Under Waves comemora 9 anos com Renato Cohen: artista fala da importância de levar a música eletrônica para novos lugares

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Por em 20 de junho, 2022 - 20/06/2022

Renato Cohen já é um nome bem conhecido em nossa redação, mas definitivamente não só dentro dela. Um dos nomes mais influentes da nossa história com a música eletrônica e um pioneiro que construiu os pilares de sua carreira em tempos completamente diferentes do que vivemos hoje. Pela inegável importância, ele é convidado de honra para assinar a noite da Under Waves em celebração aos seus nove anos de existência.

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O evento acontecerá no dia 25 de Junho, em Uberlândia no Haja Glória, um espaço que tem sinergia com as premissas da marca: foco na música, sendo livres de preconceitos e discriminações. Além disso, os idealizadores da causa Rodolpho Borges e Lucas Caixeta exprimem verdadeira admiração pelo convidado de honra. Por esta razão, convidamos Renato Cohen para um papo sobre a disseminação da Dance Music e as pautas sociais e criativas que rodeiam o tema. Confira!

Pornograffiti · PornCast — 0126: Renato Cohen

Olá Renato, tudo bem? Uau, super legal conversar com você. Você tem uma história de longa data com a música eletrônica. Fazendo essa linha do tempo, desde quando você começou até o momento presente, como você sente a expansão dessa cultura em nosso país? Por que sente que estamos expandindo? E o que, infelizmente, ainda nos puxa para trás?

Quando eu comecei as coisas eram bem diferentes e bem menores que hoje, mas eu sinto que a essência ainda é a mesma em alguns lugares. Antigamente a música era parte do caráter de uma pessoa, hoje é mais como um adereço, mas você sempre vai encontrar um grupo menor de pessoas que entendem a linguagem perfeitamente.

Acho que a magia da dance music está no poder de reunir as pessoas e manter todos em uma mesma sintonia. Quando eu digo sintonia não é apenas a sintonia física, (ouvir música e dançar a humanidade já tem feito isso nos últimos sete mil anos) mas a sintonia da mente também. Quando você diz “expansão da cultura”, qual será a profundidade dessa expansão? Quando um festival vende todos os ingressos antes mesmo de anunciar quais são as atrações, por exemplo, eu não acho que essas pessoas vem da mesma cultura que eu venho.

O que nos puxa para trás são coisas que nada tem a ver com música. O conservadorismo, o reacionarismo, a falta de inclusão, o desprezo por políticas sociais são coisas que querendo ou não vão refletir na música que as pessoas vivem.

Hoje, é possível ver um movimento de descentralização cada vez mais forte sobre os centros onde as coisas acontecem, inclusive temos locais onde o estilo sempre foi pouco explorado, dando sinais vitais de uma cena em formação. Você acha que muito disso é por conta da coletivização dos movimentos independentes, que trazem uma oportunidade maior para atuar e consequentemente encorajam mais pessoas a peitar a ideia? Que outros motivos você acredita que causaram isso?

Com certeza os coletivos são a grande razão disso. Um coletivo nada mais é que pessoas na mesma sintonia, física e mental. Acho que é bem melhor enfrentar o mundo em um grupo do que sozinho. Principalmente um mundo que não esta muito de acordo com o que você quer fazer.

E para você, qual a importância de levar a música eletrônica para lugares onde outras vertentes predominam, como sertanejo, por exemplo. Sabemos que não é sobre competir, mas oportunizar conhecimento, né…

Até os anos 80 existia uma coisa chamada “hoje/estudio”. As gravadoras tinham isenção fiscal do tempo que era gasto em estúdio para se fazer um disco. Isso gerava uma expressão e um experimentalismo maior dos músicos ao gravar, uma espécie de apoio à cultura.

Quando o presidente Collor foi eleito, ele tinha esse mesmo ódio à cultura que o nosso governo atual. Ele acabou com essa isenção fiscal. Os donos de gravadora, para continuar lucrando, precisavam de uma música que fosse bem simples e que pudesse ser gravada rapidamente. Bem nessa época tinha um tipo de música crescendo no Brasil que priorizava apenas a voz, tinham letras simples que qualquer um podia entender e se identificar e caia como uma luva para um grupo de empresários que só tinha uma coisa em mente. Assim nasceu o Sertanejo que conhecemos.

Respondendo a pergunta, eu diria que a importância é nenhuma. Se a pessoa é feliz ouvindo um subproduto empresarial, quem sou eu pra dizer alguma coisa? Eu prefiro contato com as pessoas que falam a minha língua.

Em breve você toca na festa de nove anos da Under Waves e os idealizadores tem uma profunda admiração pelo seu trabalho e legado. Há toda uma preocupação sobre as questões de liberdade e discriminação. Precisamos estar em consonância com a verdadeira essência da música eletrônica, mas ainda observamos falhas no processo. Como você enxerga essas pautas?

Acho bem importante porque essas pautas são parte da fundação da música eletrônica. Talvez algum tempo atrás tivesse gente que diria que a música eletrônica nem poderia existir sem elas, mas hoje em dia temos vertentes que existem e na verdade são chatas pra caralho.

A nova geração da Dance Music parece estar mostrando duas facetas: uma bem criativa, engajada e disruptiva e uma um pouco genérica em alguns aspectos, movida pelas tendências. Você acha que a tecnologia pode atrapalhar em alguns momentos essa questão do pensar fora do quadrado? Quer dizer, a informação está ali pra quase todo mundo ver, mas mesmo assim, ainda cairemos em “mais do mesmo”. Como fugir dos padrões?

Eu não acho que isso tem a ver com a dance music. A grande maioria da humanidade é genérica e são grupos pequenos que trazem novas ideias e questionamentos. Acho que no Brasil especialmente essa grande maioria genérica jamais se interessa pelo que um grupo pequeno está dizendo, a não ser que seja colocado de maneira grandiosa. Se a tecnologia a que você se refere é a da comunicação, acho que ajuda esses pequenos grupos a se conectarem uns com os outros.

Como você é um pioneiro e viveu várias fases dessa história, o que você diria pra si mesmo no começo de tudo? E qual conselho para quem está chegando agora tanto na música, quanto nas iniciativas que orbitam o business? Obrigada!

Eu procuro viver no presente. Não acho que a minha leitura do mundo hoje poderia ser aplicada quando eu comecei, assim como a visão que eu tinha também não vale mais hoje.

Acho que pra qualquer um o mais importante é ser original e fazer as coisas do jeito que você acredita.
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