Collabs, colaborações, parcerias… É assim que chamamos o processo de construção de uma faixa que inclui dois ou mais artistas na produção. O processo é adotado por grande parte dos produtores, gerando uma fusão interessante e criativa de identidades distintas em sintonia dentro de estúdio. Porém, o processo que era comum ser executado a partir do encontro dos artistas dentro do estúdio, passou a ser ressignificado durante a pandemia e o distanciamento social, e mesmo assim, muitos artistas provaram que a collab à distância pode ser tão efetiva quanto a collab presencial.
Redu X é um dos produtores que apostou no método para seu mais novo lançamento. A faixa “Somebody” leva a parceria entre ele, HAAS e a cantora Tayla Maturo, três produtores situados em diferentes partes do Brasil e Estados Unidos, que somaram suas referências e experiências para um resultado emocionante. A faixa já está disponível nas principais plataformas e inclusive entrou na playlist editorial do Spotify, Novos Beats.
Hoje, Redu X está aqui para lançar algumas dicas de como produzir uma collab a distância de forma efetiva, organizada e produtiva, assim como nos moldes presenciais. Atenção produtores, confira!
Redu X
“Gratidão pelo espacinho GRVE, espero que estas dicas possam de alguma forma ajudar e até mesmo inspirar os produtores, principalmente os mais iniciantes, em como desenrolar collabs interessantes, cada um dentro de seus próprios home studios”.
Organização
Organização é fundamental para qualquer tipo de trabalho, ainda mais à distância. Na produção musical, ser organizado é crucial para conseguir manter as ideias bem alinhadas com seus companheiros de track, tendo isso em mente desde o início, te traz o benefício de você se inspirar e focar mais no criativo com seus parceiros, ao invés de ficar deixando tudo pra depois, ou pior, fazer os seus companheiros perderem tempo com isso!
Então, procure sempre na medida do possível antes de qualquer envio de projeto, deixar seu arranjo bem ajeitado visualmente, com o tom da música e o BPM no nome do projeto, às vezes já estruturado, com cores e pastas para instrumentos, grupos, samples, etc. Esses são só alguns exemplos que fazem total diferença e vejo que muitos produtores não se importarem, coisas que podem parecer bobas, mas que abrem espaço principalmente pro criativo aflorar. Mas, lembre-se que além de você, quem estará colaborando contigo irá mexer no seu projeto também e não gostaria de receber tudo bagunçado, certo?
Comunicação
Com certeza é o fator principal em qualquer trabalho coletivo, as vídeo chamadas, whatsapp, skype ou qualquer outro meio por mídia social que possa auxiliar na comunicação entre todos, com certeza será o seu maior aliado no quesito distância! Sugerir ideias, mandar áudios, abrir calls pra conversarem mais sobre o tema ou inspiração na criação da música provavelmente será algo recorrente.
Em “Somebody”, na época do desenvolvimento, Tayla estava morando em Nova York e pra alinharmos o vocal dela dentro do projeto da música, sempre conversávamos muitos entre nós, e ela sempre nos mandava vários novos guias e testes para que experimentássemos na produção, inclusive dicas de como ela gravaria seu vocal, como ela poderia gravar sua voz com uma acústica bacana dentro do próprio quarto, formato que ela nos enviaria os arquivos, sugestão de interpretação na voz com base na ambientação e clima que o arranjo passava… tudo isso foi realizado por via de vários áudios no whatsapp para formatarmos nossas ideias e chegar em algo que agradece a todos.
Outro ponto importante que eu acho legal em citar é procurar ter um bom inglês, pelo menos o essencial para que você consiga conversar (o google tradutor está aí pra te ajudar nisso também, rs), com certeza te abrirá novas oportunidades para colaborar com produtores nativos de outros países.
Pratique o desapego
“Colabar” as vezes é abrir mão também de certas manias, aceitar novas ideias, sugestões, modificações… obviamente que já tendo um objetivo muito claro pro rumo que a música irá tomar! Então entenda que é importante sempre haver um espaço vago para que seu parceiro consiga preencher sua parte com suas próprias ideias e ele possa se expressar mais livremente por meio do esboço e construção da música, ainda mais imaginando que ele não estará ali do teu lado próximo a você para dar o ponto de vista dele.
Às vezes, dividir funções pode vir a calhar, além de otimizar o trabalho, como por exemplo: “eu faço as melodias, você faz a bateria, eu completo o arranjo, você faz a mix, eu faço a master” e etc. Aceitar novas sugestões de alterações do que você já realizou pode vir a acontecer, e abrir mão em momentos como estes pode ser bom pro resultado final do trabalho, porque muitas vezes o seu companheiro pode enxergar algo que você não estava enxergando e vice e versa, mas claro que ambos devem ter um bom senso e isso nunca jamais deve ser uma disputa de ego. Pedir permissão para alterar algo que o outro já fez também é importante, afinal, vocês estão colaborando!
Compartilhe conhecimento com novos produtores
Conhecer e compartilhar faz parte da arte de colaborar, talvez nesse sentido a distância até mesmo enalteça isso pelo fato da internet proporcionar você de conhecer uma vasta comunidade de novos produtores, então não seja aquela pessoa de visão fechada, abra espaço para outros e para si mesmo, não fique somente fazendo trabalhos novos com os mesmos artistas sempre, todo mundo sai ganhando, acredite.
Claro que é necessário existir sinergia, ambos em busca dos mesmos propósitos, inclusive após o trabalho ser finalizado na busca por algum selo, por exemplo, não deixe as responsabilidades apenas para o outro e nem para si mesmo, na minha opinião, uma música colabada é a mistura de um pouquinho de cada artista impresso ali na faixa.
Se divirta — ou melhor: divirtam-se!
Pra mim, o significado de música é de união e diversão. Às vezes com amigos ou até com pessoas que você nunca teve contato, inclusive dentre quem as criam! Se divertir pra mim é um fator primordial no desenvolvimento de um trabalho coletivo, então divirta-se com seus parceiros, crie laços e amizades, esse tipo de afeto e colaboração pode acabar se estendendo em mais outras parcerias e o vínculo pode se perdurar por anos ou pela vida inteira, a magia da collab pra mim mora aí, é um aprendendo com o outro, ambos se desafiando e testando coisas novas, e por mais irônico que pareça cada um estando distante fisicamente do outro, isso abre possibilidades para sair da zona de conforto e se atrever mais, se inspirando em outras sonoridades e por aí vai.
Meu ponto é, aproveite a jornada, curta e aproveite a criação do seu novo trabalho com seus companheiros e novos amigos, o importante no final das contas é se divertir juntos! Obrigado novamente, GRVE.