por Isabela Junqueira
A sensibilidade de ICLE o direcionou a fecundos rumos explorando camadas da música eletrônica que pairam desde o Downtempo até a House Music e suas variadas nuances, como a Afro. Sensibilidade essa que é atenuada pela habilidade do produtor que além de DJ, também é multi-instrumentista e compositor.
Aproveitamos o futuro lançamento do EP From Lockdown to Relief via selo Underdogs para trocar uma ideia com ICLE. Confira a interessante conversa.
GRVE: Oie ICLE, muito obrigada por topar essa conversa! Vamos começar contextualizando sobre você? Nos conte de onde você é, onde está baseado, como se envolveu com a música…
Eu que agradeço pelo espaço e oportunidade de falar um pouco mais sobre o EP.
Sou natural do Rio de Janeiro, nascido, criado e morador da capital e, até onde me lembro, a música sempre esteve presente. Meu primeiro instrumento foi o violão… Me recordo que na minha primeira aula o professor me passou os acordes de “No woman, no cry” para que eu treinasse e, na aula seguinte, eu havia feito uma música com os acordes e não tinha aprendido a tocar “No woman, no cry” rsrs. Fora a bronca do professor, de certa forma aquilo me mostrou meu direcionamento para área de composição. De lá pra cá, algumas bandas de rock e reggae durante a adolescência até eu decidir ingressar na área da produção musical, no intuito de poder gravar minhas composições… E isso nunca mais parou.
Como você se entrega de vez à música eletrônica e se encontra nessas texturas mais lentas e melodiosas?
Comecei a produzir em uma época que escutava muito Jamiroquai, as compilações do Café del Mar e Tanghetto, e me apaixonei pela originalidade de misturar a música eletrônica com ritmos ainda não explorados por ela. Foi aí que comecei a me dedicar a entender melhor a música eletrônica e suas vertentes… Não é uma coisa simples.
Gosto muito de usar texturas inusitadas em ritmos percussivos, é uma forma de ditar o “mood” da track e direcionar melhor a atmosfera que quero passar, trazendo personalidade ao arranjo. Quanto à parte melódica, sempre gostei de músicas com melodias fortes e inversão de acordes, creio que isso vem um pouco do meu gosto musical e acabo passando para as minhas canções.
Bem em breve veremos pelas plataformas o EP From Lockdown to Relief. Antes de entrarmos em aspectos mais técnicos, fala um pouco sobre a motivação para o nome e a mensagem por trás.
A pandemia trouxe uma certa folga nos deadlines e, durante esse período, acabei iniciando diferentes tracks ao mesmo tempo. Comecei a faixa tema no início do lockdown e notei que, instintivamente, tinha dado a ela uma atmosfera mais reflexiva, passando um pouco da ansiedade daquele momento pra música. Então tive a ideia de um processo criativo em “timeline”, pra tentar exprimir os diferentes sentimentos que tive durante o processo pandêmico do início ao fim, “From Lockdown to Relief”. A música acabou tomando bastante tempo, e fui finalizando conforme os diferentes eventos da pandemia ocorriam, e gostei do resultado final, pois realmente acredito que a música passa aquele momento de reflexão inicial “do que vai ser?”, seguido de uma atmosfera de paciência, posteriormente de dúvida, de luto, de homenagem, de fé e de alívio/alegria pelo fim de um momento difícil de nossa história.
E como você formulou essa entrega? São quantas faixas e quais aspectos sonoros você trouxe no sentido de construir a harmonia das faixas?
Tudo começou com “From Lockdown to Relief”, que mostrei primeiramente pro Morgado… Ele falou que estava num climão “Teardrop, do Massive Attack” e eu falei “Então vamos lançar pra ontem!”.
Em paralelo, eu estava super empolgado com as aulas de percussão na época e tinha começado um experimento de misturar música eletrônica com Maracatu… Daí surgiu “Children”.
Durante o processo criativo de “Children”, comecei a sentir uma certa inocência na melodia, e me veio a ideia das crianças, então a letra da música acabou virando minha experiência como Pai, vendo minha linda filhinha Victoria crescer até seus atuais 2 anos. Me encantei com a verdade na letra, mas precisava de um vocalista à altura, acionei o Morgado de novo que me apresentou o Lawrran, foi só escutar a voz do cara e o círculo fechou.
O grego DSF te acompanhou nesse EP, remixando uma das faixas, não é? Como se deu esse encontro e quais as suas impressões pra interpretação dele?
Na Underdogs tentamos acrescentar ao trabalho a participação de artistas que respeitamos e o DSF já vinha chamando nossa atenção há algum tempo. Quando conversamos com ele e mostramos a ideia do EP ele se identificou, principalmente com “From Lockdown to Relief”. Quando escutei o remix pela primeira vez, tive imensa gratidão e admiração pelo trabalho que o cara fez… Ele aumentou o bpm significativamente, usou elementos que contextualizam a música original e ainda trouxe um arranjo mais “pista”… Eu não podia pedir mais pra um remix!
E como têm sido a condução do lançamento juntamente da Underdogs?
Morgado lidera a parte de condução dos lançamentos na Underdogs. A troca tem sido intensa com ele, para antecipar da melhor forma possível e informar às pessoas que gostam do nosso trabalho o que está por vir.
Quer nos dar alguns spoilers sobre o que podemos esperar de você para 2022? Muito obrigada pela conversa, ICLE!
A gente tem muitas músicas prontas esperando seu momento rsrs… Parcerias minhas com os artistas da Underdogs como o Bernardo e o Morgado, além de parcerias com outros artistas nacionais e internacionais. Temos planos pro Carnaval, para o verão europeu, para as festividades em terras brazucas no meio do ano, que são embaladas pelos ritmos nordestinos, enfim, estamos focados em fazer músicas com as quais nos identificamos e levar boas energias!
O que posso garantir é que faremos mais músicas!