Por em 21 de fevereiro, 2022 - 21/02/2022

Existe uma ligação entre a moda e a música eletrônica que ultrapassa gerações. Pensar em música é falar de expressão, e essa ideia está totalmente ligada a maneira de se vestir, essas duas formas se entrelaçam de maneira perfeita.

Clubber é um termo que se refere a subcultura, sua estética surgiu no fim dos anos 80, começo dos anos 90, com ascensão do Techno, em clubes da Alemanha como o Tresor em Berlim, posteriormente sendo exportado para Inglaterra e Estados Unidos, onde a predominância era a House Music.

Falar de moda na cultura clubber é lembrar de intensidade. O marco para moda na dance music, começa no movimento Disco, no início dos anos 70 nas discotecas de Chicago, Nova Iorque e Filadélfia. As festas, totalmente dançantes, frequentadas por um público alternativo tornaram-se um ícone depois do filme “Embalos de sábado à noite” e da abertura da boate Studio 54. Os anos Disco foram considerados como a Era do Brilho, representado pelas cores espalhafatosas,  strass, cetim e seda, trazendo o luxo e a cintilância para a época. Foi também o momento onde as mulheres se auto afirmaram frente à sociedade machista e usaram sem medo figurinos com sensualidade e luxo, simbolizando seu destaque e valor para todos.

Nos anos 80 o movimento raver surgiu com o sucesso da dance music, a partir desse ponto, começa os primeiros passos para festas undergrounds, as roupas coloridas ganham espaço e a dança toma o centro da expressividade, em paralelo surge a moda all black em clubbes berlinenses.

Enquanto os clubbers anos 80 celebravam a individualidade, as raves tinham um quê meio hippie. Tudo era coletivo, num clima de paz, amor, liberdade e comunhão com a natureza. O uso de drogas sintéticas e a batida do trance deixavam o público numa vibe hipnótica.

Nos anos 90, presenciamos a quebra de paradigmas e a liberdade fluindo em veias clubbers em todo mundo. A tendência que dominou essa década é chamada “montação”, termo usado pelos personagens clubbers, para definir suas produções grandiosas, vanguardistas, com muito brilho e vinil.

No Brasil, esse movimento ganha força em São Paulo, onde gays e drags tomam a Rua Augusta como centro de minorias e expressividades, comunicando sua liberdade através da moda, com looks e performances extravagantes, dentro de clubes como Hells’s e Madame Satã, um marco para a cultura clubber brasileira.

Ainda nos anos 90 o auge da era grunge mundial, mostrava um minimalismo exacerbado pelo mundo, dentro de camisas de flanelas e peças monocromáticas. Isso para o clubber, foi o start para um contraponto de ideias, surgindo o movimento “Club Kids”, um grupo da cidade americana de Nova Iorque que influenciou a moda, linguagem, música e principalmente, a vida urbana. O visual club kid, era marcado pela androgênia, exagero através de looks com saltos, plataformas, roupas de vinil, coturnos, glamour e muita teatralidade na forma de agir.

Desse movimento surge a ramificação “Cybermanos”, vindo das periferias para ocupar as pistas. O visual era mais pesado, inserindo pircings e roupas consideradas futuristas, bermudas, bonés de couro, sneakers, peças camufladas, mochilas, bolsas transversais, calças de vinil, monstrando a característica da era do Cybermanos, regada a grandes marcas de roupas como A Mulher do Padre, Zapping e Triton, que ditavam as tendências da moda na época.

Nos anos 2000, a moda foi influenciada pelos festivais mainstream. No Brasil, o festival Skol Beats emergia para moda mini saias, óculos grandes, piercings e tatuagens. Já no final dos anos 2000 o mesmo festival que virou, Skol Sensation implantou a moda das festas temáticas, com o uso obrigatório de roupas brancas. O underground, nessa época era impulsionado pelo electro house com um resgate new wave anos 80, muito neon, headbands, óculos wayfarer, camisetas estampadas com frases e imagens clássicas reinava na moda.


Skol Beats 2004
Skol Sensation 2009

Quando a moda clubber chega em 2010, vimos a explosão do EDM e uma emersão de vários festivais pelo planeta, com tecnologia e pirotecnia.  As roupas chegam com um conceito de conforto e estilo fantasiosos, roupas curtas, biquínis, chapéus, coroas de flores e bota de cano alto se tornam padrão de festas eletrônicas. Em contraponto no underground, o movimento black reinava, resgatando uma moda de grandes clubes dos anos 80 em Berlim. Roupas esportivas ou largas entraram dentro de uma paleta minimalista com muito preto, jaquetas pesadas, androginia, coturnos altos e um conceito apocalíptico adornando o estilo.

Chegando na era atual, temos um grito de liberdade. A moda na música eletrônica hoje engloba vários estilos, com liberdade para você ser o que quiser e como quiser. Em festas undergrounds temos muito inspiração no movimento club kids com uma pitada de expressionismo, dentro de performances em cima do palco e no público. Em outras frentes do underground vemos uma invasão e inspiração da moda mainstream dos anos 2010, com um toque de tecnologia e futurismo. O que está em alta em todos os gêneros é a sustentabilidade, uma preocupação com o que é sustentável surge como emergência, closets compartilhados e brechós tomam conta da pistas e da moda clubber.

Com esse paralelo completo, pensamos qual é a próxima tendência que veremos nascer? Temos a certeza de que moda e música andam lado a lado e teremos muitas histórias do mundo clubber atrelado a moda mundial.

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