Conversamos com Yola, produtor brasileiro que usa a sensibilidade como pilar nas suas composições

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Por em 8 de setembro, 2021 - 08/09/2021

Yola é um dos artistas que consegue inspirar o ouvinte de uma maneira diferente. Mergulhado sob uma gama de referências musicais que não se prendem às convenções mais objetivas de pista, o produtor imprime uma assinatura singular e muito profunda, aspecto que chamou a atenção de uma das estrelas do circuito mundial, como Dixon.

O paulista, que também tem passagens registradas através das gravadoras Cocada e Get Physical, agora nos presenteia com uma faixa que reafirma seu ótimo momento como produtor: “Say It”. Enquanto você escuta o novo single, pode mergulhar nesse bate-papo que tivemos com ele para sair com um banho de inspiração.

Muitas pessoas já devem ter questionado a você, mas gostariamos de reafirmar essa pergunta aqui para iniciarmos. Seu nome é inspirado na banda americana Yo La Tengo, gostaríamos de saber como começou essa paixão e como de fato ela despertou seu interesse para dar start neste projeto dentro da música eletrônica…

YOLA: Oi pessoal! Então, quando eu tinha uns 11 anos comecei a tocar guitarra e andava de skate também, sempre curti ouvir muito bandas mais alternativas e etc. Com uns 17 anos montei uma banda com um amigo numa fase meio emo [risos], escutando Armor For Sleep, The Applessed Cast, Thursday… e nessas de ir atrás de bandas acabei conhecendo e me apaixonando por Yo La Tengo. O jeito despretensioso e a pegada bem emotiva me chamou a atenção. 

Em 2014 fui num show sensacional deles no Cine Joia, em São Paulo, foi um daqueles que me marcou muito. A banda em si não me influenciou em começar a fazer uns sons mais eletrônicos, mas foi mais algo que marcou muito minha infância. 

Pra voltar a produzir, o que mais me moveu foi a paixão em tentar fazer o que eu sempre mais amei,  música. 

Bem, hoje sua identidade musical mistura uma gama de estéticas, vertentes e gêneros musicais, e não arriscaríamos defini-la sob um rótulo específico. Por isso vamos deixar essa questão contigo agora: se fosse possível criar um rótulo novo musical, que definisse sua assinatura sonora dentro de estúdio, qual seria ele?

Nossa, que difícil… parece meio clichê falar que não quero me rotular e tal, mas é que… não sei. Acho que esses gêneros musicais fazem mais sentido para os sites de venda de música, pra poder criar categorias, etc. Quando sento pra criar, realmente não fico pensando em qual tipo de som eu vou fazer…acho que o processo criativo acaba sendo a mistura do que tenho ouvido, com a minha situação mental, as questões e dificuldades que passo… 

Durante o processo não fico me forçando a seguir algum caminho, nesse último single rolou isso, comecei querendo fazer algo mais breakbeat, tinha isso em mente, e durante a produção teve horas que a música estava bem experimental, mas com o passar do tempo ela acabou ganhando um caminho mais pop também. Eu deixei isso rolar naturalmente porque era o que conseguia expressar na hora, então deixei rolar e o resultado final acabou meio que aceitando esse processo, seja ela mais pop, mais triste, mais feliz…

Mas, se fosse pra tentar colocar algum nome, poderia falar que é uma mistura de um monte de coisa que escuto: electronica, breakbeat, downtempo, organic house, uk garage, deep house, IDM…. no fim das contas as pessoas querem se emocionar com o som, não importa qual categoria ele está.

Falo isso pensando em várias músicas que estão para sair ainda, então talvez esses nomes todos ainda não fazem muito sentido sem os próximos sons que vou lançar, rs. 

E você possui um laço estreito com a espiritualidade, em especial com as linhas tibetanas do Budismo. Essa aproximação e integração espiritual que você incorpora em sua vida, de que forma ela influencia sua criatividade e sua forma de trabalhar com a música?

Hm… acho que acaba influenciando paralelamente, talvez no subconsciente. Qualquer forma artística é um reflexo mental e interior de cada um, como nós experienciamos o mundo e tal. Então, seguir um caminho espiritual que é baseado em treinar e conhecer a mente acaba trazendo insights indiretos no processo, porque no fundo no fundo, produção é ralação, é ficar horas no estúdio, lidar com frustração, com bloqueio, etc., e talvez a espiritualidade pode ajudar nisso tudo.

