ser mencionado foi nosso último evento, Inception e 4Finest Ears em Simbiose; unimos forças com o coletivo 4Finest Ears, nossos públicos já conversavam bastante. 

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Pretendem seguir criando experiências com outros núcleos? 

Guilherme: Trazemos como marca da Inception a união da cena e a valorização de coletivos locais, traço de posicionamento que começaremos a explorar melhor nos próximos eventos, trazendo coletivos de outros lugares do país, como o nosso próximo evento com a Avulsa, de BH. Queremos também levar a marca para outros estados, principalmente São Paulo, Minas Gerais e Paraná, através de parcerias com festas desses estados.

O que mais veem para o futuro da Inception?

Além da expansão nacional, queremos tornar a Inception cada vez mais com uma cara de mini-festival ao invés de apenas uma festa, isso por conta do caráter imersivo que temos; querendo que o público se sinta transportado para nossa realidade durante

aquele período, além de buscar com isso um ticket médio condizente com os custos da festa. Em uma visão um pouco mais distante, queremos nos tornar como empresa uma holding de várias labels, que promova eventos com diferentes características e com diferentes públicos. Queremos que a Inception seja uma referência em experiência, qualidade, encantamento e cuidado com o público. 

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