Bertoldi: um jazzista que se apaixonou pelas melodias da house e do techno

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Por em 22 de julho, 2021 - 22/07/2021

Instrumentista desde a juventude e aluno de diversas grandes escolas de música, o curitibano vem se destacando com suas primeiras músicas e seu projeto live

A grande maioria dos produtores de música eletrônica de pista não tem um background forte com formação em música e teoria musical. Obviamente, não é necessário para fazer sucesso, mas quando se tem, é um diferencial impactante. É este o caso do curitibano Vitor Bertoldi, músico profissional desde 2017, que depois de uma longa trajetória no jazz, lançou-se como Bertoldi — seu projeto solo de house/techno melódico, que preza por ritmos envolventes, melodias hipnóticas e harmonias que tocam.

Assim como muitos músicos, Vitor começou sua relação com a arte ainda criança. Aos sete anos, estudava violão, mas acabou largando em detrimento aos esportes. Aos 13, se interessou pela bateria, e aos 15, quando se mudou com a família para Nova Iorque, a parada ficou mais séria. Passou a ter aulas com o famoso baterista Jason Gianni, e práticas de quatro horas por dia.

Após um breve hiato na vida nova-iorquina — voltou para Curitiba para terminar o Ensino Médio —, matriculou-se no conservatório Collective School Of Music, que além de Gianni, teve outros professores que “realmente moldaram quem eu sou e que me fizeram ter um contato mais profundo com o jazz”, como ele conta. De lá, foi aceito na conceituada New School, também em Nova Iorque, onde teve por dois anos “a oportunidade de conhecer e tocar com músicas que admirava muito, como Reggie Workman, Jimmy Owens, Roy Hargrove e Victor Lewis“.

Segundo ele, foram quatro anos muito intensos e de muito aprendizado em Nova Iorque — uma cidade que respira jazz, e onde ele tinha a oportunidade diária de tocar em alguma gig ou jam session. “Poder ir em uma jam session e tocar com alguém como Roy Hargrove é algo que realmente só acontece em Nova Iorque. Por lá, também tive a oportunidade de me apresentar com meu próprio quarteto em lugares muito legais, como o Shapeshifter Lab. O processo inteiro foi muito desafiador e cheio de incertezas, porém eu nunca deixava elas me abalarem e estava sempre tentando extrair o máximo de cada situação”, narra.

“Depois de dois anos, decidi que queria voltar ao Brasil e me aprofundar na música brasileira, principalmente a música do Hermeto Pascoal. Me inscrevi para o Conservatório de Música de Tatuí [no Estado de São Paulo], onde tive aula com professores excelentes, como André Marques, Rodrigo Digão Braz e Banha. Porém, não me adaptei muito à vida no interior e decidi me mudar para São Paulo para tocar mais gigs e conhecer mais pessoas”, segue.

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Eis que chegou 2020 e, com ela, a maldita pandemia que transformou nossas vidas. Mas assim como muitos artistas, Vitor enxergou nela uma oportunidade para se reinventar. De volta à sua cidade natal e impossibilitado de tocar com outras pessoas, resolveu montar seu projeto solo, fazendo algo que nunca tinha feito antes. Assim, teve a ideia de unir o exótico handpan (instrumento percussivo criado no fim dos anos 2000, que Bertoldi já usa há mais de cinco anos) com música eletrônica — estilo que ele sempre gostou, embora nunca tenha pensado em ser DJ.

A partir daí, passou a estudar produção musical e apresentação no formato live com ninguém menos com L_cio. E não precisou de muito tempo para que começasse a se destacar. Em fevereiro deste ano, lançou sua primeira faixa, “Caapi”, pela coletânea “Spread 001”, da Levels Rec. Em junho, foi convidado para se apresentar no Alataj Lab, do conceituado portal de música eletrônica underground. E mais recentemente, no dia 02 de julho, lançou seu primeiro EP — “Nothing More” — pela Prototype Music, com três faixas originais e um remix do DJ e produtor italiano Att/Kal.

De acordo com o produtor, quando ele descobriu a gravadora do duo Innure, escutou alguns releases e achou que se encaixava com a sua proposta: “Aí mandei as faixas para eles e fiquei feliz com a notícia de que queriam lançar todas!”.

“Esse primeiro EP vem carregado de melodias e texturas. Fiquei uns três meses produzindo as faixas. Foi um processo um pouco lento, pois foi o meu primeiro contato com a produção de música eletrônica. Como o conhecimento teórico eu já tinha, foi só questão de alinhar os conhecimentos técnicos de produção, que venho afinando cada vez mais”, continua Bertoldi — que também falou sobre a colaboração de Victoria Cerrid, que dá a voz a “Use My Youth”. 

“No tempo que passei em São Paulo, eu morava em uma casa com alguns amigos músicos, e um deles era a Victoria. Quando resolvi que queria um vocal para minha faixa, o nome dela veio na minha cabeça direto. Vocês ainda vão ouvir muito falar dessa cantora!”, promete. 

Influenciado pelos grandes professores que teve, bem como por jazzistas como Hermeto Pascoal, Miles Davis, Egberto Gismonti e Bill Evans, e produtores como L_cio, Henrik Schwartz, Colyn e KiNK, Bertoldi desenvolveu um live act bastante original, baseado em synths e o seu inseparável handpan.

“No meu projeto live, eu tenho todas as minhas músicas fragmentadas por canais, e posso dispará-los como eu quiser. Então mesmo que eu toque as mesmas faixas, eu tenho muita liberdade para arranjá-las cada vez de uma forma diferente. Na apresentação, eu uso também o handpan para tocar melodias, e um teclado midi para tocar synths ao vivo. Acho sensacional poder não contar apenas uma história para a pista, mas a minha história, das minhas músicas, do meu jeito”, explica.

“A minha história com a música eletrônica é um pouco diferente da maioria dos produtores. Quando fui produzir as minhas tracks, eu já tinha um conhecimento que me permitia criar as músicas com facilidade, mas como eu nunca escutei e estudei muito sobre os diferentes estilos de música eletrônica, eu não fiquei preso neles, e pude criar algo que realmente viesse da minha cabeça”, complementa, falando sobre o que acredita ser um diferencial.

Por isso, mesmo já tendo se apresentado anteriormente em diversos pontos de renome com seus grupos de jazz ou sozinho com o handpan, como Teatro Guaíra, Vale da Música, Palco dos 5 Sentidos, Yada Yada Yada, Full Jazz, Expo Barigui e o próprio Shapeshifter Lab, ele acredita que é a partir do projeto atual que conseguirá alcançar mais pessoas. Enquanto fica no aguardo da erradicação da Covid-19 no Brasil, segue focado no estúdio, produzindo mais e mais.

“Pretendo continuar evoluindo como artista e ser humano, levando o meu live e as minhas músicas para cada vez mais pessoas”, conclui.

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