Entrevistamos o “Joker” da cena eletrônica: Boris Brejcha

Tags: , , , , , , , , , , ,
Por em 17 de fevereiro, 2022 - 17/02/2022

Ele já alcançou alguns dos feitos mais cobiçados pelos DJs ao redor do mundo: gravou para a Cercle (duas vezes!), se apresentou no Tomorrowland, invadiu os principais clubs e festivais ao redor do mundo e conquistou o mais importante de tudo isso: uma legião de fãs. Fiéis ao seu som, fiéis à sua máscara. Boris Brejcha pode ser considerado um daqueles casos para ser estudado. Não apenas pelo nível de fama que chegou, mas por ter sido um personagem importantíssimo na evolução da música eletrônica dos anos 2000 em diante. 

Nascido em 26 de novembro de 1981, na Alemanha, Boris enfrentou dificuldades logo nos primeiros anos de vida devido a um acidente que sofreu enquanto assistia ao Festival Aéreo de Ramstein, um dos piores desastres aéreos da história, ocorrido em 1988, ferindo cerca de 500 pessoas e matando outras 70 (67 espectadores e três pilotos). Seu rosto ficou queimado e está repleto de cicatrizes até hoje. Ele venceu o bullying na infância e, anos  depois, adotaria a máscara tão icônica e enraizada na sua identidade — máscara essa que foi inspirada justamente pelo carnaval carioca. Ali surgia o “The Joker”. 

Cerca de 5 anos após o start oficial, ele dava vida ao seu próprio gênero musical, o “High-Tech Minimal”, e em 2015 fundaria a sua renomada gravadora, FCKNG SERIOUS, que chegou recentemente ao seu 50º release com um single de Moritz Hofbauer. Em 2019, Boris fez sua grande estreia na Ultra Music com o single “Gravity”, ao lado de Laura Korinth, e desde então não parou mais de lançar pela gigante Ultra, apresentando em novembro do ano passado seu álbum por lá “Never Stop Dancing”, com relançamentos e novas faixas originais. 

Tivemos a honra de entrevistá-lo no ano passado antes de sua turnê no Brasil e o resultado você confere abaixo:

Boris! É um prazer falar com você, obrigado pelo seu tempo. De onde exatamente você está falando agora? O que estava fazendo até antes de responder essa entrevista? 🙂 

Agora estou na Argentina, sentado no sol e respondendo algumas entrevistas. 🙂 Acabei de tomar café-da-manhã e depois vou dar um pulo na piscina! 

Eu [Marllon] tive a oportunidade de vê-lo em 2017, no El Fortin, e vários amigos te viram no Warung Beach Club, em 2019. foram apresentações incríveis e em ambas as pistas estavam lotadas… você curtiu suas passagens recentes por aqui? Quais suas melhores lembranças das gigs pelo Brasil?

Eu sempre, particularmente, adorei tocar no Brasil. Eu realmente devo muito aos fãs brasileiros e é por isso que sempre gosto de voltar. Eu tenho boas memórias de todos os eventos daqui e eu apenas amo a mentalidade das pessoas.

Estreias ainda te dão um frio na barriga? Será um palco novo, enorme, com muita gente te assistindo pela primeira vez na vida… o que passa na sua cabeça antes de dar o primeiro play durante um set? 

Eu ainda fico extremamente animado em toda apresentação. E então sempre preciso de um momento de descanso e estar sozinho. Mas quando toco 1-2 músicas, me animo de novo e fico feliz quando vejo a multidão dançando e curtindo o som.

Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por Laroc Club (@larocclub)

Falando em “primeiro play”, sua primeira apresentação como DJ, inclusive, foi aqui no Brasil, em 2007, no Universo Paralello. De lá pra cá, quase 15 anos se passaram. O que mais mudou do Boris Brejcha do passado para o Boris Brejcha do presente? 

Eu ganhei mais experiência. Isso significa que sou mais experiente como DJ e tudo que cerca isto. Mas continuo me divertindo tanto quanto antigamente. Só que as coisas têm crescido um pouquinho. 😉 

Algo que chama muita atenção e que, na minha opinião,  o que te diferencia de muitos DJs, é a identidade sonora que você conseguiu construir ao longo dos anos, hoje conhecida como Hi-Tech Minimal, e isso já vem desde suas primeiras produções, lá em 2006, certo? Como isso começou exatamente? Quais eram suas principais referências lá trás? Ainda são as mesmas de hoje? 

