O artista argentino-brasileiro Felipe Julián já é um nome conhecido por muitos. Com um projeto disruptivo, criativo e multidisciplinar, seu alter ego, Craca Beat, entrega um passeio musical e visual. Na arte de combinar a música eletrônica composta por referências estilísticas de outras escolas com estímulos visuais surrealistas e instigantes, ele segue em um processo de metamorfose artística, que dá origem a novos trabalhos de impacto.
Sob a chancela da Tropical Twista Records, o produtor apresenta Humo Serrapilheira, um EP de quatro faixas que tem em seu âmago o renascimento e o ciclo, pautados por fenômenos quase-mágicos da própria natureza terrestre. Com uma queima mais lenta do que costumamos encontrar em seus trabalhos, as melodias mais amplas gravadas com instrumentos de cordas, nos guiam até a América Latina e seu caldeirão cultural.
De maneira celebrativa, Craca faz um tributo à energia que vibra neste solo. Conversamos com ele para saber mais detalhes do projeto.
GRVE: Olá Felipe, tudo bem? Seja bem-vindo. Bom, vamos falar diretamente do seu novo projeto Humo Serrapilheira. Como você define esta nova entrega?
Felipe Julián: É um spin off que tende a virar plot principal. São músicas que criei dentro de uma linguagem mais downtempo e num formato mais pista do que o meu trabalho vinha sendo até então, sempre muito cheios de partes e histéricos. Humo Serrapilehira é mais concentrado e centrado. Mais dilatado e melodioso. E é tb mais um trabalho de afirmação desta identidade latino americana que cada vez mais se revela como nossa condição e nossa potência cultural.
Você costuma atrelar os estímulos sonoros aos visuais para tornar a narrativa mais palpável, ainda que pelo viés surrealista – o que também é uma mensagem. Esse novo EP já possui essa camada visual materializada ou é algo que você está trabalhando? Poderia nos contar mais detalhes?
Sim, parte desse material já tem video narrativas preparadas para as minhas tradicionais projeções vídeo mapeadas e tb uns “videoclipes de bolso” feitos com inteligência Artificial. São visualizers para algumas das tracks que podem ser vistos diretamente pelo celular e recompartilhado com os amigos.
Aliás, o que te inspirou a esse tema? Como foi o processo criativo ao redor dessa criação?
Desde os 14 anos eu sou músico e estudei principalmente instrumentos de corda como violão, guitarra e baixo. Também toco alguns outros instrumentos de forma adaptada e experimental como a Viola da Gamba e a Viola Clássica. Frequentemente eu pego alguns desses instrumentos e toco aleatoriamente. Dessas improvisações surgiram algumas estruturas musicais melódicas que eu imediatamente gravei e no computador apliquei um processo em que esses sons analógicos se transformaram numa sequência de notas musicais sem timbre às quais eu pude encaminhar para outros instrumentos virtuais percussivos aplicando certas reestruturações rítmicas. Desse processo somado àquelas melodias tocadas, surgiu o material musical principal ao qual adicionei outros elementos como sintetizadores, samples etc… Pode ser meio confuso pra quem não é músico mas, nessas faixas, tudo o que se houve harmonicamente é uma derivação dessas primeiras gravações. Não houve, exatamente, um momento de parar e escolher acordes. Eles surgiram a partir desse processo.
Agora falando mais abertamente, você costuma estar ativo nas programações culturais pelo Brasil, como estão esses projetos na retomada de eventos?
Finalmente… estamos retomando as coisas né! Por sorte (muita sorte) não fiquei nem um pouco parado na pandemia. Mas os shows presenciais realmente fizeram muita falta. Agora estou retomando a agenda. Já estive tocando em algumas festas, participando de shows de outros artistas e tenho shows meus agendados mais pra frente. Não posso ainda mencionar os eventos pois esses festivais não publicaram seus line ups ainda… mas tem coisas bem bonitas aparecendo aí com música e videomapping. O que já posso anunciar é minha participação numa parceria muito inusitada com o VJ Spetto no Festival Canvas no final de Abril, um videomapping em Campos do Jordão em Maio, minha participação na Bienal do Mercosul que abre em setembro e essas surpresas aí em Junho e Julho.
Felipe, temos percebido uma crescente entre os artistas nacionais nessa busca por atrelar música, imagem e movimento às suas apresentações, ainda que claro, em um processo lento. Por que você acha que isso está gradativamente acontecendo?
Acho que acontece, em primeiro lugar, porque agora tem-se acesso a essas ferramentas e técnicas. Por outro lado, os artistas cada vez mais buscam encontrar uma identidade visual para seus projetos e nesse sentido a pandemia serviu de laboratório pra muita gente. Antes, fazer um vídeo ao vivo parecia ser muito difícil e para poucos… agora, todo mundo sabe fazer até chromakey!
E como fomentar esses trabalhos independente e que quase sempre contam com uma certa escassez de recursos, especialmente, os investidos? Você teria alguma dica para estes artistas da nova geração?
Vixe! Bem… além de dizer o óbvio já sabido que é “faça vc mesmo” seu festival na sua quebrada e ganhe o mundo… também diria para não deixar de ser crítico e apontar o dedo na cara dos festivais, curadores, marcas, patrocinadores que atuarem de forma covarde e “garantida”. O mundo tá se acabando e só uma revolução cultural e desemboque numa revolução política de grandes proporções pode mudar o rumo deste barco adernado. Não é hora dos donos dos recursos agirem sem comprometimento social. Se antes escolhia-se este ou aquele artista porque ele tinha milhões de seguidores, agora deve-se escolher aquele ou aquele outro porque ele precisa alimentar-se para alimentar os seus. Não dá mais pra pensar em termos de marketing cultural. Agora é pensar em reparação histórica e compromisso social.
E como estão os seus planos para este ano e os próximos? Algo que possa nos contar? Obrigada!
Muita coisa na verdade. Tem mais material solo meu e em parceria com outras pessoas pra ser lançado depois de Humo Serapilheira. Tb tem essa agenda de shows que tá crescendo e o segundo semestre deve ser bem puxado pois tenho que montar a minha obra na Bienal do Mercosul em Porto Alegre o que vai me tomar vários meses de dedicação.
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