Capturar aspectos mais subjetivos e conseguir imprimi-lo através da linguagem musical não é uma tarefa tão simples, mas você é um artista que sabe traduzir muito bem diversos sentimentos e emoções através de suas faixas. Qual é o seu “ritual” na hora de conceber as ideias de cada composição?

Então, não tenho algo muito definido, na real acho que é uma grande bagunça, rs. Às vezes, depois de ouvir uma música ou ver um show seja ao vivo ou na internet, fico emocionado, acabo abrindo o Ableton e saio fazendo o que vem na mente naturalmente, tem horas que saem ideias que gosto muito e sigo em frente, tem horas que sai muita loucura que no dia seguinte desisto.

Como ainda não vivo da música, acabo usando horas que tenho livre para entrar de cabeça e tento colocar tudo pra fora de uma vez. O que tenho feito também é trabalhar pela manhã, quando a cabeça está descansada e não foi influenciada pelo stress do dia-dia, acho que as manhãs trazem essa sensação de renovação e isso tem facilitado a colocar as ideias pra fora.

Sua faixa “Khulu” foi notada e recebeu o suporte de um dos “superstars” da música eletrônica mundial. Como foi ao saber dessa notícia que o Dixon havia incluído sua faixa na playlist dele? Quando algo desse tipo acontece, qual a sensação que vem até você, analisando todo o esforço e determinação que levou você chegar até aqui?

Eu entrei no instagram num dia qualquer e tinha uma notificação, quando cliquei pra ver era do Dixon me marcando em um stories, achei que era algum bug sai e entre de novo e quando fui ver era isso mesmo, ele tinha adicionado minha música “Khulu” na playlist “Track IDs” e acabou achando meu instagram e me marcando… fiquei emocionado e sem saber direito o que fazer. Foi um momento único quando fui contar pra minha mãe, explicar pra ela quem era o Dixon, ela até chorou, rs. 

Ela e meu pai sempre me apoiaram muito na música e sempre souberam o quanto eu amo tudo isso, então por mais que ela não soubessem quem era ele, ela estava feliz em ver como eu estava feliz. Por outro lado, trouxe uma vontade enorme em compartilhar todas músicas novas que tenho feito.

Como você falou lá no começo, sua nova “Say It” vem com algumas características do Pop, mas também traz a sua identidade musical inerente, misturando alguns aspectos orgânicos com timbragens analógicas. O que te inspirou a produzir essa faixa em específico?

Pois é, na real ela era bem experimental no início, mas durante a produção acabou ficando um pouco mais pop naturalmente e eu curti muito isso, gosto dessa mistura de mundos…


Estava ouvindo bastante coisa com tempos mais quebrados, introspectivos e tals, aí comecei ela a partir de um vocal do Ale Sater. Gravei uns vocais dele para uma música minha antiga, peguei esse vocal e processei bastante para conseguir umas texturas, gravei uma guitarra também e depois as harmonias…

Se fosse para citar as principais referências que serviram de base para sua “Say It” , quais seriam elas?

Difícil, mas vou citar artistas que estava escutando muito como Ross From Friends, Overmono, Tom Vr, Aleksandir e Bicep.

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Por falar em timbragens orgânicas e analógicas, você tem um apreço especial por sintetizadores, o que é notável em grande parte de suas faixas. Tem algum específico que seja seu favorito?

De VST eu gosto muito do Omnisphere, dos Arturias, do Korg Odyssey… aqui no estúdio tenho um OP-1 da Teenage Engineer que uso para algumas coisas também.

E quanto aos novos passos, para onde YOLA está caminhando e onde ele busca chegar?

Tenho 4 músicas prontas já, uma delas vai sair pela Kindisch que é um braço da Get Physical lá de Berlim. Pra esse single vou gravar um clipe e outras surpresas mais… to bastante empolgado com esse lançamento e não vejo a hora de mostrar tudo o que estou trabalhando.

As outras 3 músicas são um EP e ainda não posso falar onde vai sair… Continuo produzindo, tenho mais algumas músicas encaminhadas e quero soltar bastante do que tenho feito nesses últimos anos. Quero muito tocar ao vivo também, levar minha música para o maior número de pessoas e lugares possíveis! <3

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