Eu só não quis ser rotulado por outras pessoas. Rapidamente percebi que queria que meus fãs reconhecessem minha música pelo que ela é e não pelo gênero musical. Eu sempre mudo minha música e a trago para meu estilo pessoal. Por isso “inventei” um gênero extra para mim mesmo. 

E o que te inspirou a começar a produzir, de fato? Você, diferente de muitos artistas, começou a produzir antes de aprender a discotecar, não foi? 

Isso mesmo. A parte de produção começou com o primeiro CD que comprei na época. Música eletrônica. Isso não existia antes. Fiquei impressionado pelas sonoridades e queria saber como fazer música sem instrumentos. Primeiro tentei tocar no Playstation com um jogo chamado “Music”. E depois, de pouco a pouco, levei mais a sério a produção. Só descobri depois que você também consegue ser um DJ. Haha 

Agora falando um pouco mais do presente… no ano passado teve o ótimo EP Matrix, pela Ultra, com três faixas originais. O que você pode nos destacar a respeito dele? Qual foi a inspiração por trás deste trabalho? 

Sim, certo. Matrix foi um dos oito lançamentos que soltei na preparação para o álbum. Lancei essas tracks várias e várias vezes em pequenas partes. Eu gosto muito desse EP. Existem três músicas muito legais nele, que te colocam em um humor dançante. Sou um grande fã dos filmes “Matrix”. Portanto, era óbvio produzir uma trilha de filme adequada para mim. Fico feliz que você também goste!

Você ainda usa o Cubase para produzir? Algum motivo específico para permanecer nessa DAW por tanto tempo? O que ela entrega de melhor pra sua música? 

Eu simplesmente comecei com Cubase e não mudaria voluntariamente a DAW novamente. Eu me dou bem com ele e acho que o aplicativo funciona melhor para mim. Sinto que a interface é boa e consigo usar muito bem. Seria desnecessário mudar agora.

Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por Boris Brejcha (@borisbrejcha)

Vi também que sua pandemia foi bastante produtiva em questão de novas produções, mas não deve ter sido fácil ficar longe dos palcos… o que esse momento difícil te ensinou, tanto como artista, como pessoa? 

Para ser sincero, a pausa forçada me fez muito bem. Eu percebi que é bom desacelerar um pouco as coisas e acalmar. Isso normalmente nunca acontece. Mesmo quando estou em casa por alguns dias durante a semana, sempre tem muita coisa a fazer e eu nunca paro. Como resultado, isso tem mudado um pouco. Contudo, me tornei mais tranquilo e agora consigo prestar mais atenção para ter certeza que os finais de semana serão menos estressantes. Para que isso não se torne um risco à minha saúde.

Após todo esse isolamento social, como você imagina que vai ser o mundo daqui pra frente?

Penso que muitas pessoas sentem o mesmo que eu. Você aprende a apreciar mais seu tempo livre e, talvez, tenha uma consciência melhor quanto à saúde e outras coisas. Isso não é uma coisa que vem naturalmente e você tem que se lembrar disso várias vezes.

Ano passado, tirando o remix para Moritz Hofbauer, você não lançou mais nada pela FCKNG SERIOUS. Quando veremos um trabalho novo seu pela sua label? E qual seu atual envolvimento com ela? Você participa diretamente da curadoria, decidindo o que será lançado e o que não? 

Claro. Já que é minha gravadora, estou sempre envolvido em tudo. Sempre estou atualizado e me envolvo onde precisam da minha ajuda. Somos um bom time e, mesmo que eu não lance algo no momento, continuo parte da galera. Mas tenho certeza… um dia estarei de volta!

Boris, obrigado novamente pela entrevista, sei que muita gente irá ler ansiosamente te esperando por aqui mais uma vez. Um último recado para os fãs brasileiros? 

Queridos fãs do Brasil: espero que vocês estejam bem e aproveitem. Tenho certeza que em breve nos veremos novamente. Se cuidem! Muito amor!

Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por Boris Brejcha (@borisbrejcha)

Its All About Groove!

Tags: , , , , , , , , , , ,